No altar da egolatria. “Opção Francisco”, por Armando Matteo

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24 Junho 2022

 

"Não podemos deixar de frisar a influência decisiva que o sistema econômico vigente exerce na atual deriva egolátrica do humano. É um sistema que atua cada vez mais se alavancando não só sobre o que deve vender, mas também sobre quem deve comprar o que ele vende", escreve o teólogo italiano Armando Matteo, professor de Teologia Fundamental da Pontifícia Universidade Urbaniana e subsecretário adjunto da Congregação para Doutrina da Fé, em artigo publicado para a coluna Opção Francisco da revista Vita Pastorale, 23-06-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Leia também, em português, o primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto e o quinto artigos da série.

 

Eis o artigo.

 

Neste ponto da nossa ilustração da Opção Francisco, que provoca os crentes a uma maior consciência das dinâmicas antropológicas em curso hoje, acompanhando a mudança da época, vamos tentar fazer uma síntese. E fazemos isso com uma pergunta: qual é o traço mais distintivo do ser humano nesta época da história?

 

A morte do próximo

 

Também nesse caso vem ao nosso encontro uma palavra esclarecedora do Papa Francisco: “A criatura humana hoje parece encontrar-se numa passagem especial da própria história […]. O traço emblemático dessa passagem pode ser sinteticamente reconhecido na rápida difusão de uma cultura obsessivamente centrada na soberania do homem - como espécie e como indivíduo - em relação à realidade. Há quem fale até de egolatria, isto é, de um verdadeiro culto do eu, em cujo altar se sacrifica tudo, inclusive os afetos mais caros. Essa perspectiva não é inofensiva: ela molda um sujeito que se olha continuamente no espelho, até se tornar incapaz de voltar os olhos para os outros e para o mundo”.

 

Essa consideração nos convida a tomar consciência de que as novas condições de vida oferecidas hoje aos cidadãos ocidentais, que como nunca antes na história sentem um forte sentimento de liberdade e de unicidade, também levam a um aumento do índice de individualismo e egoísmo que circula entre nós. Ou seja, deixa-se entrever, nos pensamentos e nas ações do cidadão comum, uma espécie de culto do próprio eu, em cujo altar estamos de fato dispostos a sacrificar até os afetos mais caros.

 

Tal diagnóstico relembra bem de perto aquele oferecido, em anos recentes, por outros estudiosos da paisagem contemporânea. Estou pensando em Colette Soler que denuncia a nociva propagação, nas sociedades ocidentais, de um terrível "narcisismo"; ou a Luigi Zoja que publicou um pequeno, mas agudo ensaio intitulado "La morte del prossimo" ("A morte do próximo", em tradução livre). Em suma, nos comportamos como se o outro e os outros nada tivessem a ver com a realização plena de nossa humanidade. Portanto, avança a ilusão de poder simplesmente bastar para nós mesmos para uma vida plena, completa e humana.

 

Egolatria cultivada (e remunerativa)

 

Essa primeira síntese dos efeitos globais da mudança de época já nos abre para a segunda grande questão que envolve a Opção Francisco: aquela que diz respeito ao destino da religião cristã sob tais condições socioculturais realmente inéditas e inauditas. Daremos atenção a isso nas próximas intervenções da coluna.

 

No entanto, não podemos deixar de frisar a influência decisiva que o sistema econômico vigente exerce na atual deriva egolátrica do humano. É um sistema que atua cada vez mais se alavancando não só sobre o que deve vender, mas também sobre quem deve comprar o que ele vende.

 

E esse nível endossa generosamente - graças à cultura de massa e ao grande império da publicidade - modelos antropológicos fortemente individualistas e egoístas. Quanto mais o consumidor estiver convencido da unicidade e preciosidade de si mesmo, mais ele estará disposto a comprar para si coisas úteis, inúteis e até mesmo nocivas! Em suma, a egolatria faz o dinheiro girar - e muito.

 

 

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