22 Outubro 2025
A Rússia permanece firme e hesita, depois acusa a UE de sabotagem. A Casa Branca: "A cúpula Trump-Putin não acontecerá tão cedo."
A reportagem é de Rosalba Castelletti, publicada por La Repubblica, 22-10-2025
Não haverá encontro entre Vladimir Putin e Donald Trump em Budapeste. Não num "futuro próximo". Tudo está em suspenso menos de uma semana após o telefonema que parecia ter aberto caminho para uma segunda cúpula entre os dois líderes. Mais uma reviravolta ocorreu após a conversa telefônica entre os chefes da diplomacia russa e americana, Sergei Lavrov e Marco Rubio. O ministro das Relações Exteriores russo reiterou mais uma vez que Moscou se opõe a um cessar-fogo na Ucrânia, frustrando assim as esperanças americanas de pelo menos congelar a linha de frente.
O fato é que nenhum dos líderes pode se dar ao luxo de repetir a fracassada cúpula de meados de agosto no Alasca. Mas os detalhes permanecem os mesmos e, portanto, o resultado final permaneceria inalterado. Trump quer um resultado imediato que possa ostentar. Se não a paz, pelo menos uma trégua, um congelamento da linha de frente. Putin, por outro lado, almeja um acordo de paz "duradouro e sustentável" que aborde o que ele chama de "causas profundas" do conflito, mas em seus próprios termos, que são sempre os mesmos — "maximalistas", como disse uma autoridade à CNN.
Segundo a Reuters, a Rússia reiterou esses termos enviando aos EUA um chamado "non-paper", um documento informal e privado: da anexação de todo o Donbass, ou seja, as regiões ucranianas de Donetsk e Lugansk, à não mobilização de forças da OTAN na Ucrânia, um acordo foi alcançado. Quando se encontrou com o presidente ucraniano em Washington na sexta-feira, Trump tentou convencê-lo a abrir mão do Donbass para que pudesse oferecê-lo a Putin, mas Volodymyr Zelensky hesitou. Daí o impasse. Trump continua "andando em círculos", disse uma autoridade ucraniana à AFP.
Tanto Washington quanto Moscou tentaram amenizar a situação. Nenhum dos dois abandonou publicamente os planos de uma reunião. A Casa Branca declarou que o telefonema entre Rubio e Lavrov foi "produtivo", mas que os dois concordaram que o encontro presencial "não era necessário" e que, consequentemente, o encontro entre os dois líderes, que, segundo Trump, deveria ocorrer "dentro de duas semanas", também seria suspenso. "Uma reunião presencial adicional entre o secretário de Estado e o ministro das Relações Exteriores não é necessária, e não há planos para um encontro entre Trump e Putin em um futuro próximo."
A Rússia, por sua vez, minimizou a situação. Lavrov disse que o local e a data da próxima cúpula Trump-Putin eram menos importantes do que o conteúdo, mas garantiu que "continuaria o contato telefônico" com Rubio. Enquanto isso, o Kremlin explicou que a cúpula exige "preparação séria" e, portanto, "tempo". "Há um entendimento entre os presidentes, mas não podemos adiar o que ainda não foi finalizado. Nem o presidente Trump nem o presidente Putin têm datas específicas."
Uma abordagem circunlocutória para disfarçar um cenário familiar. Assim como quando, em agosto passado, Trump anunciou uma reunião trilateral iminente com Putin e Zelensky, Moscou pediu tempo e, no final, nada aconteceu. Tanto que o ministro das Relações Exteriores da Hungria, Peter Szijjarto, em visita a Washington, escreveu no Facebook: "Dias agitados estão por vir". Hoje, o secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, voou para Washington para se encontrar com Trump. Com pouca esperança de causar algum impacto significativo.
"Acho que os russos queriam demais, e ficou claro para os americanos que não haveria acordo para Trump em Budapeste", comentou um diplomata da UE à Reuters. "Os russos não mudaram de posição e não concordam em 'ficar onde estão'. Presumo que Lavrov tenha feito seu discurso habitual e Rubio tenha dito: 'Até logo'." Mas mesmo antes de ficar claro o quanto a cúpula húngara estava em risco, o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, já havia apontado o bode expiatório, acusando os países da UE e da OTAN de "trabalharem para obstruir tudo, prejudicar a Rússia, minar nossas posições e dificultar a solução dos problemas que enfrentamos". A UE, disse ele, "é a força mais destrutiva no cenário internacional".
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