Ratzinger. “Francisco não tem formação teológica? Um preconceito estúpido”

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14 Março 2018

Um “tolo preconceito”. Com estas palavras, Bento XVI, de seu eremitério no Vaticano, desmonta a afirmação de que seu sucessor não teria estatura teológica enquanto ele, o Papa teólogo, teria sido apenas um teórico sem entender a vida dos cristãos de hoje. As afirmações do papa emérito, que enfatizaram a “continuidade interior” dos dois pontificados, aparecem na carta enviada ao prefeito da Secretaria de Comunicação, Dario Edoardo Viganò, que leu alguns trechos durante a apresentação da série A Teologia do Papa Francisco, editada pela Libreria Editrice Vaticana (LEV), nesta segunda-feira, 12 de março, na Sala Marconi de Palazzo Pio.

A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 12-03-2018. A tradução é de André Langer.

 

“Aplaudo esta iniciativa – escreveu Bento XVI – que pretende opor-se e reagir ao tolo preconceito pelo qual o Papa Francisco seria apenas um homem prático, que não possuía formação teológica ou filosófica, enquanto eu teria sido unicamente um teórico da teologia, que pouco entendia da vida concreta de um cristão de hoje”.

Ratzinger agradece em sua carta pelo presente dos onze volumes escritos por vários teólogos de renome internacional que compõem a série, que está ao encargo de Roberto Repole, presidente da Associação Teológica Italiana. “Os pequenos volumes – acrescenta Bento XVI – provam com razão que o Papa Francisco é um homem de profunda formação filosófica e teológica, e ajudam por esta razão a ver a continuidade interior entre os dois pontificados, apesar de todas as diferenças de estilo e de temperamento”.

Não é a primeira vez que o Papa emérito manifesta sintonia com seu sucessor, mas nunca o fez com tanta força e clareza. Em outubro de 2015, aconteceu em Roma um congresso teológico sobre a doutrina da justificação. Nessa ocasião, o arcebispo Georg Gänswein leu o texto de uma entrevista que Ratzinger concedeu ao teólogo jesuíta Jacques Servais sobre “o que é a fé e como se chega a crer”.

Naquela entrevista, o Papa Bento XVI citou Francisco, ao refletir sobre a misericórdia: “O homem de hoje geralmente tem a sensação de que Deus não pode deixar a maior parte da humanidade perecer. Nesse sentido, a preocupação com a salvação típica de antigamente quase desapareceu. No entanto, na minha opinião, continua existindo, de outra forma, a percepção de que nós precisamos da graça e do perdão. Para mim, é um ‘sinal dos tempos’ que a ideia da misericórdia de Deus se torne cada vez mais central e dominante – começando com a Ir. Faustina (Kowalska, santa, ndr.), cujas visões, de vários modos, refletem profundamente a imagem de Deus própria do homem de hoje e o seu desejo da bondade divina”.

“O Papa João Paulo II – continua Ratzinger – estava profundamente imbuído desse impulso, embora isso nem sempre emergisse de modo explícito. Mas, certamente, não é por acaso que o seu último livro, que foi publicado pouco antes da sua morte, fale da misericórdia de Deus. A partir das experiências nas quais desde os primeiros anos de vida ele chegou a constatar toda a crueldade dos homens, ele afirma que a Misericórdia é a única verdadeira e última realização eficaz contra a potência do mal. Somente onde há misericórdia, acaba a crueldade, acabam o mal e a violência”.

“O Papa Francisco – continua Bento XVI, citando o seu sucessor – está totalmente de acordo com esta linha. A sua prática pastoral expressa-se justamente no fato de que ele nos fala continuamente da misericórdia de Deus. É a misericórdia que nos move em direção a Deus, enquanto a justiça nos assusta em relação a Ele. A meu ver, isso ressalta que, sob o verniz da autoconfiança e da própria justiça, o homem de hoje esconde um profundo conhecimento das suas feridas e da sua indignidade perante Deus. Ele está à espera da sua misericórdia”.

Em 28 de junho de 2016, por ocasião do 65º aniversário da ordenação sacerdotal de Joseph Ratzinger, realizou-se uma cerimônia na Sala Clementina, da qual participaram o Papa Francisco e seu antecessor.

Bento XVI, em sua breve saudação final, voltou a falar sobre a misericórdia: “Obrigado, primeiramente, a você, Santo Padre! Sua bondade desde o primeiro momento da eleição, em cada momento da minha vida aqui, me surpreende, me comove realmente, interiormente. Mais que nos Jardins do Vaticano, com sua beleza, sua bondade, é o lugar em que vivo: sinto-me protegido. Obrigado também pela palavra de agradecimento, por tudo. E esperamos que possa seguir em frente com todos nós por este caminho da Divina Misericórdia, mostrando o caminho de Jesus, para Jesus, para a Jesus”.

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