Papa rejeita a renúncia de Marx: “Toda a Igreja está em crise devido aos abusos”

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14 Junho 2021

 

O Papa Francisco rejeitou a renúncia apresentada pelo cardeal Reinhard Marx e lhe pediu que permaneça à frente da Arquidiocese de Munique e Freising, na Alemanha.

A reportagem é de Gianni Cardinale, publicada por Avvenire, 11-06-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Ele fez isso ao término de uma sincera carta autografada escrita nessa quinta-feira, em espanhol, e imediatamente divulgada também em alemão e italiano pela Sala de Imprensa do Vaticano.

No dia 21 de maio passado, o cardeal Marx escrevera uma carta – publicada também em italiano e inglês no dia 4 de junho – explicando as razões do seu gesto como resposta à crise dos abusos que, na sua opinião, exigiria uma profunda reforma na Igreja, também devido à resposta insuficiente do episcopado.

O purpurado alemão pedira ao pontífice que pudesse deixar a liderança da diocese bávara por causa do escândalo considerado por ele como “sistêmico”. E, no fim da sua carta, escrevera: “Continuo feliz por ser padre e bispo desta Igreja e continuarei a me envolver nas questões pastorais, sempre que o senhor considerar útil e bom. Nos próximos anos do meu serviço, desejo me dedicar cada vez mais à pastoral e a trabalhar por uma renovação espiritual da Igreja, como o senhor incansavelmente nos exorta a fazer”.

O Papa Francisco, na conclusão da sua carta, escreveu: “Esta é a minha resposta, querido irmão. Continua como tu propões, mas como arcebispo de Munique e Freising. E – acrescentou – se te vier a tentação de pensar que, ao confirmar a tua missão e ao não aceitar a tua renúncia, este Bispo de Roma (teu irmão que te ama) não te compreende, pensa no que Pedro sentiu diante do Senhor, quando, a seu modo, lhe apresentou a renúncia: ‘Afasta-te de mim que sou pecador’ e escuta a resposta: ‘Apascenta as minhas ovelhas’”.

Na sua carta, Francisco afirma que compartilha a descrição da crise proposta pela carta de Marx: “Estou de acordo contigo em qualificar como catástrofe a triste história dos abusos sexuais e o modo de enfrentá-lo que a Igreja adotou até pouco tempo atrás”. Na verdade, “dar-se conta dessa hipocrisia no modo de viver a fé é uma graça, é um primeiro passo que devemos dar”. E “devemos assumir a história, tanto pessoalmente quanto comunitariamente”. Porque “não se pode ficar indiferente diante desse crime”.

O papa não aborda a questão do Caminho Sinodal empreendido pela Igreja alemã. No entanto, frisa que hoje “nos é pedida uma reforma, que – neste caso – não consiste em palavras, mas em atitudes que tenham a coragem de se pôr em crise, de assumir a realidade seja qual for a consequência”. Porque “toda reforma começa por si mesmo”. E a reforma da Igreja “foi feita por homens e mulheres que não tiveram medo de entrar em crise e se deixar reformar pelo Senhor”. Esse, afirma Francisco, “é o único caminho; caso contrário, não seremos mais do que ‘ideólogos de reformas’ que não põem em jogo a própria carne”.

O Senhor, ressalta Francisco, “não aceitou nunca fazer ‘a reforma’ (permita-me a expressão) nem com o projeto fariseu, ou saduceu, ou zelota, ou essênio”, mas “ele a fez com a sua vida, com a sua história, com a sua carne na cruz”. E esse, reconhece o papa dirigindo-se a Marx, “é o caminho, aquele que tu mesmo, querido irmão, assumes ao apresentar a renúncia”, porque, como “tu bem dizes bem na tua carta", enterrar o passado “não nos leva a nada”. Com efeito, “os silêncios, as omissões, o fato de dar peso demais ao prestígio das instituições só conduzem ao fracasso pessoal e histórico”.

Para o Papa Francisco, é “urgente ‘ventilar’ essa realidade dos abusos e de como a Igreja procedeu, e deixar que o Espírito nos conduza ao deserto da desolação, à cruz e à ressurreição”. É “o caminho do Espírito que devemos seguir”, e “o ponto de partida é a confissão humilde: equivocamo-nos, pecamos”.

Na verdade, “não nos salvarão as investigações nem o poder das instituições”. Não nos salvará “o prestígio da nossa Igreja que tende a dissimular os seus pecados”. Não nos salvará “nem o poder do dinheiro nem a opinião dos meios de comunicação (tantas vezes somos dependemos demais deles)”.

Em vez disso, “nos salvará abrir a porta do Único que pode fazer isso e confessar a nossa nudez: ‘Pequei’, ‘pecamos’... e chorar e balbuciar como podemos aquele ‘afasta-te de mim que sou um pecador’, herança que o primeiro papa deixou aos papas e aos bispos da Igreja”. E então “sentiremos essa vergonha curadora que abre as portas à compaixão e à ternura do Senhor que sempre está perto de nós”.

O cardeal Marx, com uma declaração publicada no site da diocese, aceitou “em obediência”, como já prometido na carta, a decisão do papa. Decisão, acrescentou, que “é um desafio” e, portanto, “tanto para mim quanto para a arquidiocese, o caminho não pode ser simplesmente voltar ao trabalho de sempre”.

 

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