O papel da mídia na construção da barbárie. Artigo de Maurício Abdalla

Protestos em 2016 contra a emissora Rede Globo, que foi o principal braço midiático do golpe. (Foto: Mídia Ninja)

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

13 Janeiro 2023

"Para não esquecer: a velha mídia, que hoje denuncia corretamente o terror bolsonarista, teve papel central em transformar o 'capitão' num político aceitável – e normalizar rupturas institucionais. A escolha não era tão difícil assim…", escreve Maurício Abdalla.

Maurício Abdalla é filósofo e doutor em Educação, professor do departamento de filosofia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Também é membro da Rede Nacional de Assessores do Centro de Fé e Política Dom Helder Câmara (CEFEP/CNBB) e do Projeto Novos Paradigmas de Desenvolvimento (ABONG/ISER Assessoria).

Eis o artigo.

Não podemos esquecer que todo o terror político que hoje vivemos começou quando as empresas de mídia, deliberadamente e no cumprimento de sua parte na construção do golpe suave de 2016, criminalizaram uma agremiação política e as bandeiras a ela vinculadas. Transformaram Lula, um líder político histórico, em um criminoso.

Depois, para evitar o retorno do PT em 2018, essas mesmas empresas trataram o crime verdadeiro (as milícias e o fascismo latente) como política, e transformaram um criminoso histórico, Jair Bolsonaro, em político, forjando uma falsa simetria entre os projetos que disputavam as eleições.

O desastre republicano que hoje presenciamos foi resultado desse trabalho na cabeça de um povo despolitizado, acostumado a torcida de futebol, Big Brother, novelas, discussão de botequim e barracos em condomínios ou na vizinhança. Essa ação acabou por transformá-los em agentes políticos.

Não foi Bolsonaro quem primeiro mobilizou essa turba ensandecida. Foi ela, hipnotizada primeiro pelas empresas de comunicação convencionais, que o escolheu como totem. Só posteriormente, já reunida em torno de um líder forjado, que ela foi sequestrada pelos grupos de WhatsApp e o gabinete do ódio.

Os jornalistas são apenas trabalhadores das empresas de comunicação, mas muitos deles fizeram esse trabalho sujo com muita convicção. Espero que agora reconheçam a grandeza de Lula como estadista e ajam como imprensa e não como agentes políticos ou meros puxa-sacos que fazem discurso para agradar patrão.

É hora da mídia reparar o erro catastrófico de ter contribuído para transformar um político em criminoso e um criminoso em político.

Leia mais