07 Outubro 2025
Mesmo com obras, saneamento básico ainda é um problema para a maior parte da população.
A reportagem é publicada por climaInfo, 06-10-2025.
Belém é uma cidade conhecida pelo povo acolhedor, culinária e cultura pulsantes e coloridas. Mas é também uma das cidades com maior desigualdade social no Brasil. Uma análise da Agência Pública detalhou os problemas de moradia, energia, saneamento básico, alimentação e arborização pelos olhos de quem reside e estuda a cidade.
Um mergulho nas raízes históricas de Belém, que começou com um pedaço de terra doado pela coroa portuguesa no século XVII, explica o caso da metrópole de 1,5 milhão de habitantes onde bairros centrais como Umarizal, Nazaré e Batista Campos possuem infraestrutura completa – calçadas largas, arborização, praças, esgoto tratado – enquanto a “área de expansão” e periferias são uma colcha de retalhos marcada pela autoconstrução.
Bairros de “borda”, próximos ao centro (região nobre), têm o metro quadrado custando, em média, R$ 64,90. A prefeitura não atualiza os valores, conta o professor Raul Neto, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará (UFPA). “A prefeitura não tem uma política de pesquisa sistemática sobre o preço de venda de imóveis ou de aluguel. O que a gente faz aqui na universidade é coletar preço de OLX, de site, e vai tentando extrair as médias até chegar num valor aproximado”, explica.
Com a COP30 se aproximando, a ausência de transparência se agravou. Proprietários têm rescindido contratos para colocar imóveis no mercado de temporada – a redução da oferta tem afetado o aluguel para os residentes, que já não é barato. Os moradores temem que o patamar permaneça alto mesmo depois do evento, fenômeno observado no Rio de Janeiro durante a Copa de 2014 e as Olímpiadas de 2016.
Casas na periferia que estão sendo removidas para as obras de saneamento básico. O que deveria ser um alívio – tendo em vista que 91% da cidade não tem acesso a tratamento de esgoto – também serve ao interesse do mercado imobiliário de valorização e verticalização, explica a professora Roberta Menezes Rodrigues, da FAU-UFPA. São 12 canais em obras pela cidade e mais de 500 residências removidas sob pressão para a continuação das obras.
O número pode aumentar. Como a Folha informou, o governo paraense confirmou que parte das obras de saneamento e macrodrenagem devem ficar para 2026. De acordo com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, isso não significa que as obras estejam paradas, apenas que são complexas e funcionam por etapas. “Uma obra de macrodrenagem dessa dimensão e uma obra de esgotamento nunca poderiam ficar prontas dentro do prazo da COP, e isso nunca foi dito”.
Além do aluguel, Belém também possui as tarifas elétricas mais caras do país – mesmo sendo o Pará um grande produtor. O custo do quilowatt-hora (kWh) chega a R$ 0,962 no Pará, enquanto na média nacional é de R$ 0,731. Os motivos são vários, como a vasta extensão do território e a baixa densidade populacional.
A desigualdade também está escancarada na presença diferenciada de arborização e, por conseguinte, na temperatura ambiente, em bairros ricos e em periféricos. Dados exclusivos obtidos pelo Sumaúma mostram que 82% da população vive em ruas sem árvores. Na comparação com bairros de elite arborizados, a diferença média de temperatura chega a 8°C. Essa disparidade na temperatura reflete uma política urbana que não pensa na arborização como um direito para todos.
O Ministério Público Federal (MPF) se preocupa com o possível colapso do sistema de saúde de Belém durante a COP30. O órgão enviou uma nota na última 5ª feira (2/10) a entes municipais, estaduais e federais recomendando a criação de um hospital de campanha durante o evento, informa a Folha.
Em resposta, a Secretaria Estadual de Saúde do Pará afirmou que “o estado possui uma ampla rede assistencial preparada para o atendimento no período do evento”. Já o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou na 6ª feira (3) a abertura de um novo pronto-socorro no hospital Beneficente Portuguesa, que funcionará pelo Sistema Único de Saúde (SUS), destaca o g1.
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