Redescobrindo a “Maria bíblica” contra os estereótipos da cultura machista

Foto: Ruth Gledhill/Unplash

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19 Dezembro 2025

“Os frutos da renovação mariológica ainda não chegaram à pregação e à formação dos fiéis. Se a devoção e a piedade popular são elementos a serem valorizados, a dimensão da fé deve ser acompanhada e purificada”. E o antídoto para evitar cair nos estereótipos ligados à figura da Mãe de Cristo, “nascidos da história e da cultura, continua sendo a Escritura com sua interpretação, incluindo a hermenêutica feminista que tem um olhar mais atento sobre a vida das mulheres”. Essa é a análise expressa pela teóloga Irmã Linda Pocher, das Filhas de Maria Auxiliadora, durante um webinar promovido nos últimos dias pelo grupo editorial Il Portico para aprofundar o conteúdo da Nota “Mater populi fidelis”, publicada em 7 de outubro passado pelo Dicastério para a Doutrina da Fé, que trata de alguns títulos marianos referentes à cooperação de Maria na obra da salvação, indicando a maneira correta de compreender seu papel na Igreja e na vida cristã.

A reportagem é de Laura Badaracchi, publicada por Avvenire, 18-12-2025.

"Esse documento marca uma melhoria no clima do debate eclesiástico público", comentou Alberto Melloni, historiador da Igreja e presidente do grupo editorial Il Portico, convicto de que "na fé popular existe uma quantidade considerável de estereótipos patriarcais ou machista-patriarcais, mas também muitos outros elementos que apontam na direção oposta. Na arte, por exemplo, há a capacidade de explorar a presença de Maria que caminha ao lado das pessoas". Falando em estereótipos, "uma certa antropologia", observou a teóloga Selene Zorzi, "criou uma grade com uma visão dicotômica que vem do mundo patriarcal, da encarnação das projeções masculinas sobre as mulheres. Nessa perspectiva, Maria tornou-se o ideal do estereótipo feminino, mas a Maria bíblica desaparece. A Nota tem o mérito de reinseri-la no âmbito do capítulo 8 da Lumen Gentium, que procurou integrar todo o discurso mariano no discurso eclesial”.

Segundo a Irmã Pocher, nas livrarias, com o livro “Maria di Nazaret. Una biografia teologica” (Ed.), Maria é “uma pessoa viva com quem podemos caminhar juntos no processo sinodal que a Igreja nos convida a empreender. A Nota do Dicastério não pretende encerrar definitivamente a reflexão sobre o tema inerente aos dois títulos marianos, “corredentora” e “mediadora”: parece-me ser mais um sintoma da complexidade da questão. O problema não é que Maria não deva competir com Deus. A gratuidade de Deus não se resolva numa nossa passividade total, e a graça não é uma influência mágica, mas uma relação na qual se entra. O grande desafio? Perguntarmo-nos como Maria, com sua experiência pessoal, histórica e espiritual, poderia nos ajudar a compreender como Deus age em nossas vidas e como podemos colaborar com Ele.”

Segundo o teólogo Padre Fabrizio Bosin, da Ordem dos Servos de Maria, na Nota “há uma recuperação da condição de criatura e da fé de Maria. É por isso que Santo Agostinho dizia que para Maria é mais valioso ter sido discípula de Cristo do que sua mãe. Em última análise, ela é a primeira e mais perfeita discípula de Cristo. Para todo cristão, ela é aquela que primeiro acreditou. Ela age em todos aqueles que se colocam sob sua proteção como filhos e o faz com um afeto repleto de sinais, de proximidade que os ajuda a crescer em sua vida espiritual, ensinando-os a deixar a graça de Cristo agir cada vez mais, a protegê-la e a meditar sobre a obra que Deus realiza em suas vidas”.

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