O imigrante é invisível nas sociedades que vivem com pressa

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05 Junho 2015

"Nosso olhar se acostumou com o acampamento a ponto de esquecê-lo rapidamente. Essas fileiras de barracas escondem a miséria (sem mascarar os odores), e parecem compor um mar azul...", escreve Maryline Baumard, em artigo publicado pelo jornal Le Monde, 02-06-2015.

Eis o artigo.

É o paradoxo dos imigrantes. As pessoas só começam a vê-los quando eles desaparecem. Isso vale para os mortos do Mediterrâneo, mas também para o centro de Paris. Os 380 africanos do acampamento da estação de metrô de La Chapelle, no 18º arrondissement, deverão ser evacuados esta semana, depois de ocuparem o local durante oito meses em meio à indiferença geral.

Seus terríveis relatos de uma vida desalojada, essas histórias absurdas que eles estão sempre prontos a contar, as pessoas preferem ouvi-los pela TV a parar para escutá-los. Em nossas sociedades que tanta pressa têm, o imigrante se torna invisível.

Além disso, as autoridades se empenham em tornar cada vez mais invisíveis esses novos párias. Para ter certeza disso basta ler o antropólogo Michel Agier, que por muito tempo teorizou essa maneira de empurrar esses indesejáveis para cada vez mais longe de nossas vistas.

"Under the bridge" ["embaixo da ponte"] era o nome do acampamento de La Chapelle. Esse lugar era o arquétipo do espaço de relegação urbana, um refúgio improvável embaixo do monotrilho e das vias férreas, um local dantesco.

Ali foram se instalando ao longo das semanas as barracas de lona, até que se chegou a esse número de 380 pessoas vivendo no local, em uma precariedade silenciosa, ajudadas por associações de moradores, pela Emmaüs Solidarité e tolerados pela prefeitura de Paris.

Nosso olhar se acostumou com o acampamento a ponto de esquecê-lo rapidamente. Essas fileiras de barracas escondem a miséria (sem mascarar os odores), e parecem compor um mar azul...

Hoje é quase motivo de alegria que os sem-teto tenham suas Quechua [barracas da marca Decathlon]. No entanto, quem se lembra de quando chegaram as primeiras barracas para os sem-teto na capital no ano de 2006, da associação Enfants de Don Quichotte, às margens do canal Saint-Martin?

Foi um escândalo. Nove anos depois, é motivo de alegria que os sem-teto as tenham, uma vez que "isso é melhor que nada" e já que ninguém mais enxerga as barracas mesmo. Foi a retina que se adaptou, ou o egoísmo que se incrustou?