18 Setembro 2025
As Forças de Defesa de Israel (IDF) anunciam a abertura de uma nova rota de fuga. O Hamas transfere reféns e um dos líderes do movimento reaparece em Doha. Centenas de milhares de pessoas ficam presas na capital.
A reportagem é de Gabriella Colarusso, publicada por La Repubblica, 18-09-2025.
Bezalel Smotrich pressente negócios em Gaza. Enquanto bombas chovem sobre a Cidade de Gaza, o Ministro das Finanças de Israel fala a um grupo de empreendedores imobiliários reunidos em Tel Aviv sobre uma visão "utópica" que circula no governo Trump: a infame Riviera, projetada pelas mesmas pessoas que criaram a controversa Fundação Humanitária de Gaza. Smotrich a vê como uma bênção. A Faixa de Gaza é uma "mina de ouro imobiliária" que "se paga sozinha.
Pagamos muito dinheiro por esta guerra. Precisamos descobrir como dividir a terra de acordo com as porcentagens", disse ele ontem. "Já fizemos a primeira fase da renovação da cidade, a demolição. Agora temos que construir." Ele afirma já estar em negociações com os americanos para dividir o enclave após a guerra: "Há um plano industrial, desenvolvido pelos maiores profissionais daqui, que está na mesa do presidente Trump."
Gaza deve se tornar território israelense, este é o plano da extrema direita messiânica que governa Israel. Os assentamentos de Ganim e Kadim, desmantelados em 2005, devem ser restabelecidos lá. Há meses, Smotrich fala sobre uma "Riviera de Gaza", a mesma ideia hipotetizada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, em fevereiro, quando disse que os americanos assumiriam o controle da Faixa, realocariam os palestinos sabe-se lá para onde e transformariam suas terras em uma espécie de mega-resort para turistas e empresários. Na época, a ideia foi rejeitada com veemência, gerando indignação em metade do mundo árabe, mas, no final de agosto, o Washington Post revelou que um projeto, completo com um plano de negócios, está de fato circulando nas mesas do governo americano para transformar Gaza em uma espécie de nova Dubai. Um projeto de US$ 100 bilhões, que prevê o deslocamento de pelo menos um quarto de seus habitantes, incentivados ao exílio com US$ 5.000 cada.
Smotrich fala enquanto tanques israelenses se aproximam do centro da Cidade de Gaza, milhares de palestinos são forçados a fugir para a Faixa de Gaza em condições desesperadoras. Para facilitar a evacuação da cidade, visto que a estrada costeira, Al Rasheed, está lotada, os soldados reabriram a estrada Salah al Din, um corredor de fuga, por 48 horas. "Até agora, 400.000 moradores evacuaram a cidade", relata a IDF. As redes, tanto telefônicas quanto de internet, estão funcionando intermitentemente, e poucas imagens das operações militares chegam de Gaza. Os bombardeios são constantes, assim como os massacres. Ontem, 50 pessoas morreram, incluindo um funcionário da Médicos Sem Fronteiras que continua trabalhando em dois hospitais e duas clínicas na cidade sitiada, onde "cada vez mais feridos chegam em estado crítico", diz o coordenador de emergência, Jacob Granger.
O Hamas continua a circular declarações afirmando que os moradores de Gaza não estão cedendo à pressão e permanecem na cidade. Ghazi Hamad, um dos líderes que vivem em Doha, reapareceu; ele estava na reunião bombardeada pelos israelenses e sobreviveu. "Não temos medo de Trump quando ele diz que abrirá as portas do inferno para nós", disse ele. "Quem quiser libertar os reféns deve ordenar que Netanyahu chegue a um acordo."
O Catar pediu garantias aos EUA para retomar a mediação e, ontem, o ministro israelense Dermer, um firme apoiador de Netanyahu, voou para Londres para se encontrar com o enviado americano Witkoff. Delegados do Catar também estavam presentes, mas não está claro se tiveram contato direto. É difícil dizer se isso é realmente uma tentativa de reacender o diálogo; de acordo com o Canal 12, as negociações podem ser retomadas em duas semanas. Mais ficará claro na próxima semana, quando Netanyahu voará para Nova York para a Assembleia Geral da ONU e, em 29 de setembro, para Washington para se encontrar com Trump.
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