Aventuras no clericalismo, com McCarrick e Trump. Artigo de Phyllis Zagano

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24 Novembro 2020

“Há a 'História de Trump', que combina o 'evangelho da prosperidade' com um fiasco na eleição. Existe também a 'História de McCarrick', a história totalmente ignorada do clericalismo e que agora foi parcialmente revelada. Cada uma se resume a uma palavra simples: dinheiro”, escreve Phyllis Zagano, teóloga estadunidense, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 23-11-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

Eis o artigo.

Seja sobre o ex-cardeal Theodore McCarrick ou o presidente Donald Trump, suas histórias complementares fornecem um som de fundo para a pandemia mundial e nos poupam o trabalho de ler sobre a história medieval.

De certa forma, ambas tratam de clericalismo. Numa é o clericalismo da igreja. Na outra é o clericalismo da política. É sobre compadrio, capitulação e rendição ao poder.

Seja sobre a Igreja ou o Estado, o enredo, o elenco de personagens e o desenlace são os mesmos. Cada uma apresenta a queda de um homem cujo caminho para o poder foi pavimentado com o dinheiro de outras pessoas. Cada uma revela um homem aparentemente em negação dos fatos.

Há a “História do Trump”, que combina o “evangelho da prosperidade” com um fiasco na eleição. Existe também a “História de McCarrick”, a história totalmente ignorada do clericalismo e que agora foi parcialmente revelada. Cada uma se resume a uma palavra simples: dinheiro.

Entra Trump, bombástico.

Os adeptos do “evangelho da prosperidade” acreditam que a riqueza financeira é a vontade de Deus para eles. Se rezarem corretamente, ficarão ricos. Os ricos são especialmente abençoados por Deus e são exemplos para todos os outros. Além disso, a história demonstra que o dinheiro compra santidade, ou pelo menos indulgências, e a classe milionária é sempre considerada santa. (O oposto também é verdadeiro: os pobres não estão nas graças de Deus.)

Aqueles que insistem em negar os resultados das eleições presidenciais dos EUA em 2020 estão convencidos, junto com o presidente, de que os ricos herdarão a Casa Branca e a Casa Branca os tornará mais ricos. Para os que já são ricos, isso é verdade. Para o resto dos negadores da eleição, é a esperança e promessa do “evangelho da prosperidade”.

Entra McCarrick, astuto.

Depois, há a situação de McCarrick, parcialmente examinada em um relatório não assinado agora colocado com destaque no site do Vaticano. O relatório é o epítome do clericalismo. Sem assinatura e frequentemente citando fontes não nomeadas, o documento de 469 páginas deve ser avaliado como “regular”. Embora lascivo em parte, nada nele é novo. Evita o confronto direto com o componente que lubrifica as engrenagens do clericalismo: o dinheiro. Em todos os casos, o dinheiro estava envolvido. McCarrick comprou jantares, passagens aéreas, férias e amizades. Ele deu presentes em dinheiro para outros clérigos. No entanto, a palavra “dinheiro” aparece apenas 21 vezes no relatório.

Em cada uma dessas histórias tristes, um bispo católico aqui ou ali apoia o personagem principal.

Para Trump.

Tyler, Texas, EUA. Dom Joseph Strickland disse que nenhum católico poderia votar em Biden, e questiona os resultados da eleição. Agora, a Conferência de Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB) está formando uma força-tarefa, aparentemente para fazer lobby contra o aborto junto ao presidente eleito. Alguém disse a eles que perderam toda a influência política em 2002, quando votaram para se excluir das restrições aos abusos sexuais?

Para McCarrick.

Três dos quatro bispos de Nova Jersey, já falecidos, não viram nada de mal quando questionados há tantos anos se McCarrick, já transferido de Chicago para Nova York, deveria ir para a “diocese do barrete vermelho” de Washington. Onde estava a USCCB então? Até mesmo os opositores do relatório expressaram suas advertências em “clericalês”. O dinheiro estaria envolvido na mudança de McCarrick de Newark para Washington D.C.? Roma havia sido avisada sobre ele.

O diabo, como dizem, está nos detalhes, e o papa Francisco disse que o diabo entra pelo bolso. O diabo tem estado muito ocupado nos Estados Unidos.

 

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