Estudo alerta que apenas 8 homens possuem a mesma riqueza que a metade mais pobre do mundo

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14 Janeiro 2017

Apenas oito homens possuem a mesma riqueza que os 3,6 bilhões de pessoas que compõem a metade mais pobre da humanidade, de acordo com um novo relatório publicado pela Oxfam, apresentado hoje na reunião anual de líderes políticos e empresariais em Davos. O documento Uma economia humana para os 99% mostra que a diferença entre ricos e pobres aumenta a cada edição do estudo, numa velocidade muito maior do que a prevista. Os 50% mais pobres da população mundial detêm menos de 0,25% da riqueza global líquida. Nesse grupo, cerca de 3 bilhões de pessoas vivem abaixo da “linha ética de pobreza” definida pela riqueza que permitiria que as pessoas tivessem uma expectativa de vida normal de pouco mais de 70 anos.

A reportagem é publicada por EcoDebate, 13-01-2017.

“O relatório detalha como os grandes negócios e os indivíduos que mais detêm a riqueza mundial estão se alimentando da crise econômica, pagando menos impostos, reduzindo salários e usando seu poder para influenciar a política em seus países”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam no Brasil.

Os números da desigualdade foram extraídos do documento Credit Suisse Wealth Report 2016. (Veja link abaixo.) Segundo a organização, 1 em cada 10 pessoas no mundo sobrevive com menos de US $ 2 por dia. No outro extremo, a ONG prevê que o mundo produzirá seu primeiro trilhardário em apenas 25 anos. Sozinho, esse indivíduo deterá uma fortuna tão alta que, se ele quisesse gastá-la, seria necessário consumir US$ 1 milhão todos os dias, por 2.738 anos, para acabar com tamanha quantia em dinheiro. O discurso da Oxfam em Davos também mostrará que 7 de cada 10 pessoas vivem em países cuja taxa de desigualdade aumentou nos últimos 30 anos.
“Entre 1988 e 2011, os rendimentos dos 10% mais pobres aumentaram em média apenas 65 dólares (US$ 3 por ano), enquanto os rendimentos dos 10% mais ricos cresceram uma média de 11.800 dólares – ou 182 vezes mais”, aponta o documento.

“A desigualdade está mantendo milhões de pessoas na pobreza, fragmentando nossas sociedades e minando nossas democracias. É ultrajante que tão poucas pessoas detenham tanto enquanto tantas outras sofrem com a falta de acesso a serviços básicos, como saúde e educação”, reforça Katia Maia.

O relatório destaca ainda a situação das mulheres que, muitas vezes empregadas em cargos com menores salários, assumem uma quantidade desproporcional de tarefas em relação à remuneração recebida. O próprio relatório do Fórum Econômico Mundial (2016) sobre as disparidades de gênero estima que serão necessários 170 anos para que as mulheres recebam salários equivalentes aos dos homens. Segundo o texto, as mulheres ganham de 31 a 75% menos do que os homens no mundo.

A sonegação de impostos, o uso de paraísos fiscais e a influência política dos super-ricos para assegurar benefícios aos setores onde mantêm seus investimentos são outros destaques do documento da Oxfam.

Uma Economia Humana para os 99% – Outras conclusões do Relatório da Oxfam (Davos, 2017)

• Desde 2015, o 1% mais rico detinha mais riqueza que o resto do planeta.[1]

• Atualmente, oito homens detêm a mesma riqueza que a metade mais pobre do mundo.[2]

• Ao longo dos próximos 20 anos, 500 pessoas passarão mais de US$ 2,1 trilhões para seus herdeiros – uma soma mais alta que o PIB da Índia, um país que tem 1,2 bilhão de habitantes.[3]

• A renda dos 10% mais pobres aumentou em menos de US$ 65 entre 1988 e 2011, enquanto a dos 10% mais ricos aumentou 11.800 dólares – 182 vezes mais.[4]

• Um diretor executivo de qualquer empresa do índice FTSE-100 ganha o mesmo em um ano que 10.000 pessoas que trabalham em fábricas de vestuário em Bangladesh.[5]

• Nos Estados Unidos, uma pesquisa recente realizada pelo economista Thomas Pickety revela que, nos últimos 30 anos, a renda dos 50% mais pobres permaneceu inalterada, enquanto a do 1% mais rico aumentou 300%.[6]

• No Vietnã, o homem mais rico do país ganha mais em um dia do que a pessoa mais pobre ganha em dez anos.[7]

• Uma em cada nove pessoas no mundo ainda dorme com fome[8].

