O ministro do Esporte,
Orlando Silva (PC do B), antecipou sua volta do México ao Brasil após ser convocado pelo Palácio do Planalto a dar explicações sobre as acusações de corrupção na pasta, que chefia desde 2006.
A reportagem é de
Andréia Sadi e
Natuza Nery e publicada pelo jornal
Folha de S. Paulo, 17-10-2011.
Ele foi chamado às pressas para reunião que ocorreu ontem à noite com a ministra
Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e o ministro
Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), na casa de
Gleisi, em Brasília.
No encontro,
Silva disse que "vai às últimas consequências" para provar que não compactou com nenhuma irregularidade. O ministro ouviu dos colegas que é importante para o governo que ele "se prepare e se antecipe" prestando todos os esclarecimentos.
Silva é acusado de participação num esquema de desvio de recursos do programa
Segundo Tempo, que dá verba a ONGs para incentivar jovens a praticar esportes.
A acusação foi feita à revista "Veja" pelo policial
João Dias Ferreira. Segundo ele, o ministro teria recebido dinheiro vivo na garagem da pasta, o que
Silva nega.
À Folha, o ministro disse que está sendo alvejado porque a pasta "cresceu demais" em recursos por causa da
Copa-2014 e da
Olimpíada-2016.
Ele repetiu o mesmo argumento para
Gilberto Carvalho e
Gleisi Hoffmann. O titular do Esporte foi para o encontro munido de documentos. Não chegou a mostrá-los porque os ministros destacados por Dilma não acharam necessário.
Eles apenas pediram ao colega que se prepare, porque a Polícia Federal "não vai maneirar". Silva disse que pretende acionar também o Ministério Público Federal.
O ministro estava em Guadalajara acompanhando os
Jogos Pan-Americanos e embarcou de volta para São Paulo na noite de sábado, primeiro dia de competições.
Horas antes, ele havia dito a jornalistas que a presidente
Dilma Rousseff o orientara a seguir com sua agenda. Silva disse ontem que mudou os planos após ser convocado a retornar ao Brasil.
Ao desembarcar em São Paulo, ele se reuniu com assessores para combinar sua defesa. Na mesma noite,
Dilma embarcou para a África. Na avaliação do governo, uma eventual demissão é considerada "péssima" em um momento em que o Executivo tenta resolver impasses e acelerar obras da Copa.
Também ocorre quando o Planalto está tendo dificuldades com a CBF e com a Fifa, tentando destravar pontos conflitantes na
Lei Geral da Copa, como a meia-entrada para os eventos do mundial.
Por ora, o Planalto seguirá o receituário de crises anteriores: caberá ao próprio ministro da sair da situação delicada. Do contrário, ele pode ter o mesmo destino dos quatro colegas que deixaram a Esplanada após acusações.
Em blog, delator faz ameaças a Orlando Silva
O policial militar que acusou o ministro
Orlando Silva de participar de desvios na pasta fez ontem ameaças a ele. Em seu blog,
João Dias Ferreira insinuou que pode fazer novas acusações. "Não sei por que tanta gente aflita, "as coisas" nem começaram ainda."
Ferreira também disse que seria bom o PC do B "ficar calado". Chamou o ministro de "bandido" e disse que tem como provar suas acusações. "O que falei está gravado e será apresentado às autoridades." O policial escreveu ainda ter sido procurado um dia antes da publicação por
Ricardo Leyser, secretário da pasta. "O que ele queria comigo, fazer mais um daqueles acordos não cumpridos?".
Leyser nega tê-lo procurado.
Programa suspeito dá verba a ONGs ligadas ao PC do B
Origem do novo escândalo no Ministério do Esporte, o programa
Segundo Tempo tem sido usado para transferir verbas federais a ONGs ligadas ao PC do B, que comanda a pasta desde o início do governo Lula, em 2003.
Levantamento publicado pela Folha em março de 2008 mostrou que o governo já havia transferido R$ 14 milhões a entidades dirigidas por integrantes do partido.
A
ONG Conam (Confederação Nacional das Associações de Moradores), que liderava os repasses em São Paulo com R$ 5,2 milhões, era presidida por
Wander Geraldo da Silva, colega do ministro Orlando Silva no Comitê Central do PC do B. As suspeitas de favorecimento ao partido foram encaminhadas à CPI das ONGs no Senado, mas o governo exerceu sua maioria na Casa para travar as investigações.
O PC do B indicou o relator da comissão, senador
Inácio Arruda (CE), cujo texto final não chegou a ser votado.
A CPI seria encerrada em novembro passado sem apontar responsáveis por desvios.
Em outro caso no interior paulista, a
ONG Bola pra Frente, dirigida pela ex-jogadora de basquete
Karina Valéria Rodrigues, recebeu R$ 8,5 milhões do Segundo Tempo em 2008.
O valor superou a soma dos repasses feitos pelo Ministério do Esporte a 23 prefeituras do Estado no período.
Filiada ao PC do B,
Karina se elegeu vereadora em
Jaguariúna (SP) no fim do ano, usando as atividades da ONG como trunfo eleitoral. Ontem o "
Fantástico" mostrou que a ONG contratou uma empresa do assessor de
Karina para fornecer lanches. Pagou a ela R$ 10 milhões entre 2007 e 2010.
O ministro admitiu que podem ter ocorrido "falhas".
A ligação entre militantes do partido e repasses do
Segundo Tempo voltou à tona em abril passado, quando a Polícia Civil do DF prendeu cinco suspeitos de desvios na
Operação Shaolin.
Os investigadores apontaram como principal beneficiário do esquema o policial militar policial militar
João Dias Ferreira - o mesmo que acusou o ministro
Orlando Silva de receber propina.
Ele teria usado notas frias para simular compra de merenda, uniforme e material esportivo em nome da
Federação Brasiliense de Kung Fu e da
Associação João Dias.
O PM foi candidato a deputado pelo PC do B em 2006.