30 Outubro 2025
"O Manual de Catequética é uma obra estratégica e de referência no campo da catequese, equilibrando tradição e inovação, teoria e prática. Sua abordagem multidimensional: histórica, bíblica, litúrgica, pastoral e social, reforça o papel da catequese como instrumento de evangelização e formação integral", escreve Eliseu Wisniewski, presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos), Província do Sul, mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Eis o artigo.
O Manual de Catequética (Edições CNBB, 2025, 428 páginas), surge como uma contribuição robusta e atualizada para a reflexão e prática da catequese no Brasil, consolidando o esforço da Sociedade Brasileira de Catequetas (SBCat) em oferecer subsídios teóricos e práticos para a formação de catequistas, coordenadores (as) de catequese, seminaristas estudantes nos cursos de pós-graduação e especialização, religiosos (as) e presbíteros. A obra se distingue por sua amplitude, abrangendo tanto os fundamentos históricos, bíblicos e eclesiológicos da catequese quanto as dimensões pastorais contemporâneas, como a cultura e integração digital, a dimensão social e a ecologia.
O Manual de Catequética. (Foto: Reprodução/Edições CNBB)
A divisão da obra em três partes: Comunhão, Participação e Missão, demonstra coerência com a perspectiva de uma Igreja sinodal, na qual a catequese não se limita a transmissão de doutrina, mas envolve participação ativa, formação comunitária e engajamento missionário. A sequência de capítulos, do estudo conceitual à aplicação prática, permite ao leitor compreender a catequese de forma gradual, integrando teoria e prática pastoral. Essa organização facilita o uso da obra tanto em contextos acadêmicos quanto pastorais.
O Manual reúne diversos especialistas, o que garante pluralidade de perspectivas e rigor acadêmico. Destaca-se a atenção à fundamentação bíblica (capítulos sobre Escrituras e catequese), à Tradição e ao Magistério, bem como à experiência pastoral concreta. Ao mesmo tempo, o tratamento das questões contemporâneas: ecologia, comunicação digital, protagonismo dos interlocutores, indica sensibilidade às demandas do mundo atual e ao contexto brasileiro.
O Manual se apoia na tradição catequética, especialmente na catequese de inspiração catecumenal, mas ao mesmo tempo busca responder aos desafios do presente, promovendo uma catequese encarnada na realidade social, cultural e digital. Ao enfatizar o catequista como mediador da ação divina e não apenas transmissor de informações, a obra reforça a ideia de um discipulado transformador e missionário, coerente com a visão do Concílio Vaticano II e a Exortação Evangelii Gaudium do Papa Francisco.
Um dos pontos fortes do Manual é a sua aplicabilidade: ele não se restringe à reflexão teórica, mas oferece diretrizes concretas para a formação de catequistas e a condução de processos catequéticos. A atenção à dimensão pedagógica, à iniciação cristã e à integração litúrgica proporciona subsídios claros para a prática ministerial.
Embora a obra seja abrangente, a grande quantidade de autores e a diversidade de enfoques podem gerar certa fragmentação na leitura, exigindo do leitor atenção para integrar as perspectivas apresentadas. Além disso, apesar de abordar a cultura digital e o protagonismo dos interlocutores, poderia aprofundar ainda mais o diálogo com outras formas de religiosidade contemporânea ou com metodologias interculturais de catequese em contextos plurais.
No panorama brasileiro, a obra representa uma inovação significativa, ao consolidar um itinerário sistemático de formação catequética que articula tradição, teologia e prática pastoral. Ela se mostra particularmente relevante para comunidades locais, oferecendo um suporte que valoriza a experiência de fé comunitária e individual, fortalecendo a compreensão da catequese como processo integral de formação cristã.
O Manual de Catequética é uma obra estratégica e de referência no campo da catequese, equilibrando tradição e inovação, teoria e prática. Sua abordagem multidimensional: histórica, bíblica, litúrgica, pastoral e social, reforça o papel da catequese como instrumento de evangelização e formação integral. Constitui, portanto, um recurso imprescindível para catequistas, coordenadores e formadores, ao mesmo tempo que oferece subsídios críticos e reflexivos para o aprofundamento acadêmico e pastoral.
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