19 Setembro 2012
Anunciada no dia 14 de setembro pelo governo japonês, a suspensão progressiva da produção de energia elétrica de origem nuclear até 2040 dá lugar a várias dúvidas e uma bela cacofonia. “Nunca voltaremos atrás nas autorizações concedidas para a construção de novos reatores”, declarou no dia 15 de setembro Yukio Edano, ministro da Economia, diante de autoridades do departamento de Aomori, no norte do país, onde se encontram a central de reprocessamento e o canteiro de obras de uma nova usina. Antes do desastre de Fukushima, três reatores estavam em atividade, sendo que um deveria funcionar com mox (mistura de plutônio e de urânio).
A reportagem é de Philippe Mesmer, publicada no jornal Le Monde e reproduzida pelo Portal Uol, 18-09-2012.
Se eles se mantiverem ativos durante quarenta anos – sua duração de vista prevista - , e possivelmente receber uma prorrogação de vinte anos, isso significaria que a “energia nuclear zero” só será cumprida em 2040. Da mesma forma, a questão do ciclo do combustível nuclear não é mencionada no projeto governamental, nem a das 35 toneladas de plutônio que o Japão possui – armazenado na França, dentre outros lugares.
Isso explica a sensação de que o anúncio dessa “estratégia energética revolucionária” é mais uma ambição do que uma meta real. Mas sua imprecisão, ou até mesmo suas contradições, não impede que haja veementes reações com base em preocupações econômicas. As autoridades locais temem a perda de empregos, de subsídios do Estado e de receitas fiscais.
O governador do departamento de Fukui (centro do país), Issei Nishikawa, lamentou a falta de clareza de um projeto que poderia resultar no fechamento do reator rápido de Monju, instalado em sua região. Em Aomori, as autoridades ameaçaram devolver para as usinas nucleares as 3 mil toneladas de combustíveis usados armazenados em Rokkasho caso o governo abandone a atividade de reprocessamento.
Hiromasa Yonekura, presidente do Keidanren – principal organização patronal, que depende muito dos subsídios das companhias elétricas, falando em nome do mundo empresarial, chamou de “irrealista e irrealizável” o abandono da energia nuclear.
Em um editorial do dia 15 de setembro, o jornal financeiro “Nihon Keizai” aponta as futuras dificuldades com os países parceiros do Japão no setor nuclear: os Estados Unidos, o Reino Unido e a França. O embaixador do Reino Unido, David Warren, e o da França, Christian Masset, encontraram o porta-voz do governo Osamu Fujimura. Eles estão preocupados com o futuro do combustível japonês que é reprocessado nesses dois países. O projeto também levanta a questão do futuro da Areva no Japão.
Os críticos lembram os cálculos governamentais, revelados em 4 de setembro, sobre uma hipótese de abandono da energia nuclear em 2030. Os números mostravam que isso necessitaria de 474 bilhões de euros em investimentos e poderia resultar em uma alta dos custos de importação das energias fósseis e num aumento de duas vezes na conta de luz dos consumidores.
O diretor do Instituto para as Políticas de Energias Renováveis (ISEP), Tetsunari Iida, chegou a chamar o projeto de “fraude nas palavras e nos números”.
A decisão do governo foi uma verdadeira guinada. Antes da catástrofe de Fukushima, o Japão queria elevar a participação do nuclear para quase metade de sua produção de energia até o ano de 2030, contra 26% em 2009.
Por que esse recuo? Para satisfazer uma população preocupada, com a aproximação de eleições legislativas que poderão ocorrer até o final de 2012. O governo está atendendo às expectativas de uma opinião majoritariamente contra a energia nuclear desde o acidente de Fukushima e para a qual o risco de um novo acidente parece maior que o impacto econômico de um abandono da energia nuclear.
Nesse ponto, o Japão recebeu o apoio de Berlim. O porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, informou que Berlim estava ao lado de Tóquio para essa saída do setor nuclear. Para Seibert, entrar por esse caminho “exigente” significa “criar novas possibilidades tecnológicas e dar origem a novas indústrias de exportação”.
A lei sobre o apoio às energias renováveis, decidida após Fukushima, entrou em vigor no Japão no dia 1º de julho. Ela resultou no lançamento de 33 mil projetos, sendo 81 para a energia solar, capazes de gerar 243 megawatts/hora, envolvendo gigantes da indústria como Toshiba, Kyocera e IHI.