França. Os cinco pontos principais do relatório de abusos na Igreja

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07 Outubro 2021

 

A Comissão Sauvé pede um “sincero arrependimento” através de um “humilde reconhecimento junto ao povo... das falhas a serem reparadas”.

A Comissão Sauvé” publicou nesta semana números chocantes detalhando os abusos sexuais de crianças e adolescentes por padres católicos e outras autoridades da Igreja na França. Aqui estão os pontos principais.

A reportagem é de Xavier Le Normand, publicada por La Croix International, 06-10-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

 

Números alarmantes para a Igreja

 

Com base em um grande estudo conduzido pelo Instituto Nacional Francês de Saúde e Pesquisa Médica (Inserm), a Comissão Independente sobre Abusos Sexuais na Igreja (CIASE, pela sigla em francês) deduziu que desde 1950 aproximadamente 330 mil menores foram vítimas de abusos na França no contexto eclesial.

Em 216 mil dessas crianças e adolescentes, o abuso foi cometido por uma pessoa consagrada (padre, diácono, religiosa ou religioso).

O CIASE estima que entre 2.900 e 3.200 padres foram os abusadores. O relatório diz que este é um número comparativamente baixo, mas é a faixa de “piso”.

Embora irmãs religiosas possam ter cometido abusos sexuais, os perpetradores são em grande parte homens.

 

A violência sexual é mais frequente no ambiente da Igreja

 

Embora a família e as amizades sejam os contextos primários para a pedofilia, a prevalência da pedofilia é “significativamente maior” dentro da Igreja do que em outros ambientes sociais.

Assim, 1,16% dos adultos que foram abusados sexualmente na infância sofreram abuso em ambiente da Igreja, enquanto “apenas” 0,36% foram abusados sexualmente em acampamentos de verão e 0,34% em escolas públicas.

Esses números contradizem a linha de defesa frequentemente ouvida de que o abuso não é pior na Igreja do que em outros ambientes sociais.

 

A lenta evolução da Igreja em resposta ao abuso

 

“Por muito tempo, a Igreja Católica se preocupou principalmente em se proteger como instituição e mostrou uma indiferença completa e até cruel para com as pessoas que haviam sido agredidas”, disse Jean-Marc Sauvé, presidente do CIASE.

Estas são palavras particularmente contundentes.

Mas o relatório da comissão distingue três períodos distintos em como a Igreja respondeu às alegações de abuso sexual ao longo do ano.

Observa que, de 1950 a 1970, a Igreja quis “proteger-se do escândalo”, ocultar as vítimas e tentar “salvar” o agressor.

No período seguinte, os responsáveis da Igreja passaram a “levar em conta a existência das vítimas”, o que não significa “reconhecimento”.

E desde 2010, a Igreja aceita que os casos de abuso sejam denunciados às autoridades civis e renuncia a uma abordagem “puramente interna”.

No entanto, a “Comissão Sauvé”, como o CIASE é comumente chamado na França, é muito crítica, apesar dessa evolução.

“As respostas da Igreja têm sido insuficientes em geral, frequentemente tardias, em reação aos eventos, ou mal aplicadas”, diz seu relatório.

Além disso, observa que, embora a violência sexual tenha diminuído a partir de 1970, houve menos casos conhecidos desde 1990.

 

Uma exigência de que a instituição seja responsabilizada

 

“A atitude de não reconhecimento ou negação da realidade, característica da Igreja no período estudado, tem sido uma via de escape para um verdadeiro tratamento da informação”, afirma o relatório.

Diante disso, afirma que deve haver um “processo de verdade e reparação por parte da Igreja” e um “reconhecimento de responsabilidade”.

A comissão pede assim um “sincero arrependimento” através de um “humilde reconhecimento junto ao povo... das falhas a serem reparadas”.

A Comissão Sauvé diz que isso inclui uma reparação financeira, “que não pode ser puramente global”, ao contrário dos planos atuais da Conferência dos Bispos da França.

Do mesmo modo, insiste em que seja financiado “sem apelo a donativos por parte dos fiéis, pois isso não seria compatível com o reconhecimento da responsabilidade da Igreja como instituição”.

 

Uma lista de recomendações

 

Em seu relatório, a Comissão Sauvé fez nada menos que 45 recomendações.

Isso vai desde a realização de verificações de antecedentes criminais até a identificação de “formas fraudulentas” de carismas, mudança na catequese e fortalecimento dos mecanismos de proteção existentes.

A comissão não desafia o celibato sacerdotal obrigatório, mas pede mais trabalho para garantir que não permita que o padre seja colocado em uma “posição heroica ou dominadora”.

Apela também a uma reflexão sobre a “concentração” dos vários poderes nas mãos do bispo e a uma “vasta revisão do direito canônico” no campo penal.

O segredo da confissão será certamente um ponto de atrito com a Igreja, com a comissão apelando para que sejam emitidas “diretrizes precisas” para que o confessor não possa “se dar ao luxo de ir contra” a obrigação penal de denunciar os atos de pedofilia.

Esta obrigação, segundo a comissão, está em conformidade com “a obrigação de direito divino natural de proteger a vida e a dignidade da pessoa”.

 

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