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COP30 em Belém: o espelho turvo do verde e o fracasso anunciado de um sonho climático. Artigo de Paulo Baía

Foto: Fernanda Ligabue/Greenpeace

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07 Outubro 2025

Cidade que deveria simbolizar o futuro do planeta carrega nas costas o peso de um passado não resolvido. Faltam moradias dignas, saneamento, transporte, e sobram contrastes.

O artigo é de Paulo Baía, sociólogo, cientista político, ensaísta e professor da UFRJ, publicado por Agenda do Poder, 04-10-2025.

Eis o artigo.

O Brasil quis ser o coração do planeta. Quis anunciar ao mundo que o pulmão da Terra, a Amazônia, seria também o pulmão moral de uma nova era ecológica. Em nome dessa utopia verde, a COP30 foi entregue a Belém do Pará como um presente simbólico, um gesto poético de reparação e protagonismo. No discurso, parecia perfeito: o encontro das nações diante do verde que sustenta o oxigênio do mundo, o reencontro do humano com a natureza, o clamor da floresta acolhendo os homens que decidiram ouvir o vento e as águas. Mas o símbolo, como tantas vezes na história, dissolveu-se diante da realidade. E o que era sonho virou contradição.

Belém, a porta de entrada da Amazônia, é mais do que floresta. É metrópole em convulsão. É cidade viva e ferida, com desigualdades que saltam das calçadas rachadas, com pobreza que habita o mesmo espaço onde agora se anunciam hotéis de luxo e mansões para estrangeiros endinheirados. A cidade que deveria simbolizar o futuro do planeta carrega nas costas o peso de um passado não resolvido. Faltam moradias dignas, saneamento, transporte, e sobram contrastes: os palafitas convivem com os palácios, a fome espreita os banquetes, o abandono habita as avenidas.

Dizer que Belém é o “coração da floresta” soa bonito, mas é também uma espécie de engano retórico. A floresta, ali, já se misturou ao concreto, ao barulho dos ônibus, à fumaça das churrasqueiras de rua, ao suor do trabalhador que atravessa a cidade em busca de sustento. A COP30, quando escolhida para Belém, quis falar de natureza, mas encontrou uma cidade humana, desigual, conflituosa, e sobretudo impreparada. E agora, com o evento batendo às portas, o que se anuncia é o espetáculo da contradição: uma conferência que deveria discutir a justiça climática se tornando vitrine de injustiças sociais.

A crise de hospedagem, que muitos tentam tratar como detalhe logístico, é na verdade o sintoma visível de algo mais profundo: a captura do espírito da COP pela lógica do lucro. Hotéis multiplicaram seus preços por dez, por quinze, por vinte. Quartos simples se tornaram artigos de luxo. Casas de bairro, antes acessíveis, são oferecidas por cifras que insultam a pobreza ao redor. Um antigo motel que cobrava setenta reais por uma noite passou a exigir dois mil. Residências foram listadas por milhões. O mercado imobiliário, embalado pela retórica do evento, transformou o verde da floresta em verde de cédulas. A COP, antes mesmo de começar, já é um negócio.

Belém está sendo consumida pelo próprio espetáculo que a projetou. O que era para ser encontro de nações se converte em leilão de diárias. O que era para ser pacto por um mundo mais justo se transforma em exclusão de países pobres, de movimentos sociais, de organizações populares, de ambientalistas que lutam pela floresta e agora não conseguem sequer dormir em seu entorno. Não há espaço para todos. Há espaço apenas para quem pode pagar.

O governo federal prometeu agir. O presidente Lula anunciou que não permitiria a “extorsão” dos preços. Fala-se em controle, em medidas, em fiscalizações. Mas até agora, nada de concreto se materializou. O Estado parece refém da própria inércia. Há promessas vagas, discursos bem-intencionados, reuniões de emergência. Mas a realidade é que os hotéis continuam cobrando o que querem, os restaurantes se preparam para elevar os cardápios a preços inacessíveis, e os aluguéis por temporada seguem crescendo de forma delirante.

