28 Outubro 2025
A teóloga vienense Regina Polak alerta contra uma avaliação inteiramente positiva do retorno à religião entre os jovens observado em alguns países ocidentais. A avaliação desse fenômeno por alguns bispos como um "sinal do céu" é problemática, visto que as descobertas das ciências sociais e da educação religiosa sobre essa inesperada "nova" religiosidade são muito "terrenas", escreve a professora de teologia prática e diálogo inter-religioso em um comentário para a revista "Herder Korrespondenz" (edição de novembro).
A informação é publicada por Katholisch, 27-10-2025.
Lidar de forma responsável com o interesse religioso renovado
Os resultados também devem ser vistos "no contexto da dinâmica identitária-política, isto é, como um anseio por um pertencimento seguro e livre de ambivalências em sociedades cujas múltiplas crises levam muitos jovens a buscar apoio, orientação e refúgio", continuou Polak. Rituais que estruturam a vida cotidiana, respostas claras a perguntas complexas, experiências espirituais e tradições antigas desconhecidas tornam a religião uma opção atraente. "A ignorância das realidades da Igreja e seus fardos possibilita encontros imparciais". Em contraste, o exame intelectual ou crítico da religiosidade, especialmente de seu lado obscuro, é significativamente menos atraente. "O fator decisivo é se a religião 'funciona' na vida cotidiana do indivíduo, ou seja, se ela ajuda na vida".
Na visão de Polak, a liderança da igreja, os cuidadores pastorais e os líderes religiosos são obrigados a lidar com o interesse religioso recém-despertado dos jovens de uma maneira teologicamente responsável: "Eles não devem sucumbir à tentação de ver os jovens principalmente como o futuro e a estabilização de sua igreja em crise, nem devem ficar aliviados pelo surgimento de uma geração que faz menos perguntas críticas e pouco se interessa por reformas e estruturas". Embora a profundidade espiritual, as experiências religiosas e as questões que muitos desses jovens trazem para uma igreja que envelheceu e se cansou sejam de fato um presente, ele argumenta: "os jovens não servem para garantir o futuro de uma instituição que está exausta na Europa".
“Os jovens podem mudar a igreja com seus dons”
Segundo Polak, os jovens não devem, portanto, ser simplesmente incorporados às estruturas existentes dentro das comunidades religiosas. "Ao contrário, como presença da Igreja, eles podem transformar essas estruturas com seus dons. Para isso, porém, os aspectos teologicamente problemáticos de sua religiosidade também devem ser reconhecidos e levados a sério, incluindo a funcionalização individualista, a tentação de garantir a identidade, o anseio por retraimento e a tendência ao anti-intelectualismo".
Para que a tendência dos jovens em direção à religião se torne verdadeiramente um "sinal do céu", não apenas o número de jovens religiosos é decisivo, "mas também devemos lutar juntos pela qualidade dessas religiosidades", disse a teóloga.
Na França, entre outros países, o número de jovens batizados aumentou nos últimos tempos. Só na Páscoa deste ano, cerca de 7.400 jovens entre 11 e 17 anos foram batizados no país.
Leia mais
- Teólogo pastoral: jovens buscam cada vez mais apoio na religião
- Segundo a teóloga Polak, a igreja é parcialmente culpada pela perda da fé
- "Entre os jovens, as religiões se esfacelam, mas as espiritualidades florescem". Entrevista com Jean-Pierre Willaime
- Na França, o fenômeno religioso reconfigurado
- Pós-religião? Na França, ganham força os "jovens fanáticos"
- Jovens europeus cada vez mais distantes da religião
- Os jovens católicos franceses são mais conservadores que os adultos
- O milagre da Geração Z: a religião virou ‘trending topic’. Artigo de Anna Ferri
- Desvinculação religiosa entre os jovens é maior do que a adesão ao pentecostalismo. Entrevista especial com Silvia Fernandes