É preciso uma nova lógica na luta da Igreja contra a pedofilia

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25 Janeiro 2018

O jornal La Croix conversou com José Andrés Murillo, fundador da associação chilena Confidence que combate o abuso sexual na Igreja.

A entrevista é de Marie Malzac, publicada por La Croix International, 23-01-2018. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

José Andrés Murillo, fundador da associação “Confidence”, do Chile, entidade que trabalha no combate ao abuso sexual, espera que o Papa Francisco reverta “a lógica do poder” na Igreja.

Eis a entrevista.

Você diz que espera mais ação e menos palavras. Concretamente, o que há na Igreja que você critica em relação à questão dos abusos sexuais?

O Papa Francisco falou algumas vezes sobre a questão dos abusos sexuais e deu certos passos. No entanto, o que precisa ser abordado é até que ponto os problemas da pedofilia e dos abusos estão associados com a dinâmica de poder (na Igreja).

Se o papa realmente pretende combater este flagelo, em especial no tocante a atos cometidos por padres e membros da Igreja, será necessário desafiar a dinâmica envolvida e reverter a lógica de poder.

Quando chegou a Iquique, Francisco falou de “calúnia” com respeito a Dom Juan de la Cruz Barros Madrid, da Diocese de Osorno, a quem você acusa de acobertar o padre pedófilo Fernando Karadima, de quem você mesmo foi vítima. Qual foi a sua reação?

O papa exigiu “provas” contra Barros. Mas já chegou a hora de a responsabilidade de apresentar provas trocar de lado.

Não cabe às vítimas provar a culpa de alguém. Se existe uma suspeita plausível contra alguém, então precisa haver uma investigação.

Nós reafirmamos que em várias ocasiões Barros impediu as investigações em torno de Fernando Karadima e que ele estava ciente dos atos de uma pessoa que, por muitos anos, fora o seu pai espiritual.

As provas para esta acusação podem ser vistas nos arquivos cíveis e canônicos.

Há uma falta de coerência grave entre os valores éticos professados e os fatos, assim como uma falha no tratamento dado às informações disponíveis ao sistema judiciário.

Durante a coletiva de imprensa a bordo de seu avião no retorno a Roma, em 22 de janeiro, Francisco, no entanto, lamentou ter exigido “provas”.

A meu ver, o que ele disse nesta entrevista não me faz muito sentido porque a declaração que fizera antes fora diretamente na direção contrária daquele de quem se exige a resolução do problema dos abusos sexuais.

Apesar das declarações, a Igreja mostrou, em diversas ocasiões, que cabe às vítimas agir como denunciantes.

Este foi o motivo para a fundação da nossa plataforma internacional “Ending Clerical Abuse”, lançada no dia 15 deste mês em Santiago em parceria com outras associações de combate ao abuso sexual.

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