É um escândalo anunciado, e o mais grave é o silêncio. As militâncias progressistas, tão rápidas em denunciar injustiças, desta vez calam. Fingem não ver. A esquerda institucionalizada, que sempre denunciou a ganância do capital, parece não querer manchar o verniz do evento que o Brasil tanto exibe ao mundo. No Congresso, reina o mutismo cúmplice. Nos jornais, algumas notas tímidas, sem indignação. As televisões preferem mostrar as belezas naturais, as cores das frutas, o sorriso das crianças, o folclore da Amazônia, enquanto o povo local é desalojado para que a cidade se torne vitrine temporária de um espetáculo global.

É possível imaginar a ironia: uma conferência sobre o clima que se aquece de especulação. Um evento sobre justiça ambiental onde os pobres não entram. Uma celebração da Amazônia que empurra os amazônidas para fora. A COP30 está se tornando um monumento ao descompasso entre discurso e prática, entre ideal e realidade, entre ecologia e economia.

O drama da hospedagem não é apenas um problema logístico: é o retrato de um fracasso político e moral. Os países mais pobres já sinalizam dificuldades para enviar delegações. Organizações não governamentais reavaliam suas participações. Ativistas que dedicaram a vida à causa ambiental simplesmente não terão onde ficar. E, por trás dessa exclusão, o silêncio dos que poderiam intervir grita mais alto que qualquer protesto.

A ONU chegou a discutir limites de gastos e subsídios. Mas o valor proposto para as diárias dos participantes não cobre nem um terço do que se cobra em Belém. A ajuda internacional é simbólica, insuficiente, e o governo brasileiro parece incapaz de apresentar uma solução real. Assim, a COP30 ameaça transformar-se em uma conferência para poucos. Os mesmos de sempre. As grandes corporações, as delegações dos países ricos, os executivos de bancos e de petroleiras “verdes” que discursam sobre sustentabilidade enquanto embarcam em jatinhos privados.

É nesse contexto que surge um novo drama: a realização da Cúpula dos Povos, encontro internacional da sociedade civil, inspirada no espírito do Fórum Global da Conferência Rio 92, corre sério risco de não acontecer como planejado. Seria o grande espaço de resistência, o contraponto ético e popular à COP oficial, a arena dos movimentos sociais, indígenas, ambientais, feministas, quilombolas, sindicais e estudantis. Mas os mesmos preços extorsivos que expulsam delegações oficiais agora ameaçam silenciar a sociedade civil. Hospedagens inviáveis, aluguéis absurdos, bloqueios especulativos — tudo parece conspirar contra a presença dos povos que lutam por um outro mundo possível. O sonho de uma Cúpula dos Povos na periferia de Belém, no coração da Amazônia, está sendo minado pela mesma lógica mercantil que destrói a floresta. A utopia da participação popular se esvai sob o peso da ganância imobiliária.

A ironia é devastadora: os povos que mais sofrem com a mudança climática, os que vivem nas margens, nas aldeias, nas periferias, são os primeiros a serem excluídos de um evento que deveria amplificar suas vozes. O espaço da escuta cede lugar ao ruído das cifras. O mesmo capital que financia a destruição agora financia a exclusão. E a COP30, que prometia ser a conferência da Amazônia, ameaça se transformar na conferência contra a Amazônia social.

É neste cenário que emerge uma constatação incômoda, quase herética: a COP30 deveria acontecer em São Paulo. Não por desprezo à Amazônia, mas por respeito à coerência. São Paulo tem infraestrutura, logística, rede hoteleira, transporte, conectividade. É o maior centro urbano da América do Sul, palco de debates, de imprensa, de universidades, de mobilização popular. É a síntese do Brasil moderno, com todos os seus contrastes, mas também com sua capacidade de acolher o mundo.

