30 Setembro 2025
Em sua primeira grande nomeação para a Cúria Romana, o Papa Leão XIV surpreendeu a maioria das pessoas no Vaticano ao nomear o arcebispo italiano D. Filippo Iannone, de 67 anos, membro da Ordem Carmelita, como prefeito do Dicastério para os Bispos e presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina.
A informação é de Gerard O’Connell, publicada por America, 26-09-2025.
A primeira nomeação significativa do Papa Leão XIV estava sendo observada de perto no Vaticano por pessoas que queriam entender a direção do novo pontífice. Antes do anúncio de hoje, o nome de Dom Filippo Iannone não havia sido citado entre os possíveis candidatos para o cargo. Uma fonte do Vaticano consultada pela America, que pediu anonimato, descreveu a decisão como “um enigma” e disse que “é difícil de decifrar”.
Outro funcionário do Vaticano, que também preferiu não ser identificado, destacou três aspectos positivos importantes da decisão. Primeiro, Iannone é bispo há 24 anos e tem experiência em três dioceses italianas muito diferentes. Segundo, ele é membro da Cúria Romana há quase oito anos e conhece a vida lá. Terceiro, ele é membro de uma ordem religiosa, assim como Leão quando foi nomeado para a mesma posição.
Um terceiro funcionário do Vaticano, que o conhece, mas não esperava sua nomeação, e que também pediu para não ser identificado, disse: “Ele é totalmente como Leão, alguém que escuta, pensa, reflete e depois age.”
Um quarto funcionário do Vaticano, que também pediu anonimato, mas conhece bem Dom Filippo Iannone, afirmou: “Ele se assemelha muito a Prevost, silencioso, humilde e reflexivo, e é um excelente advogado canônico.”
Iannone agora se torna prefeito de um importante dicastério vaticano, onde a principal tarefa é avaliar e propor candidatos ao Papa para nomeação como bispos de dioceses do rito latino na Europa e nas Américas. O prefeito do dicastério também pode organizar uma visita apostólica a uma diocese onde um bispo parece estar enfrentando dificuldades e está envolvido no processo de investigação de bispos suspeitos de má condução ou de encobrimento de casos de abuso sexual.
O arcebispo lidera o Dicastério para os Textos Legislativos desde 2018 e assumirá seu novo cargo em 15 de outubro, segundo a Sala de Imprensa da Santa Sé.
Como chefe do Dicastério para os Textos Legislativos, Iannone esteve profundamente envolvido na revisão do “Livro VI: Sanções Penais na Igreja” do Código de Direito Canônico, um dos sete livros que compõem o código do rito latino da Igreja Católica. Com descrições atualizadas dos crimes de abuso sexual, incluindo pornografia infantil, e as ações exigidas de um bispo ou superior de uma ordem religiosa no tratamento das alegações, o livro foi promulgado pelo Papa Francisco em 2021.
Dando seguimento a isso, o arcebispo liderou a preparação da atualização de 2023 do “Vos Estis Lux Mundi” (Vós sois a luz do mundo), que estabeleceu os procedimentos para bispos, superiores religiosos e líderes de movimentos católicos internacionais investigarem alegações de abuso sexual ou encobrimento de abuso.
Em fevereiro, o Dicastério para os Textos Legislativos — defendendo o direito à autodefesa e à presunção de inocência — publicou em seu site uma carta do arcebispo e do secretário do dicastério alertando fortemente dioceses e ordens religiosas contra a publicação dos nomes de membros do clero acusados de abuso, mas que não foram considerados culpados em processos civis ou canônicos.
Filippo Iannone nasceu em Nápoles em 13-12-1957 e entrou para a Ordem Carmelita aos 18 anos. Fez seus primeiros votos em 1977, votos finais em 1980 e foi ordenado sacerdote em 1982. Após obter um diploma em teologia em um seminário no sul da Itália, conquistou doutorado em direito civil e canônico na Pontifícia Universidade Lateranense, em Roma. Posteriormente, lecionou direito canônico no seminário em que estudou e em outras instituições, além de exercer diferentes funções na Ordem Carmelita.
Ele se tornou vigário geral da Diocese de Nápoles em 1996. Em 2001, São João Paulo II o nomeou bispo auxiliar em Nápoles. Em 2009, Papa Bento XVI o nomeou bispo de Sora-Cassino-Aquino-Pontecorvo; em 2012, Bento o fez vice-regente da Diocese de Roma e o promoveu a arcebispo. Em 2015, Papa Francisco o nomeou membro do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica e consultor da Congregação para Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica.
Francisco nomeou-o secretário adjunto do Conselho Pontifício para os Textos Legislativos em novembro de 2017 e presidente desse órgão em abril de 2018. Iannone era visto no Vaticano como apoiador da reforma da Cúria Romana promovida por Francisco e, como Leão, está comprometido com o caminho sinodal do papa. Ele agora está na linha para receber o barrete vermelho no primeiro consistório do Papa Leão, que não é esperado antes de 2026.
Leão confirmou o arcebispo brasileiro Dom Ilson de Jesus Montanari, 66, atual secretário do dicastério, por mais cinco anos. Do Ilson Montanari ocupa o cargo desde outubro de 2013 e trabalhou de perto com Leão quando este era prefeito do dicastério de 2023 a 2025. Leão também confirmou o monsenhor bósnio-herzegovino Ivan Kovač, 47, como subsecretário por cinco anos. Ele ocupa o cargo desde junho de 2023. Ao confirmar esses dois funcionários em suas posições atuais pelos próximos cinco anos, o Papa deu ao novo prefeito duas pessoas experientes e de confiança para auxiliá-lo.
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