Bênção: estilo para dar a palavra ao bem possível. Artigo de Andrea Grillo

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06 Abril 2021

 

A tradição sabe a diferença entre sacramentos e bênçãos, porque sabe que a Igreja viva sempre faz experiência da periferia e daquilo que lhe é externo, onde o bem não só pode existir, mas também merece ser reconhecido e valorizado, por aquele pouco ou muito de “profecia” que contém.

A opinião é de Andrea Grillo, teólogo leigo italiano e professor do Pontifício Ateneu Santo Anselmo, em artigo publicado na revista Jesus, de abril de 2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

 

Eis o texto.

 

Se a Igreja fosse somente o seu centro, a intimidade da relação com Cristo, ela não precisaria celebrar bênçãos. Viveria apenas da plena comunhão com o Senhor e estaria, já agora, na sua plenitude.

Mas como a Igreja não é somente centro, mas também periferia e está em relação com aquilo que é “não Igreja”, ela encontra na bênção a linguagem mais simples e mais livre da sua própria tradição.

Por isso, o ato de abençoar está aquém e além do poder eclesial. É reconhecimento do bem, lá onde ele pode estar, sem outra exigência senão “dar visibilidade” ao bem. Ela não pede nada do abençoado, do ser humano vivo, mesmo sem batismo.

Se o “não batizado” pode ser objeto de bênção, a Igreja atesta e registra na bênção aquele bem que antecipa o seu próprio poder.

A tradição sabe a diferença entre sacramentos e bênçãos, porque sabe que a Igreja viva sempre faz experiência da periferia e daquilo que lhe é externo, onde o bem não só pode existir, mas também merece ser reconhecido e valorizado, por aquele pouco ou muito de “profecia” que contém.

Se essa distinção fica obnubilada, e o que importa é apenas uma diferença radical entre bem e mal – como parece emergir a partir do responsum da Congregação para a Doutrina da Fé sobre as uniões entre pessoas do mesmo sexo –, a tradição fica bloqueada e não consegue mais se relacionar com a realidade.

Se dois homens, ou duas mulheres, que vivem em comunhão de vida e de amor, pedem para ser abençoados, a Igreja pode fazê-lo se ainda consegue distinguir a “bênção nupcial” do sacramento da “bênção de uma união”. Seria um grave erro não reconhecer que “viver para o outro e do outro”, mesmo sem uma geração possível, é um bem que merece reconhecimento.

Por outro lado, o modelo das bodas cristãs não é precisamente aquela relação entre Cristo e a Igreja, que é essencialmente um “viver para”, um “doar-se a”, e não sobretudo um ato generativo?

Aristóteles dizia: às vezes, você deve afirmar; outras vezes, negar; mas sempre deve distinguir. Um defeito de distinções impede de dizer o essencial: não o poder da Igreja sobre a bênção, mas a autoridade do bem real e possível sobre a própria Igreja.

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