Madre superiora das carmelitas descalças de Nogoyá, na Argentina, é denunciada por maus tratos

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08 Setembro 2016

O convento das monjas Carmelitas Descalças da cidade de Nogoyá (Argentina) foi alvo da investigação jornalística mediante a qual se descobriu torturas físicas, psicológicas e desnutrição da parte de uma das religiosas em relação ao resto das monjas sob sua tutela.

A reportagem é publicada por Religión Digital, 07-09-2016. A tradução é de André Langer.

Na sexta-feira passada, foi incriminada por “privação ilegítima da liberdade” a madre superiora do convento de Entre Ríos, María Isabel, que nesta quarta-feira foi indagada. A decisão foi tomada pelo promotor de Nogoyá, Federico Uriburu, e tudo aponta para esta irmã, que já foi notificada.

Além da investigação jornalística, conheceu-se nestes dias, graças ao testemunho de uma ex-monja do convento, como foi o calvário que esta e todas as suas companheiras viveram durante os anos que passaram reclusas como carmelitas.

Foi ela quem fez a denúncia por privação ilegítima da liberdade, crime pelo qual foi denunciada na sexta-feira a madre superiora do convento, de acordo com o jornal argentino Clarín.

“Sofri tortura psicológica, castigo físico, fui trancada em uma cela – como chamam os quartos – e recebi duras reprimendas por parte da madre superiora”, revelou a mulher, cuja identidade não foi revelada, ao Canal 13.

Como o caso foi descoberto?

O que aconteceu neste convento argentino foi descoberto graças à investigação realizada pelo jornalista Daniel Enz para a Revista Análisis e que derivou em uma entrada forçada no convento em 25 de agosto passado.

Na reportagem, são detalhados as condições de vida e os castigos intramuros, tais como: desnutrição, autoflagelação, uso do chicote, cilício e mordaças, entre outros instrumentos de tortura.

De acordo com o portal Urgente24.com, a Justiça da Província entrou no convento das carmelitas onde “se encontram os instrumentos de castigo denunciados pela investigação jornalística da Análisis, como declarou o promotor Federico Uriburu. O objetivo desta investigação era estabelecer o crime de privação ilegítima da liberdade agravada contra as monjas que se encontram neste claustro.

Uriburu revelou que a madre superiora “ofereceu resistência” ao procedimento judicial e que “teve que utilizar a força para entrar, porque a entrada estava sendo obstruída, motivo pelo qual teve que abrir a porta do convento à força”.

O promotor informou que “não houve necessidade de revistar cada quarto, porque uma vez vencida a resistência inicial da parte da madre superiora, ao revistar algumas dependências, apresentou-se de forma voluntária uma quantidade de cilícios e chicotes, que são pequenos fustes de cerca de 30 a 40 centímetros”.

O médico das religiosas também foi investigado, embora, segundo explicou Uriburu, “se esteja fazendo uma revista muito superficial, porque, devido a uma questão religiosa e do modo de vida, não houve um exame que envolvesse a invasão da intimidade de cada uma delas”.

O padre e pároco da Basílica de Nossa Senhora do Carmo, Jorge Bonin, disse que “isto é muito doloroso, são questões que não entendo”.

O calvário das Carmelitas Descalças

A maioria das 18 carmelitas do convento entrou com 18 anos, embora algumas o fizeram aos 16 anos, razão pela qual tiveram que fazê-lo com a permissão dos pais.

A investigação revelou as torturas que as carmelitas descalças do convento de Nogoyá sofreram durante quase dois anos e durante a qual foram entrevistadas ex-religiosas, familiares destas e profissionais da saúde da mencionada localidade.

Houve casos de desnutrição e testemunhos que estavam proibidas de falar sobre o que acontecia no convento. Também era proibido abraçar seus familiares, dar-lhes a mão e inclusive conheceu-se um caso de uma delas que não pôde ver seu pai durante 10 anos por ter-se divorciado da sua mãe, pecado pelo qual no convento era considerado “um pecador público”.

As religiosas não podiam sequer olhar-se no espelho, por ser considerado um símbolo de “vaidade”. Se alguma delas o fizesse, era imediatamente castigada. Havia inclusive ocasiões em que podiam tomar banho apenas uma vez a cada sete dias.

Todas as semanas, como prática habitual, tinham que se autoflagelar nuas, dando-se chicotadas durante 30 minutos. Este castigo compreendia também viver a “pão e água” durante uma semana ou o uso do cilício entre as pernas durante vários dias como forma de sacrifício. Outro castigo era o uso de uma mordaça na boca durante 24 horas e em um espaço de sete dias.

Durante a visita de um familiar, uma monja sempre ficava de “testemunha” para escutar as conversas e prevenir que não se falasse de “questões mundanas”, pois, se a madre superiora soubesse do descumprimento destas normas, o castigo era a consequência direta.

Quanto à privacidade das religiosas, esta era nula, uma vez que todas as cartas que lhes chegavam eram abertas e lidas previamente. Também as correspondências que saíam do convento eram controladas, com o agravante de que na maioria dos casos tinham que ser reescritas e recebiam ordens expressas sobre o que podiam transmitir aos seus familiares nessas cartas.

Nenhuma das monjas podia tirar uma fotografia com sua mãe, pai ou irmão, porque com a imagem “podem fazer alguma bruxaria”. O castigo também compreendia permanecer cerca de duas horas de joelhos, na presença de outras, tendo que ouvir um duro sermão da superiora.

No que se refere aos cuidados médicos, esta era mínima e não havia consulta psicológica. De fato, várias das ex-monjas estão com tratamentos psicológicos em Entre Ríos ou Santa Fe devido às sequelas.

Além disso, segundo se sabe, muitas das internas sofreram profundas depressões e optaram por renunciar ou inclusive tentar o suicídio.

Caso ficassem doentes, nenhum familiar podia saber, e recorria-se aos cuidados médicos apenas em última instância, já que primeiro se proporcionava a medicação receitada pelas autoridades religiosas.

O arcebispo de Paraná, que deveria ter exercido a autoridade sobre o convento, nunca vez nada para informar-se sobre a situação, assim como também não se ocuparam, em seus mandatos, o bispo Estanislao Esteban Karlic, nem o padre Mario Maulión.

Esta arrepiante história é real e aconteceu a cerca de 100 quilômetros de Paraná, onde nenhum morador da comunidade conhecia realmente o que acontecia devido “ao voto de silêncio” ao qual estavam obrigadas a cumprir cada uma das 18 religiosas que ali se encontravam.

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