Sínodo da Igreja da Alemanha, canonização de Newman e viagem ao Japão e Tailândia. Uma visão a partir de Roma

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23 Setembro 2019

A Igreja alemã contribuiu imensamente para o desenvolvimento da teologia católica nos séculos XIX e XX, e bispos e peritos de língua alemã desempenharam um papel fundamental no Vaticano II: “O Reno se lança no Tibre: o concílio desconhecido” é o título de um dos livros mais conhecidos sobre o concílio. Mais de meio século depois, e com um papa latino-americano determinado a completar as reformas conciliares, a Igreja alemã está mais uma vez no centro dos debates.

A reportagem é de Christopher Lamb, publicada por The Tablet, 19-09-2019. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

A diferença entre hoje e 50 anos atrás é que a Igreja na Alemanha sofreu uma perda significativa de credibilidade e tem atormentado os seus fiéis, crise ligada aos casos de abusos sexuais cometidos pelo clero. Suas lideranças assumiram a visão do Papa Francisco de uma Igreja sinodal e lançaram um “procedimento sinodal” de dois anos que vai encarar, de frente, os temas candentes das reformas: a responsabilização e moralidade sexual, o “estilo de vida sacerdotal” e o papel da mulher. Os determinados, bem organizados e bem financiados católicos alemães estão dando continuidade aos trabalhos, apesar das dificuldades.

Isso tudo irritou muitos em Roma. Enquanto me dirigia a um compromisso semana passada, me deparei com uma autoridade diplomática numa das ruas de pedra próximas da Piazza Farnese. “Não me preocupo com os Estados Unidos”, contou ele enquanto dávamos passagem aos veículos que transitavam na estreita rua. “O problema é a Alemanha”.

Os planos dos bispos alemães foram criticados, com vazamentos e comentários negativos. O Cardeal Marc Ouellet, prefeito canadense da Congregação para os Bispos, escreveu ao Cardeal Reinhard Marx, presidente da Conferência dos Bispos Alemães, e incluiu uma avaliação negativa dos planos alemães feita pelo Pontifício Conselho para os Textos Legislativos. Esta avaliação vazou ao Catholic News Agency, de propriedade de EWTN, meio de comunicação católico conhecido por sua cobertura hostil a este pontificado.

A citada agência de notícias também lançou mão de um funcionário anônimo dentro da Congregação para a Doutrina da Fé que disse que o Cardeal Marx, assessor próximo do Papa Francisco, está tentando “agir como o papa”. Os alemães, disse o funcionário ao repórter, “não querem escutar”. Comentários assim revelam que alguns doutores da lei na Cúria Romana estão afiando as facas.

O procedimento sinodal na Alemanha, em que o papa lembrou os bispos de que deveriam focar na evangelização e na missão, se tornou um teste para ver o quanto de liberdade uma Igreja local receberá na criação de estratégias pastorais para se adequar às circunstâncias locais. O mesmo irá valer para o Sínodo sobre a Amazônia, a ocorrer no próximo mês.

Em entrevista a jornalistas em Roma na semana passada, o Pe. Arturo Sosa, superior geral dos jesuítas, disse que Francisco está combatendo o “clericalismo” e o jeito deste em exercer poder. Opor-se a este papa, enfatizou Sosa, é opor-se ao Vaticano II. Ao buscar um modelo pós-conciliar de uma “Igreja sinodal”, Francisco tira o poder de canonistas e autoridades curiais, e repassa responsabilidades aos bispos locais. Aqueles com interesse em manter o status quo não desejam facilitar as coisas.

Quando a residência real Clarence House anunciou que o príncipe do País de Gales se fará presente na canonização do Cardeal Newman, em Roma no dia 13 de outubro, destacou também que o príncipe é um “defensor de longa data do espiritual na vida diária” enquanto também buscou “promover o diálogo entre as religiões”.

A decisão do príncipe Charles de participar da missa em que John Henry Newman será declarado santo é um momento simbólico na história religiosa inglesa. Essa decisão de um dos clérigos mais influentes da Igreja da Inglaterra de ser recebido na Igreja Católica levou a convulsões em ambas as comunhões. Foi, como ele mesmo colocou no seu último sermão como anglicano, uma “despedida de amigos”.

Ao participar da canonização, o futuro Governador Supremo da Igreja da Inglaterra mostra que as divisões passadas não precisam definir o futuro. Dada a polarização política em toda a Europa e no Reino Unido, existe uma oportunidade de se elevar acima das batalhas ideológicas. A vida e a obra de Newman, a sua abertura à mudança ao mesmo tempo que permaneceu fiel, o seu autoexame rigoroso e seu serviço junto aos marginalizados, constituem uma lição oportuna.

Mas, embora fora anunciado que o membro da família real do mais alto escalão participará da canonização (a rainha não faz mais viagens ao exterior), o governo do Reino Unido ainda está para confirmar quem será o seu representante na cerimônia.

Quando um simples jovem jesuíta, Jorge Mario Bergoglio pediu para ser enviado ao Japão como missionário. O Pe. Pedro Arrupe, então superior geral da Companhia de Jesus, negou o pedido por motivos de saúde. Agora, como papa, Francisco irá realizar este desejo. Ao final de novembro, ele fará uma visita o país. Deverá visitar Tóquio, ter uma reunião com o imperador e ir a Hiroshima e Nagasaki, cidades destruídas pelas bombas atômicas lançadas pelos EUA em 1945. Há rumores de que ele se encontrará com Iwao Hakamada, de 83 anos, ex-detento no corredor da morte que se batizou enquanto vivia na prisão.

Antes de ir ao Japão, Francisco visitará a Tailândia, onde deverá se encontrar com a sua prima de segundo grau, a Irmã Ana Rosa Sivori, freira missionária e vice-diretora de uma escola para meninas.

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