“Quem contará a história de Jesus?” A pergunta (pertinente) do Cardeal Tagle abre o Encontro pelos 400 anos da Propaganda Fide

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18 Novembro 2022

Quem contará a história de Jesus? Que palavras e que meios se encontrarão para contá-la nos novos mundos contemporâneos marcados pela inteligência artificial e digital, extremismo polarizador, indiferença religiosa, imigração forçada, desastres climáticos? A pergunta, perturbadora, mas pertinente, ressoou na Aula Magna da Pontifícia Universidade Urbaniana na tarde de quarta-feira, 16 de novembro.

O cardeal Luis Antonio Gokim Tagle a apresentou na conclusão do discurso proferido na sessão inaugural do encontro internacional "Euntes in mundum universum", organizado pelos 400 anos da instituição da Sagrada Congregação de Propaganda Fide, o Dicastério para as missões instituído pelo Papa Gregório XV em 1622. As perguntas do Cardeal ficaram em suspenso e em aberto, sem buscar refúgio em respostas previsíveis, no silêncio da plateia lotada até as últimas filas por palestrantes, congressistas e estudantes das universidades pontifícias.

A reportagem é de Gianni Valente, publicada por Agência Fides, 17-11-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

Com seu discurso singular, colocado como premissa de um programa intenso, repleto de palestras e intervenções de alto nível acadêmico, o cardeal Tagle trouxe a história secular de Propaganda Fide de volta à missão de “contar a história de Jesus ao mundo”, fonte e razão existencial daquela instituição romana que hoje se funde, com sua bagagem de história e competências, no Dicastério para a Evangelização. “Estamos celebrando não uma história que termina, mas uma história que continua” já havia dito antes dele o Padre Leonardo Sileo, Magnífico Reitor da Urbaniana, em sua saudação inicial aos participantes.

Abordar a longa história da Propaganda Fide - começou o discurso do Cardeal Tagle - levará os participantes do encontro a "ouvir muitas histórias, algumas já conhecidas por nós, outras que resultarão bastante novas". Toda a contribuição do cardeal filipino quis atestar como a trama íntima de cada história individual e coletiva se tece justamente em torno do “contar histórias” e seus efeitos, inclusive a história da Salvação.

A História - disse o cardeal Tagle entre outras coisas - é feita de histórias, "e o Evangelho também está cheio de histórias". A vida humana "é inimaginável sem histórias", ela mesma tem "uma estrutura narrativa". E isso vale também para a vida de uma instituição como a Propaganda Fide. Além disso, toda história é real e parece persuasiva em si mesma quando se baseia na experiência, quando repropõe a experiência "em primeira mão" de quem a conta, que estava presente quando os eventos aconteceram e foi uma "testemunha ocular".

Assim, todos nós "contamos as nossas melhores histórias quando elas partem de nossa experiência". Da mesma forma, a história da Propaganda Fide e as histórias da missão também têm a força para serem narradas por testemunhas oculares que deixaram vestígios preciosos nos vários arquivos da Congregação, arquivos que serão digitalizados - anunciou o Cardeal - também para serem compartilhados e disponibilizados a estudiosos e pesquisadores.

As histórias contadas - acrescentou o cardeal Tagle continuando sua reflexão - revelam a identidade de quem as conta, "junto com a dos acontecimentos e das pessoas que a moldaram". Elas revelam quem somos e para onde vamos. “Quando conto as minhas pequenas histórias, a história íntima da minha vida é revelada não só a quem escuta, mas também a mim”. E toda história que uma pessoa conta não se desenvolve no vazio, mas chama em causa “as outras pessoas, minha família, amigos, sociedade, cultura, economia e o que chamamos de ‘os tempos’. (…). Sou quem sou porque estou imerso nas histórias de outras pessoas e nas histórias do nosso tempo”.

As histórias contadas - continuou o cardeal filipino - "são dinâmicas, transformadoras, abertas a serem contadas novamente". Nelas, a memória torna-se um fator vital para o presente. Ao relembrar nossas histórias, também percebemos “que o passado não é estático”. Quando contamos nossas histórias, “percebemos quando mudamos e o quanto precisamos mudar”.

A história e as histórias – continuou o Cardeal Tagle, ampliando o horizonte dos acontecimentos individuais para aquelas comunitárias e coletivas – também são relevantes para compreender o significado dos símbolos espirituais e doutrinários. As histórias "moldam a comunidade". Experiências e memórias compartilhadas "empurram indivíduos separados a se tornarem um corpo coeso". E quando são contadas "podem transformar quem escuta", aquele que escutando as histórias dos outros pode "ver despertar memórias de interesses pessoais".

Também assim, as histórias ouvidas “criam espanto e despertam do torpor”. Em outras situações, as histórias também podem ser reprimidas, como fazem até inconscientemente as vítimas de traumas para evitar prolongar e renovar seu sofrimento, ou como fazem também os ditadores, quando impedem que sejam divulgadas notícias e histórias de corrupção, opressão e violência.

No final do seu discurso, o Cardeal Tagle convidou a aplicar as sugestões levantadas nas suas considerações sobre a relevância de “contar histórias” também na vida “de uma comunidade ou de uma instituição como a Propaganda Fide”.

E concluiu lançando perguntas que ele mesmo definiu como "provocativas": “Quando falamos da história da Propaganda Fide, de quem contamos as histórias? As histórias dos Papas são contadas? Aquelas dos prefeitos? Aquelas das comunidades locais? Aquelas dos pobres? A história de Jesus? E a história da Propaganda Fide nos encorajará a entrar nos mundos contemporâneos da inteligência artificial e digital, extremismo, polarização, indiferença religiosa, emigração forçada, desastres climáticos, para citar apenas alguns? Como a história de Jesus será contada nesses mundos? E quem contará a história de Jesus? Euntes in mundum universum”, concluiu o Cardeal Tagle, repetindo as palavras de Jesus Ressuscitado aos Apóstolos ("Ide por todo o mundo") na versão latina que também serve de título ao Encontro sobre os 400 anos da Propaganda Fide.

Euntes in mundum universum”, o Encontro internacional de estudos programado por ocasião do IV Centenário da instituição da Congregação de Propaganda Fide, continua até sexta-feira, 18 de novembro, na Aula Magna da Pontifícia Universidade Urbaniana. O Encontro foi promovido e organizado graças à colaboração entre a Pontifícia Universidade Urbaniana, o Dicastério para a Evangelização e o Pontifício Comitê para as Ciências Históricas.

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