"Não é trabalho. É exploração!" A precarização do trabalho em debate

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02 Fevereiro 2018

Ela estará em Trento no próximo sábado, 3 de fevereiro de às 18:30 no Centro Comunitário Brown, e no dia seguinte em Rovereto, às 18 h na livraria Arcadia: etapas regionais de uma turnê que há meses está percorrendo toda a Itália. E seu livro "Non è lavoro, è sfruttamento" (Não é trabalho, é exploração, Editori Laterza, p.174, 14 euros) continua a colher comentários: um título impiedoso que dá perfeitamente conta do conteúdo.

Lançado no outono, já está em sua sexta edição: um sucesso que Marta Fana, pesquisadora do Instituto de Estudos Políticos Sciences Po, em Paris, não esperava. "Isso, no entanto, - afirma ela - reforça uma convicção: apesar da fragmentação e do individualismo generalizado, as péssimas condições de trabalho, mas também de não trabalho, são centrais para a maioria na nossa sociedade".

A entrevista é Paolo Morando, publicada por Trentino, 31-01-2018. A tradução é de Luisa Rabolini

Eis a entrevista. 

O debate sobre o trabalho é fundamental no debate político, mas muito pouco tem sido discutido até agora nesses primeiros momentos de campanha eleitoral: por quê?

Por um lado, como muitas vezes acontece, primeiro está se falando principalmente de aposentadorias e pouco mais além disso, tentando angariar os votos dos menos jovens, porque tendemos a pensar que o desinteresse dos jovens pela política seja um fato natural e não um absurdo. Mas não é assim para todos: existem coligações e listas, por vezes apenas candidatos dentro delas, que centram no trabalho sua proposta política. Depois, há a forma como nos meios de comunicação está sendo realizada a campanha, em que pouco se questiona sobre quais seriam os programas sobre o trabalho.

Você recebeu alguma proposta para se candidatar ultimamente? Se sim, por que recusou?

Sim, várias. Por várias razões, algumas pessoais e outras mais políticas. Eu quero continuar a fazer pesquisa e ensinar, que continua a ser um papel político. Além disso, acho que cada um de nós pode dar tanto para a política sem necessariamente ser um parlamentar, colocando à disposição dos processos políticos o que de melhor sabe fazer com generosidade e humildade.

Você escreve no prefácio que investigar as condições de trabalho na Itália é uma descida ao inferno: entre as muitas categorias que analisa, qual a mais significativa a esse respeito?

Embora existam várias formas de exploração, tento evitar a elaboração de classificações, precisamente porque a condição é generalizada e fazer classificações mais divide do que une, desnecessariamente. O que é certo é que a obrigação de trabalho gratuito para estudantes, imigrantes, pessoas já marginalizadas no mercado de trabalho parece-me uma aberração. Isto, repito, não torna mais aceitáveis outras formas.

Você também escreve que não se trata de uma condição inevitável, mas do resultado de escolhas políticas específicas: quais?

Todo o processo de reforma do mercado de trabalho desde 1992 até hoje: do pacto sobre os salários ao pacote Treu, depois a chamada lei Biagi-Maroni, os decretos Sacconi de 2001 e 2011, a reforma Fornero, o Jobs Act e o Decreto Poletti, a "boa escola" e a reforma Gelmini. Mais uma vez, não acredito que seja útil fazer um ranking para entender as razões dessa transformação, mas o Jobs Act estabelece um ponto de não retorno, institucionalizando a mercantilização do direito à reintegração com um pouco de renda, ou seja, a indenização. Mas, novamente, repito que não é apenas isso.

Quais são as responsabilidades do sindicato?

Deveria ter lutado muito mais, e também de forma mais radical para desarmar a fragmentação e segmentação do trabalho. Ceder, mesmo aos poucos, deixou o caminho livre. Além disso, o sindicato deixou de ter hegemonia cultural e produzir aquele conhecimento e saber crítico entre os trabalhadores, indispensável para resistir a essa reviravolta. Em seguida, se me permitem, acredito que não existe uma visão de fundo das relações de produção e de como estas estão mudando justamente a partir da produção. Assim não se consegue ter uma visão mais ampla, mas apenas de algumas vertentes.

Quanto da atual condição de proletarização do trabalho está relacionada com a questão da juventude e quanto às persistentes estruturas de classe?

Se assumirmos, como acredito, que a proletarização dependa das relações de produção, então é a componente de classe que prevalece: para entender melhor, os filhos de um trabalhador, hoje, não se encontra nas mesmas condições do filho de um empresário. O que é certo é que para os jovens que se inserem em um tecido desindustrializado, e com as transformações normativas mencionadas acima, fica difícil tanto dentro como fora do trabalho: também me refiro ao welfare, por exemplo.

Existem saídas políticas? O que um novo governo deveria fazer, como um primeiro passo, para começar a mudar essa situação?

Claro que existem. E a história tem necessidade urgente de um impulso de orientação radicalmente oposta. A primeira coisa seria abolir todas as formas de trabalho de baixa remuneração: alternância escola-trabalho, o Decreto Minniti, tipologias contratuais como o contrato intermitente, temporal, e terceirizado. Em seguida, deveriam ser estendidos erga omnes os contratos coletivas nacionais e trazer para um limiar de dignidade todos aqueles que não auferem uma renda digna. Além disso, eu continuo convencida de que devemos atacar a terceirização selvagem tanto no setor público como privado. Há muito a fazer e, talvez, mais do que fazer, há muito a ser estudado cuidadosamente para compreender a situação real no país.

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