17 Setembro 2025
Ataques aéreos e terrestres, muitos sob os escombros na última cidade da Faixa de Gaza. Netanyahu: "Quem nos condena é hipócrita."
A reportagem é de Francesca Caferri, publicada por La Repubblica, 17-09-2025.
Dezenas de milhares de pessoas estão fugindo da Cidade de Gaza. Centenas de milhares permanecem presas no que até dois anos atrás era a principal cidade da Faixa de Gaza e agora, hora após hora, está reduzida a escombros. As últimas horas foram, segundo relatos vindos de Gaza, as piores em 23 meses: o período do bombardeio israelense mais intenso. "Gaza está queimando", escreveu o Ministro da Defesa, Israel Katz, no X, anunciando oficialmente a intensificação da ofensiva militar, ignorando a tempestade diplomática desencadeada contra Israel, desde as Nações Unidas até a União Europeia. Imagens vindas da Faixa de Gaza confirmaram: as áreas norte e nordeste da cidade foram atingidas ontem por terra, mar e ar. O número de mortos é de pelo menos 108: isso é, necessariamente, provisório. Dezenas de vítimas permanecem sob os escombros. É impossível fornecer um número exato.
Nada disso comoveu Benjamin Netanyahu: falando à imprensa ontem à noite, o primeiro-ministro enfatizou a força do único apoio externo que conta para Israel, o dos Estados Unidos. "Qualquer um que condene Israel é um hipócrita. O presidente Trump me convidou para a Casa Branca em duas semanas", disse ele, após seu discurso agendado nas Nações Unidas. Não houve dúvida, nenhuma mudança de estratégia. Pelo contrário. O ataque no Catar há uma semana foi "justificado": "O Catar está ligado ao Hamas. Deu refúgio ao Hamas. Financiou o Hamas. Tem várias alavancas à sua disposição, mas decidiu não usá-las", foram as palavras do primeiro-ministro. Ele então se esforçou para desmentir os rumores de desentendimentos com as Forças de Defesa de Israel (IDF) que circulavam na mídia há dias: "As frases são tiradas do contexto: isso dificulta a gestão da guerra", disse ele.
O encontro com jornalistas serviu — se ainda fosse necessário — para demonstrar a cisão que, quase dois anos após 7 de outubro de 2023, cresceu entre o Estado judeu e a comunidade internacional: Netanyahu falou da necessidade de alcançar "independência em matéria de segurança, razão pela qual pedi a redução da burocracia". Ele também ameaçou os líderes do Hamas com terríveis repercussões caso os reféns pagassem o preço por esta nova ofensiva: "Se tocarem em um único fio de cabelo da cabeça de um único refém, nós os caçaremos com ainda mais vigor até o fim de suas vidas, e esse fim virá muito mais rápido do que eles imaginam. Vocês não terão abrigo", disse ele. Como se os apelos e depoimentos daqueles que — entre os capturados em 7 de outubro de 2023 — escaparam vivos de Gaza não tivessem demonstrado que são os israelenses mantidos em cativeiro em Gaza os primeiros a pagar o preço por qualquer escalada militar.
Embora as certezas do primeiro-ministro sejam inabaláveis, também é verdade que, em Israel, aqueles que as compartilham são, por uma razão ou outra, cada vez menos. Ontem à noite, na cerimônia do Prêmio Ophir, que homenageia o melhor cinema israelense, muitos apareceram vestindo camisetas com os dizeres "Pare a Guerra" ou "Uma Criança É uma Criança": entre eles estava Michal Weitz, produtor e codiretor de "We Will Dance Again", o documentário vencedor do Emmy sobre o Festival Nova (local do massacre do Hamas em 7 de outubro de 2023). Além disso, a raiva dos familiares dos 48 reféns — vivos e mortos — ainda em Gaza, há muito ignorada pela mídia, ressurgiu nos jornais e até na televisão nas últimas horas. Isso é um sinal de que um país (ou pelo menos parte dele) abriga algumas dúvidas.
Tudo isso, no entanto, é uma gota no oceano de dor e desespero em Gaza. Ontem, vários depoimentos coletados por jornalistas palestinos na Faixa de Gaza mencionaram um preço entre US$ 1.000 e US$ 1.500 por pessoa para comprar uma viagem da Cidade de Gaza até a zona humanitária de Al Mawasi. A alternativa é uma roleta russa. "As bombas aqui não param por um minuto", disse Mohamed Abu Selmiya, diretor do Hospital Shifa na Cidade de Gaza, à Associated Press.
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