23 Setembro 2025
Poucas horas após o assassinato de Charlie Kirk em Utah, as redes sociais eram inundadas com imagens e vídeos — gerados por inteligência artificial — retratando-o no paraíso, juntamente com outros famosos líderes estadunidenses assassinados, entre os quais John F. Kennedy e Martin Luther King.
A Casa Branca, por meio de Donald Trump e J.D. Vance, imediatamente o chamou de mártir. Na iconografia que acompanha o assassinato do ativista permanecerá a foto de Erika, viúva de Kirk, exibindo um colar com uma cruz da janela do carro que escolta o corpo do marido.
Poucas horas após o funeral em Glendale, a escritora vencedora do Prêmio Pulitzer, Marilynne Robinson, contatada pelo Corriere della Sera, investiga a inextricável ligação entre a Bíblia e os Estados Unidos: estudiosa do calvinismo, crente e amante das tradições do pensamento cristão, Robinson está entre as autoras mais queridas por Barack Obama, que lhe concedeu a Medalha Nacional em Humanidades na Casa Branca.
A entrevista é de Marco Bruna, publicada por Corriere della Sera, 22-09-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Sra. Robinson, Charlie Kirk é um mártir?
A reação à sua morte é uma distração do problema subjacente, que liberar as armas para a população coloca todos em perigo. Essa variante indizivelmente vergonhosa do assassinato não pode criar mártires. A mistura entre política, cristianismo e culto às armas, juntamente com as divisões hostis dentro do país, habilmente exploradas pelos legisladores, só produziu grandes infortúnios.
Está preocupada? Acha que um novo conflito interno está nascendo nos Estados Unidos?
Estou alarmada com a eficácia com que o cristianismo foi transformado em seu oposto, o que é ainda mais triste quando acontece na mente de pessoas que não têm experiência de fé. Nesse contexto, a vingança passa despercebida, a empatia é desprezada. As Igrejas que ensinam graça, paz e reconciliação parecem incapazes de encontrar sua voz. Considero isso um terrível fracasso. No entanto, devo acreditar que uma verdade superior recuperará sua antiga autoridade entre nós. Só então voltaremos a ser os Estados Unidos.
Assim como fez após o massacre na Escola Primária Sandy Hook, em Connecticut, em 2012, Obama, nos últimos dias, tentou acalmar a raiva do país e expressou preocupação pela linguagem hostil de Trump.
Os Estados Unidos têm estado ocupados em lamentar inúmeras vítimas desde que as leis sobre armas foram flexibilizadas ou abandonadas. Devemos esperar muitas mais, devemos esperar um futuro de dor e vergonha. A morte de Charlie Kirk é apenas a mais recente de uma longa lista.
O problema, como enfatizou, continua sendo a facilidade com se mata nos Estados Unidos.
Só porque o Utah é um estado republicano não significa que pode oferecer um refúgio seguro. Nem mesmo a uma figura política tão amplamente seguida como Kirk. Nem mesmo aos seus próprios filhos. Ao longo dos anos, e apesar de uma calamidade após a outra, o Partido Republicano ofereceu a qualquer louco a oportunidade de acumular um arsenal. E no caos atual, cada um tem um motivo ou uma ideologia.
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