28 Abril 2020
"A pandemia da covid-19 continua revirando o mundo de ponta-cabeça, provocando uma emergência sanitária e uma emergência econômica. Ninguém ainda sabe qual será o tamanho do prejuízo em termos de morbimortalidade e em termos socioeconômicos", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 27-04-2020.
Eis o artigo.
Indubitavelmente, o mundo vai ficar mais pobre – em função da maior depressão da história do capitalismo, como calcula o próprio FMI – haverá mais bancarrota, mais endividamento público e privado, mais desemprego, mais pobreza, mais pessoas passando fome, mais insatisfação e mais frustração, etc. A conta econômica e social já está sendo alta e será ainda mais elevada com o passar do tempo e a dificuldade de vencer o vírus.
O único crescimento é do número de casos e mortes da pandemia do novo coronavírus, conforme mostram os gráficos abaixo. Em primeiro fevereiro havia 14,6 mil casos e 304 mortes no mundo. No dia 01 de março os casos passaram para 88,6 mil (crescimento de 6 vezes, ou 6,4% ao dia em fevereiro) e as mortes passaram para 3 mil óbitos (crescimento de 10 vezes, ou 8,3% ao dia).
No dia 01 de abril o número de casos chegou a 935 mil (um crescimento de 10,6 vezes, ou 7,9% ao dia no mês de março) e o número de mortes alcançou 47,2 mil (um crescimento de 15,5 vezes ou 9,2% ao dia). Os números absolutos e relativos bateram recordes no mês de março.

No dia 26 de abril, o número de casos chegou a 3 milhões (um crescimento de 3,2 vezes em 26 dias, ou 4,8% ao dia) e o número de mortes chegou a 207 mil (um crescimento de 4,4 vezes ou variação diária de 6,1%, nos primeiros 26 dias do mês de abril). O crescimento absoluto foi de mais de 2 milhões de casos e cerca de 160 mil mortes nos primeiros 26 dias de abril, mas a taxa relativa caiu um pouco em relação a março.
No ranking global, o destaque cabe aos Estados Unidos que atingiram 1 milhão de casos no dia 27 de abril e chegaram a quase 58 mil mortes. Nesta semana, em que se comemora os 45 anos do fim da Guerra do Vietnã, o número de americanos mortos pela covid-19 (em dois meses) vai superar o número de americanos mortos nos 20 anos da Guerra do Vietnã.
Os outros 2 países em destaque são Espanha e Itália que se transformaram em epicentro da pandemia na Europa no mês de março, mas que já estão descendo a curva e apresentam variações relativas cada vez menores. Turquia e Rússia foram os países que apresentaram as maiores taxas de novos casos em abril (mas possuem taxas de letalidade baixas). O Reino Unido se aproxima de Espanha, Itália e Alemanha (se bem que a Alemanha também tem taxa de letalidade baixa). O Irã desacelerou o ritmo do surto. A China, que foi o epicentro inicial da doença, caiu para 9º lugar e ficou os últimos 11 dias sem apresentar novas mortes.
O Brasil está em 11º lugar tanto no número de casos, quanto no número de mortes. No número de casos está atrás de EUA, Espanha, Itália, França, Alemanha, Reino Unido, Turquia, Irã, China e Rússia. E no número de mortes está atrás de EUA, Itália, Espanha, França, Reino Unido, Bélgica, Alemanha, Irã, China e Holanda. Mas como a pandemia está crescendo em ritmo mais veloz por aqui, o Brasil, provavelmente, deve ocupar o 2º lugar até o final de maio ou início de junho.

O que a análise mostra é que a pandemia continua avançando com números absolutos maiores, mas com números relativos menores e vários países já estão descendo a curva ou no final da curva. Mas o fato preocupante é que o Brasil cresce acima da média mundial e acima da média dos 10 países que estão à sua frente. Desta forma, se estas tendências continuarem o Brasil, provavelmente, vai fica atrás apenas dos Estados Unidos.
O Brasil que já vinha em uma tendência submergente na economia e com vários problemas de saúde – com febre amarela, zika, dengue, chikungunya, sarampo, etc – vai ter que conviver com a covid-19 e com um impacto negativo nas atividades econômicas sem precedentes. O sonho de um país próspero e feliz parece que está cada vez mais distante.
Referências:
ALVES, JED. A pandemia de Coronavírus e o pandemônio na economia internacional, Ecodebate, 09/03/2020
ALVES, JED. “A recessão em 2020 é inexorável e a palavra-chave para as pessoas é sobrevivência”, Correio da Cidadania, 21/03/2020
ALVES, JED. O crescimento da pandemia de coronavírus e a redução da poluição ambiental, Ecodebate, 24/03/2020
ALVES, JED. A pandemia de Covid-19 avançou rapidamente na última semana, Ecodebate, 30/03/2020
ALVES, JED. O avanço da pandemia de Covid-19 no mundo e no Brasil no mês de março, Ecodebate, 01/04/2020
ALVES, JED. Um milhão de infectados e cinquenta mil mortes pela Covid-19 no mundo, Ecodebate, 03/04/2020
ALVES, JED. Diário da Covid-19: ritmo de casos no Brasil supera a média mundial, # Colabora, 07/04/2020
ALVES, JED. A pandemia global avança no mundo, mas em ritmo mais lento, Ecodebate, 06/04/2020
ALVES, JED. A pandemia global de Covid-19 desacelera na primeira semana de abril, Ecodebate, 08/04/2020
ALVES, JED. Brasil com mais de 1 mil mortes e o mundo com mais de 100 mil mortes pela covid-19, Ecodebate, 10/04/2020
ALVES, JED. Os países do topo do ranking que já chegaram ao pico da pandemia, Ecodebate, 13/04/2020
ALVES, JED. A pandemia de covid-19 e o pior decênio da história da economia brasileira, Ecodebate, 15/04/2020
ALVES, JED. A pandemia de covid-19 vai acelerar a passagem do centro do mundo para a Ásia, Ecodebate, 17/04/2020
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A pandemia da Covid-19 atinge 3 milhões de casos e 200 mil mortes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU