03 Janeiro 2023
"Para prosseguir com a Opção Francisco, então todos nós precisamos justamente do sonho de uma Igreja que volte a ser "mãe": ou seja, o sonho de uma Igreja que volte a gerar filhos e filhas para a fé, uma Igreja que seja cada vez mais um lugar onde qualquer pessoa possa se encontrar com o evangelho de Jesus e com o Jesus do evangelho e se apaixonar por ele."
A opinião é de Armando Matteo, professor de Teologia Fundamental da Pontifícia Universidade Urbaniana e subsecretário adjunto da Congregação para Doutrina da Fé, em artigo publicado por Settimana News, 31-12-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Uma das principais notas da Opção Francisco diz respeito à assunção de uma atitude realista diante da situação atual da Igreja, especialmente aquela no Ocidente. É tempo de reconhecer que, como comunidade de crentes, falhamos justamente no cerne da nossa missão: já não somos capazes de fazer novos cristãos e novas cristãs.

Coluna "Opção Francisco", publicada mensalmente pela revista italiana Vita Pastorale . (Foto: Reprodução)
Os dados sociológicos sobre os sentimentos religiosos e cristãos das novas gerações são decididamente inquietantes. Mesmo frequentando o nosso catecismo, mesmo participando da vida paroquial e dos oratórios, chega um momento em que nossos pequenos nos abandonam e vão embora. Não se trata, na verdade, de uma rejeição consciente e explícita da religião cristã. Mais simplesmente acontece que não sabem para que pode servir uma coisa como a religião cristã, quando deixam de ser crianças, enfim, quando começam a crescer.
Aqui cruzamos com o nervo exposto da crise do cristianismo ocidental: a nossa dificuldade em interceptar as demandas e a busca de sentido dos adultos e das adultas de hoje, profundamente reformuladas após a mudança de época que nos coube viver. A essas demandas e a essa busca de sentido continuamos a dar aquelas respostas que funcionavam bem para os pais e os avós dos adultos e das adultas de hoje.
Para enfrentar tudo isso, é necessária justamente aquela mudança radical de mentalidade pastoral que está no centro da Opção Francisco. É urgente mudar, em breve, se quisermos viver à altura da nossa missão e se ainda desejarmos gerar novos cristãos e novas cristãs. Toda mudança, porém, é sempre acompanhada por um sentimento natural de medo, com o qual agora está na hora e acertar as contas.
Certamente não se deve demonizar o medo. Em vez disso, deve ser dominado antes que nos domine e nos paralise. Mas como se domina o medo? Contra o medo, deve-se recorrer ao poder dos sonhos. Sim, ao poder dos sonhos!
Os sonhos, de fato, têm um poder premonitório: antecipam e abrem novos cenários e novas possibilidades. Eles têm o poder de transformar a realidade ao mesmo tempo em que nos permitem imaginá-la diferentemente de como ela se manifesta para nós, quando não estamos sonhando.
Os sonhos acendem uma luz para a escuridão que poderia vir ao nosso encontro no caminho; permitem vislumbrar um horizonte maior para o esforço que poderíamos enfrentar; constróem uma alternativa contra aquela prepotência com que tantas vezes a realidade se apresenta para nós.
Para prosseguir com a Opção Francisco, então todos nós precisamos justamente do sonho de uma Igreja que volte a ser "mãe": ou seja, o sonho de uma Igreja que volte a gerar filhos e filhas para a fé, uma Igreja que seja cada vez mais um lugar onde qualquer pessoa possa se encontrar com o evangelho de Jesus e com o Jesus do evangelho e se apaixonar por ele.
A Opção Francisco coloca-nos, portanto, diante de uma pergunta muito simples, mas muito fecunda para o cristianismo futuro: ainda temos um sonho para esta nossa Igreja? Ainda temos um sonho para a fé possível de nossos pequenos?
Comentário
Fabio Cittadini, 1º de janeiro de 2023
É verdade que a Igreja deve voltar a ser mãe, ou seja, deve ser capaz de gerar cristãos em todas as latitudes e longitudes. No entanto, os sonhos são úteis porque, graças ao poder da imaginação, podemos transformar a realidade. O medo existe: é evidente. Mas falta aquele impulso propulsor e propositivo para dar vida a uma nova – no sentido de renovada – Igreja. Mais do que sonhos, falta combustível.
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Opção Francisco. Precisamos de um sonho. Artigo de Armando Matteo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU