20 Setembro 2025
O documento final do Sínodo sobre a sinodalidade é claro ao propor que as mudanças na vida da Igreja Católica sejam repensadas tendo em conta os contextos locais. É isso mesmo que a religiosa congolesa e professora universitária Josée Ngalula está a promover, desafiando as igrejas africanas a dialogar com e a partir do Ubuntu.
A informação é publicada por 7Margens, 17-09-2025.
A proposta foi lançada há dias na Hekima University College, em Nairóbi, no Quênia, num congresso de teólogas africanas que se reuniram para refletir sobre o futuro da Igreja, iniciativa que, segundo aquela religiosa, citada pelo Vatican News, foi uma uma experiência autêntica de sinodalidade. Trata-se, acentua ela, de fazer Igreja “a partir das margens, com vozes que há muito foram marginalizadas”.
A filosofia e conceito de Ubuntu assenta numa antropologia que valoriza a lealdade, a empatia, o sentido de comunidade e abertura ao bem que há na outra pessoa. Traduz-se na afirmação de que “Eu sou porque nós somos”. Não é o indivíduo isolado que está no centro, mas os laços comunitários. Nesse sentido, não parece forçado, para aquela irmã da congregação de Santo André, fazer a ligação com dimensões fundamentais da sinodalidade, em especial a escuta, a fala, corresponsabilidade e caminhar juntos.
Josée Ngalula, que é também, desde 2021, membro da Comissão Teológica Internacional, vai mais longe nessa aproximação, considerando que a sinodalidade “não é uma inovação estranha à África, mas sim uma dinâmica profundamente enraizada nas suas tradições culturais e espirituais”.
Trata-se, nas palavras da teóloga, de “restaurar uma Igreja que fale com a voz do seu povo, e não das alturas de uma hierarquia desconectada”. Isso significa, no resumo feito pelo Vatican News, que “Ubuntu e sinodalidade convergem para delinear uma Igreja profundamente africana e radicalmente evangélica. Uma Igreja onde o bem comum prevalece sobre os interesses particulares, onde a comunhão não é uniforme, mas entrelaçada na diversidade, e onde a escuta se torna a principal forma de caridade”.
Esta “refundação eclesiológica” não pode ser alcançada sem outra mudança igualmente decisiva: “colocar os feridos, os esquecidos, os silenciosos no centro da vida eclesial”. “Muitas vezes, nas nossas famílias, nas nossas dioceses, nas nossas instituições, a prioridade é dada à reputação da instituição em vez da dignidade da pessoa ferida”, denunciou a teóloga congolesa.
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