Em São Paulo, a COP teria espaço para todos. Não seria “fake”, não seria espetáculo, não seria ficção ecológica. Seria real, concreta, acessível. Ali, os debates sobre o clima se cruzariam com os debates sobre as cidades, sobre o consumo, sobre as desigualdades. O Brasil poderia mostrar sua força sem precisar disfarçar suas feridas. A COP30, em São Paulo, seria um evento planetário; em Belém, corre o risco de ser apenas uma peça de marketing.

Há quem diga que levar a COP à Amazônia foi um gesto nobre, um símbolo de descentralização. Mas símbolos sem estrutura viram armadilhas. A cidade está sobrecarregada, os moradores temerosos, a logística no limite. Belém, que deveria ser celebrada, será pressionada. E o que se pretende como homenagem pode se transformar em humilhação.

No fundo, o que se revela é o velho dilema brasileiro: o país que quer ser exemplo para o mundo, mas não consegue resolver o básico. A COP30 deveria ser a vitrine da liderança ambiental do Brasil, mas ameaça se tornar o espelho de sua desorganização. Uma conferência que deveria democratizar o debate sobre o futuro do planeta acabará elitizando-o. Uma celebração da sustentabilidade que ignora as condições de sobrevivência do povo local.

O erro está em confundir símbolo com estrutura, romantismo com gestão, floresta com metrópole. O verde das copas das árvores não apaga o cinza do concreto maltratado. Belém, com toda sua beleza, não tem culpa. É vítima da decisão apressada, da vaidade política, da necessidade de um gesto midiático. A cidade será cenário e também vítima. Sua população, que mal participa das decisões, será espectadora de um espetáculo que não a inclui.

A COP30 deveria ser o espaço do diálogo planetário, da união das vozes, da inclusão de todos os povos. Mas o que se desenha é uma conferência cercada de barreiras invisíveis, erguidas por preços, por omissões e por discursos vazios. O que se esperava como encontro global pela vida pode se tornar o banquete do privilégio, a celebração dos que podem pagar pela consciência ecológica.

Por isso, é preciso dizer: não é Belém que fracassa, é o projeto. É a ideia de que basta colocar um evento no “coração da floresta” para que a consciência planetária se purifique. É a ingenuidade de crer que a geografia redime o sistema. O verde não é redenção. É cenário. E o cenário, agora, se contorce diante da tragédia.

São Paulo teria sido o lugar natural, a escolha racional, a aposta coerente. Ali, não faltariam hotéis, transporte, centros de convenções, imprensa, estrutura técnica. Ali, o Brasil mostraria sua força e sua capacidade de organizar, e não de improvisar. A COP em São Paulo seria uma demonstração de seriedade, não um exercício de vaidade tropical.

Se a COP em Belém se consolida como um encontro de exclusão, é porque falhou o planejamento, a sensibilidade e o senso de justiça. Ela se anuncia como conferência para os que podem pagar, e isso é a negação de tudo o que a causa climática representa. A justiça climática não pode ser privilégio. Não pode ser comprada em parcelas. Não pode depender de diárias extorsivas.

Belém merecia respeito, não sobrecarga. Merecia apoio, não especulação. Merecia participar, não ser explorada. A COP30 será lembrada, talvez, como o evento que mostrou o abismo entre o discurso e a prática, entre o idealismo ecológico e o realismo social. O fracasso anunciado está diante de nós. E o pior é que ele não vem das florestas, nem do céu, nem do clima. Vem das escolhas humanas.

Se esta COP se perder na vaidade dos que a idealizaram e na ganância dos que a exploram, ficará registrada na história como o momento em que o Brasil teve a chance de liderar o mundo e escolheu o espetáculo. Quando os aplausos cessarem e os aviões partirem, o que restará será a lembrança de uma cidade exausta e um povo esquecido. A COP30, que deveria plantar esperança, talvez deixe apenas o rastro amargo de um fracasso político e moral que o tempo não apagará.

E, quando as luzes se apagarem em Belém, o que ficará não será o eco dos discursos, mas o silêncio da floresta. Um silêncio que pergunta: como ousaram falar de futuro num lugar onde nem o presente foi respeitado?

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