16 Setembro 2025
Por falta de confiança nas vacinas e nas autoridades de saúde, um número crescente de pais nos Estados Unidos está relutante em vacinar seus filhos. Segundo uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira (15), um em cada seis pais evita ou adia vacinas recomendadas para crianças.
A reportagem é publicada por RFI, 15-09-2025.
O levantamento, feito pelo jornal Washington Post em parceria com a ONG KFF, ouviu mais de 2.500 pais e revela uma desconfiança crescente em relação à vacinação desde a pandemia de Covid-19.
Enquanto o atual ministro da Saúde do governo Donald Trump, Robert Kennedy Jr., conhecido por sua postura crítica às vacinas, promove uma reformulação profunda na política de imunização do país, a maioria dos pais ainda apoia as exigências de vacinação em vigor.
No entanto, uma parcela menor começa a questionar essas medidas. Esses pais optam por evitar ou adiar vacinas obrigatórias ou recomendadas — como as contra sarampo, tétano e poliomielite — por medo de efeitos colaterais e por falta de confiança nas autoridades sanitárias.
Nos EUA, vacinas como a tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola) são obrigatórias para que a criança possa frequentar a escola. Em muitos estados, porém, os pais podem pedir dispensa alegando motivos religiosos ou outras razões não médicas.
Perfil dos pais e queda na cobertura
A pesquisa também mostra que os pais que evitam ou adiam vacinas tendem a ser brancos, conservadores, muito religiosos e, em alguns casos, adeptos do ensino domiciliar.
Esses fatores ajudam a explicar a queda nos índices de vacinação registrada desde a pandemia. A taxa nacional de crianças vacinadas contra o sarampo no jardim de infância caiu de 95% em 2019 para 92,5% em 2024, com grandes variações entre os estados. Em Idaho, por exemplo, o índice está abaixo de 80%, bem distante dos 95% recomendados para garantir imunidade coletiva.
Epidemia e alerta de especialistas
Especialistas alertam que essa tendência pode piorar com a influência de Robert Kennedy Jr., que já colocou em dúvida a segurança das vacinas e divulgou informações falsas sobre o tema.
Como consequência da queda na cobertura vacinal, os Estados Unidos enfrentaram em 2025 o pior surto de sarampo em mais de três décadas, com três mortes — duas delas de crianças.
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