24 Junho 2022
Não dá sinais de alívio a escassez hídrica absoluta que há mais de quatro anos aflige o Grande Sul malgaxe. Em 2022, àquela que segundo a própria ONU é "uma carestia ligada às mudanças climáticas" e que na língua dos Antradoy chamam de keré (estar com fome), somaram-se a tempestade Ana e o ciclone Batsirai que causou mortes e miséria também em outras áreas do país. É um pouco melhor no noroeste, mas, explica o padre Jean Toulouba, congolês das missões Consolata que trabalha na aldeia de Beandrarezona, "choveu menos também na nossa região, que normalmente é muito chuvosa de outubro-novembro até maio e tem uma importante produção de arroz, o alimento básico do país. As colheitas pioraram aqui também”.
A reportagem é de Marinella Correggia, publicada por Il Manifesto, 23-06-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Padre Attilio Mombelli, missionário vicentino, há 53 anos vive justamente no Sul, em Ihozy, no Madagascar. Seus projetos sociais dizem respeito principalmente a escolas profissionais, saúde e apoio aos grupos mais pobres. Ele é uma testemunha direta: “Nestes cinquenta anos vi muitas mudanças no clima da nossa região e do Madagascar em geral. Quando cheguei, havia uma estação chuvosa regular. O período dos ciclones também acontecia entre dezembro e fevereiro. Agora não há mais regularidade. Nos últimos anos, as chuvas têm sido muito escassas”.
E agora? “Depois de anos de tempo seco, este ano tivemos chuvas significativas em algumas áreas, temporais com duração de três ou quatro horas, quase um dilúvio. Em todo Madagascar houve cinco ciclones, dois também passaram no Sul e causaram desastres. Algo que não acontecia no passado”.
Então a água chegou em abundância? “Os ciclones trouxeram desastres, alagaram aldeias; mas há áreas, muitas, nas quais não trouxeram água, mas apenas vento e desastres. Em algumas áreas foi possível cultivar arroz em abundância e a 20 quilômetros de distância, talvez nada, a água não era suficiente”.
O rio Ihozy “está quase seco, assim como os outros. As chuvas não foram suficientes para encher os mananciais. Tivemos água para cultivar o arroz, para os poços no curto prazo, mas as nascentes estão quase secas de novo, dado o longo período de seca. Em suma, os rios enchem três vezes por ano e basta”. Há muitos projetos, também para a recuperação da (pouca) água da chuva, com cisternas junto às escolas, “mas são gotas no mar; não vejo uma solução imediata".
Ao longo das décadas, padre Attilio viu regredir as áreas florestais (“incríveis, árvores seculares”) deste país, tesouro da biodiversidade: “Um dos problemas é que as pessoas ateiam fogo para abrir espaço para o cultivo. O desmatamento continua sempre. Mas um fator central é essa mudança no clima que também vemos na Europa, o Madagascar talvez pague mais que os outros...”.
Perante essa situação, os bispos da conferência episcopal malgaxe iniciaram há anos o projeto "dioceses verdes": associações, Cáritas, paróquias são convidadas a plantar árvores adaptadas ao lugar, mas sobretudo "e isso faz a diferença, com o empenho, de grupo, de família ou pessoal, a cuidá-las à medida que crescem”, até que o façam sozinhas. É um projeto também educativo e algo bem diferente, aponta o missionário de forma polêmica, "dos dias da árvore em que todos são obrigados a participar, até funcionários que nem sabem segurar a pá, e no final são pequenos carnavais".
Em suma, o Grande Sul tenta sobreviver à terrível seca, com seus campos desolados cobertos de poeira vermelha, numerosos deslocados internos que sobrevivem acampados em centros urbanos, um milhão de crianças em estado de desnutrição significativa, com mães percorrendo longas distâncias para levá-las para os centros de nutrição sempre lotados. Faz parte da coordenação do Vim (Voluntários italianos Madagascarr) o centro nutricional da organização sem fins lucrativos florentina Stand up for Life enquanto outros membros do Vim trabalham no tratamento da água e outros ainda no projeto de produção de suplementos alimentares baseado em plantas locais resistentes à Seca; como a moringa.
No entanto, é todo o Madagascar que está severamente empobrecido, também pelas medidas antipandemia que fizeram subir para 80% o percentual de habitantes abaixo da linha de pobreza absoluta. O Banco Mundial a havia fixado, em 2015, em US$ 1,90 por dia; mas revisou o parâmetro que passa para 2,15 dólares nos próximos meses, nos preços de 2017.
Um flagelo é poupado a este povo: a guerra. Já é uma base sólida.