29 Outubro 2025
Netanyahu ordenou na noite de ontem “bombardeios contundentes” sobre a Faixa após acusar a milícia palestina de violar o acordo de cessar-fogo. Os primeiros ataques tiveram como alvo a Cidade de Gaza. Trump justifica os bombardeios israelenses sobre Gaza em plena trégua: “Tinham matado um soldado, precisavam responder”.
A informação é de Francesca Cicardi, publicada por El Diário, 28-10-2025.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ordenou a seu exército na noite desta terça-feira realizar “bombardeios contundentes” contra Gaza após novos desentendimentos com o grupo palestino Hamas, que Israel acusa de violar o acordo de cessar-fogo em vigor desde 10 de outubro. Pouco depois, começaram os ataques aéreos e de artilharia em diferentes pontos da Faixa. Pelo menos 91 palestinos morreram, incluindo 24 crianças e 7 mulheres, segundo fontes das morgues dos hospitais do enclave e da Defesa Civil Palestina. Israel anunciou nesta quarta-feira que voltava a respeitar o cessar-fogo a partir das 10h (9h em Madri).
Trump envia Marco Rubio para se reunir com Netanyahu enquanto JD Vance está em Israel para tentar salvar o precário cessar-fogo com o Hamas.
“De acordo com as diretrizes do nível político e após uma série de ataques em que dezenas de alvos e militantes terroristas foram atingidos em resposta às violações do Hamas, as Forças de Defesa de Israel (FDI) voltaram a aplicar o cessar-fogo”, afirmou o exército israelense em comunicado.
Em uma breve nota anterior na rede social X, o gabinete de Netanyahu não justificou sua decisão, tomada após um dia de acusações contra o Hamas pela entrega, na noite de segunda-feira, dos restos mortais de um refém israelense que não correspondiam a nenhum dos 13 corpos ainda retidos em Gaza e que o grupo islâmico deve devolver a Israel conforme o acordo de cessar-fogo.
Os restos entregues foram identificados por exame forense como pertencentes a um cativo cujo corpo já havia sido recuperado em 2023 pelas tropas israelenses na Faixa e enterrado.
Após essa identificação, o governo israelense convocou uma reunião de emergência com os altos comandantes de segurança para estudar uma retaliação, em meio a apelos em Israel por uma resposta “contundente” às supostas violações do acordo pelo Hamas. O Fórum das Famílias dos Reféns e Desaparecidos exigiu a suspensão do acordo com o grupo islâmico até que todos os corpos sejam devolvidos.
Os primeiros bombardeios de terça-feira à noite tiveram como alvo a Cidade de Gaza, no norte do enclave. Um míssil atingiu uma área próxima ao Hospital Al Shifa, que tem sido alvo repetido de ataques israelenses. Outro bombardeio contra uma residência no sul da cidade causou quatro mortes e vários feridos, segundo fontes palestinas. De acordo com a agência Wafa, havia crianças entre as vítimas.
Outro ataque à localidade de Khan Yunis, no sul da Faixa, deixou pelo menos cinco mortos. Um morador do campo de deslocados de Al Mawasi, também no sul, disse ao elDiario.es que aviões de combate e drones israelenses sobrevoaram a área durante a noite.
“Choques” prévios em Rafah Antes da ordem de Netanyahu, já haviam ocorrido confrontos entre o exército israelense e supostos membros do Hamas em Rafah (sul de Gaza), segundo informou um oficial à Agência EFE. Após esses enfrentamentos, as tropas israelenses lançaram ataques contra a região.
O ministro da Defesa, Israel Katz, afirmou que “o Hamas pagará um alto preço por atacar os soldados das Forças de Defesa de Israel em Gaza” e por “violar o acordo de repatriação dos reféns mortos”. Segundo ele, “o ataque de hoje contra soldados das FDI em Gaza pela organização terrorista Hamas ultrapassa uma linha vermelha, e as FDI responderão com grande contundência”.
O jornal Haaretz informou que atiradores do Hamas abriram fogo e lançaram um míssil antitanque contra as forças israelenses que realizavam “operações de engenharia” perto de Rafah, provocando resposta de artilharia. O Hamas negou envolvimento e reafirmou seu compromisso com o cessar-fogo, denunciando os “bombardeios criminosos” de Israel como “flagrante violação do acordo”, que contou com o “patrocínio do presidente dos EUA, Donald Trump”.
O governo de Trump, que elaborou o acordo para pôr fim à guerra, tem se empenhado em manter o frágil cessar-fogo, apesar das acusações mútuas. O vice-presidente, o chanceler e outras figuras-chave dos EUA viajaram a Israel para pressionar o aliado e garantir que a ofensiva contra a Faixa — que durou mais de dois anos e matou quase 70 mil pessoas — não seja retomada.
Segundo o Haaretz, o governo israelense também busca aumentar a pressão sobre o Hamas para a devolução dos corpos ainda retidos. Uma das opções discutidas seria ampliar a chamada “linha amarela” em Gaza, onde as tropas israelenses permanecem desde a retirada de 10 de outubro. O exército mantém presença em mais de 50% do território da Faixa.
Desde a entrada em vigor do cessar-fogo, há menos de vinte dias, 94 palestinos foram mortos e mais de 300 ficaram feridos por fogo israelense.
Em 19 de outubro, um suposto confronto entre a polícia do Hamas e tropas israelenses em Rafah desencadeou uma onda de bombardeios que matou mais de 45 palestinos. Ainda assim, o acordo não colapsou.
Após o anúncio de Netanyahu na terça-feira à tarde, o Hamas declarou que não entregará o corpo de um refém como estava previsto e alertou: “Qualquer escalada sionista dificultará as operações de busca e recuperação dos corpos, o que levará a atrasos na devolução dos mortos da ocupação israelense”.
Trump justifica os bombardeios israelenses sobre Gaza em plena trégua: “Tinham matado um soldado, precisavam responder”.
O Hamas já entregou mais de vinte corpos desde 10 de outubro e alega dificuldades para localizá-los entre os escombros e a destruição. No entanto, familiares acusam o grupo de prolongar o sofrimento ao adiar as entregas. Israel, por sua vez, devolveu dezenas de corpos palestinos, que, segundo trabalhadores da saúde e parentes, apresentavam sinais de tortura e maus-tratos — alguns nem sequer puderam ser identificados.
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