• O Banco Mundial deixou claro que, sem redobrar seus esforços para combater a desigualdade, as lideranças mundiais não alcançarão seu objetivo de erradicar a pobreza extrema até 2030.[9]

• Os lucros das 10 maiores empresas do mundo somam uma receita superior à dos 180 países mais pobres juntos.[10]

• O diretor executivo da maior empresa de informática da Índia ganha 416 vezes mais que um funcionário médio da mesma empresa.[11]

• Na década de 1980, produtores de cacau ficavam com 18% do valor de uma barra de chocolate – atualmente, ficam com apenas 6%.[12]

• A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 21 milhões de pessoas são trabalhadores forçados que geram cerca de US$ 150 bilhões em lucros para empresas anualmente.[13]

• As maiores empresas de vestuário do mundo têm ligação com fábricas de fiação de algodão na Índia que usam trabalho forçado de meninas rotineiramente.[14]

• Embora as fortunas de alguns bilionários possam ser atribuídas ao seu trabalho duro e talento, a análise da Oxfam para esse grupo indica que um terço do patrimônio dos bilionários do mundo tem origem em riqueza herdada, enquanto 43% podem ser atribuídos ao favorecimento ou nepotismo.[15]

• Mulheres e jovens são particularmente mais vulneráveis ao trabalho precário: as atividades profissionais de dois em cada três jovens trabalhadores na maioria dos países de baixa renda consistem em trabalho vulnerável por conta própria ou trabalho familiar não remunerado.[16]

• Nos países da OCDE, cerca de metade de todos os trabalhadores temporários tem menos de 30 anos de idade e quase 40% dos jovens trabalhadores estão envolvidos em atividades profissionais fora do padrão, como em trabalho por empreitada ou temporário ou empregos involuntários em tempo parcial.[17]

• A edição de 2016 do relatório anual do Fórum Econômico Mundial sobre as disparidades de gênero revela que a participação econômica de mulheres ficou ainda mais baixa no ano passado e estima que serão necessários 170 anos para que as mulheres recebam salários equivalentes aos dos homens.[18]

Sugestões da Oxfam para uma economia mais humana

1. Governos que trabalhem para os outros 99%

2. Incentivo à cooperação entre os países

3. Modelos de empresas com melhor distribuição de benefícios

4. Tributação justa à extrema riqueza

5. Igualdade de gênero na economia humana

6. Tecnologia a serviço dos 99%

7. Fomento às energias renováveis

8. Valorização e mensuração do progresso humano

Links

Credit Suisse Wealth Report 2016

Bilionários da Forbes 

Notas

[1] Banco Credit Suisse (2016) “Global Wealth Databook 2016”

[2] Cálculos da Oxfam baseados na riqueza dos indivíduos mais ricos segundo a lista anual de bilionários da Forbes e a riqueza dos 50% mais pobres segundo o relatório Global Wealth Databook do Banco Credit Suisse (2016) [3] UBS Billionaire’s Report de setembro de 2016

[4] D. Hardoon, S. Ayele, e Fuetes Nieva, R., (2016), “Uma Economia para o 1%”. Oxford: Oxfam. 

[5] Cálculos da Ergon Associates baseados em dados sobre os salários de diretores-presidentes estimados pelo High Pay Centre e os pacotes médios de benefícios oferecidos a trabalhadores.

[6] P. Cohen. (2016, December 6). ‘A Bigger Economic Pie, but a Smaller Slice for Half of the U.S’. New York Times.

[7] Nguyen Tran Lam. (2017, no prelo), “Even It Up: How to tackle inequality in Vietnam”. Oxfam.

[8] O Programa Mundial de Alimentos estima que 795 milhões de pessoas no mundo não têm comida suficiente para levar uma ativa saudável. Isso é cerca de uma em cada nove pessoas na terra. https://www.wfp.org/hunger/stats

[9] Banco Mundial (2016), “Poverty and Shared Prosperity 2016: Taking on Inequality”, Washington DC: Banco Mundial doi:10.1596/978-1-4648-0958-3.

[10] Global Justice Now. “Corporations vs governments revenues: 2015 data”

[11] M. Karnik. (6 de Julho de 2015). “Some Indian CEOs make more than 400 times what their employees are paid”.

[12] Site da campanha Make Chocolate Fair.

[13] Protocolo da OIT relativo à Convenção sobre o Trabalho Forçado de 2014.

[14] As empresas implicadas em um estudo realizado em 2012 pela ONG Anti-Slavery International intitulado “Slavery on the High Street: Forced labour in the manufacture of garments for international brands” incluem Asda-Walmart (Reino Unido/Estados Unidos), Bestseller (dinamarquesa), C&A (alemã/belga), H&M (sueca), Gap (americana), Inditex (espanhola), Marks and Spencer (Reino Unido), Mothercare (Reino Unido) e Tesco (Reino Unido) 

[15] D. Jacobs. (2015). “Extreme Wealth Is Not Merited”. Documento para Discussão da Oxfam.

[16] OIT (2015). “Global Employment Trends for Youth 2015”. pág. 49.

[17] OCDE (2015), “In It together: Why Less Inequality Benefits All”. Paris: OECD Publishing. DOI.

[18] World Economic Forum. (2016). ‘The Global Gender Gap Report’.

Sobre a Oxfam – Trata-se de confederação internacional de 20 organizações que trabalham em mais de 90 países, incluindo o Brasil, com o intuito de construir um futuro livre das desigualdades e da injustiça causada pela pobreza. www.oxfam.org.br

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