Explorar o universo. Artigo de Rosino Gibellini

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30 Janeiro 2015

Um recente livro editado pelo Observatório do Vaticano se debruça sobre a discutida e conturbada relação entre ciência e fé, ou entre ciência e religião.

A análise é do teólogo italiano Rosino Gibellini, doutor em teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e em filosofia pela Universidade Católica de Milão, em artigo publicado no jornal Corriere della Sera, 28-01-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Albert Einstein escreveu no seu testamento científico-filosófico, Como eu vejo o mundo (1955): "Que alegria profunda diante do edifício do mundo e que desejo ardente de conhecer – embora limitado a algum fraco raio do esplendor revelado pela ordem moral do universo – Kepler e Newton deviam possuir por terem podido desvendar, em um trabalho solitário de longos anos, o mecanismo celestial! [...] Sem dúvida, esse sentimento é comparável ao que animou os espíritos religiosos de todos os tempos".

Está chegando à Bréscia (no dia 29 de janeiro) o diretor da Specola Vaticana [Observatório do Vaticano], realidade cultural e científica internacional, que se situa na linha da exploração do "edifício do mundo", exaltada no texto sugestivo de Einstein.

A Specola Vaticana expressa o interesse da Santa Sé, que remonta ao fim do século XVI e precisamente a 1582, com a reforma do calendário juliano desejada por Gregório XIII, pela astronomia. Em tempos mais próximos de nós, o Papa Leão XIII, em 1891, quis fundar uma instituição que se ocupasse de ciência em tempo integral e fizesse isso de modo profissional: assim nasceu a Specola Vaticana, única instituição dedicada à pesquisa científica da Santa Sé.

Atualmente, ela tem duas sedes: Castel Gandolfo, nas Colinas Albanas, e, a partir dos anos 1980, abria-se a sede no Arizona (EUA), no Monte Graham, com um novo e moderníssimo telescópio, em colaboração com a Universidade do Arizona, em Tucson. A partir dessas duas sedes, a pesquisa envolve todos os âmbitos da moderna investigação astrofísica.

Os astrônomos da Specola, de proveniência internacional e, em sua maioria, jesuítas, desenvolvem a sua pesquisa em colaboração com colegas de todo o mundo ligados às mais prestigiadas instituições de astrofísica do planeta, sem ignorar o diálogo mais geral entre ciência, fé e filosofia.

No Manifesto público da instituição vaticana, afirma-se: "A Specola dá a sua própria contribuição, silenciosa, mas substancial, para a pesquisa científica no duplo trabalho de explicar, como dizia o Papa João XXIII, a ciência à Igreja e a Igreja aos homens da ciência". É uma atividade que dá destaque e prestígio à Igreja, especialmente no mundo laico.

O diretor da Specola, desde 2006, é o padre jesuíta José Funes, nascido em Córdoba (Argentina) em 1963, formado em astronomia na Universidade de Pádua. O Pe. Funes vem para Bréscia a convite da Academia Católica e da Cooperativa Católica Democrática de Cultura (CCDC), também para apresentar o livro, em colaboração internacional, publicado pela Editora Queriniana, intitulado Esplorare l’universo, ultima delle periferie. Le sfide della scienza alla teologia [Explorar o universo, última das periferias. Os desafios da ciência à teologia] (2015), organizado pela Specola Vaticana, não só como texto de leitura, mas também como tratado essencial sobre o tema, a ser introduzido nos cursos sobre a relação entre religião e ciência, nas faculdades de teologia e nos institutos de ciências religiosas.

Como se situa o livro em várias vozes na discutida e conturbada relação entre ciência e fé, ou entre ciência e religião? Na epistemologia contemporânea, dão-se quatro modelos interpretativos a respeito, segundo as análises do historiador norte-americano Ian Barbour.

O primeiro modelo interpretativo é o do conflito entre ciência e fé. Basta citar o nome de Galileu. No seu caso, o conflito era determinado pela autoridade religiosa vaticana. No livro, o caso é historicamente bem reconstruído com a melhor bibliografia disponível.

Atualmente ainda existe um conflito entre neodarwinistas de direção positivista ou cientificista, que não reconhecem outros saberes, válidos e objetivos, além do discurso científico. Citamos apenas o recente livro de Telmo Pievani, conflitivo já no título, Criação sem Deus (2006).

Um segundo modelo leva o nome de independência dos dois saberes: ciência e teologia dizem respeito a âmbitos diferentes: a ciência diz o como mundo; a religião/teologia se interroga sobre o porquê, sobre os valores e sobre o sentido de existir no mundo (o famoso dasein heideggeriano).

Ciência e teologia seriam dois "magistérios não sobrepostos (non over-lapping). A distinção deve ser mantida, mas o como e o porquê devem ser mantidos juntos, e assim se pode continuar para além dessa posição, geralmente representada pela teologia protestante (Barth, o teólogo estadunidense Langdon Gilkey).

Um terceiro modelo é o modelo do diálogo, que pode chegar à integração. Essa é a linha de estudiosos, como o britânico anglicano John Polkinghorne (que dialogou com o conhecido filósofo da ciência Giulio Giorello); e o francês católico Jacques Arnould do Centro de Estudos Espaciais de Paris, autor do livro A teologia depois de Darwin (1998).

A posição não é alheia à sensibilidade cultural e espiritual de grandes cientistas, como Einstein, Heisenberg, autor do insólito livro na história da ciência Física e Filosofia (1958), e o cosmólogo suíço Arnold Benz, com O universo doado. Astrofísica e criação (2010).

A posição do livro publicado pela Specola Vaticana, se situa nessa linha do diálogo e da interação, como é chamada pelo jesuíta norte-americano George Coyne, antecessor do Pe. Funes na direção da Specola.

Leitura apaixonante, com um guia plural aberto sobre temas fascinantes e difíceis, como o Big Bang, os UFOs e a inteligência extraterrestre, o futuro do universo, diversamente vislumbrado pela ciência e pela teologia: como destino da ciência, como destinação da teologia.

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