12 Setembro 2025
Quando ninguém conhecia o que hoje se chama economia circular, Pablo del Río, economista do Instituto de Políticas e Bens Públicos - IPP do Conselho Superior de Investigações Científicas - CSIC e revisor no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas - IPCC da ONU, já escrevia uma tese sobre o tema, embora na época se chamasse “ecoinovação” ou “ecologia industrial”.
Coautor do livro La economía circular, publicado pelo CSIC e pela editora Catarata - juntamente com Christoph P. Kiefer, Ana M. Guerrero e Félix A. López -, Del Río está ciente de que essas duas palavras foram bastante simplificadas e que a distância atual entre o sistema linear e um futuro que priorize a preservação dos recursos naturais não está se encurtando como deveria.
A entrevista é de Rosa M. Tristán, publicada por El Asombrario-Público, 11-09-2025. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
As pessoas sabem o que significa ‘economia circular’?
Sabem pouco ou quase nada. Uma minoria a conhece, mas há um grande grupo que a equipara apenas à reciclagem, sendo que é muito mais do que isso, chegando a uma dezena de práticas. E também há muitas pessoas que não têm ideia do que é. Por isso, escrevemos este livro informativo. Queremos nos dirigir a esse público geral e explicá-la, embora também possa ajudar os tomadores de decisão. Também analisamos as barreiras existentes e o que podemos fazer nos níveis político, empresarial e pessoal.
Qual é a responsabilidade de cada um desses agentes na redução dos impactos da extração de recursos, em um planeta finito?
Não é possível determinar. É um sistema no qual todos interagem. Como consumidor, não posso me limitar à reciclagem que, é verdade, requer infraestruturas de reciclagem que funcionem. Contudo, também se trata de comprar menos, usar menos materiais naturais, fazer um uso mais intensivo do que já temos, consertar, compartilhar bens, reutilizar... Hoje, existem plataformas que nos permitem vender o que não precisamos, sem ter que jogar fora. E as empresas e instituições que elaboram regulamentações favoráveis à circularidade também são responsáveis. Na Espanha, elas vêm de Bruxelas, embora seja importante que existam em nível local.
Confunde-se desenvolvimento sustentável com economia circular?
O desenvolvimento sustentável é o objetivo, e a economia circular é a ferramenta. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - ODS buscam a sustentabilidade econômica, social, justa e ambiental, e a economia circular pode contribuir para isso, mas não é imediata. É claro que se as matérias-primas forem poucas e menos utilizadas, ajuda a melhorar o bem-estar.
Como a “lavagem verde” praticada por algumas empresas é prejudicial?
O problema com o marketing é que o impacto da lavagem verde não é medido. Exagera-se no que se faz como sustentável e não se informa da realidade. O lado ruim é que afeta aqueles que agem bem e são rotulados por greenwashing como todos os outros. A prova de que existe é que a União Europeia aprovou uma diretiva comunitária para proteger os consumidores dessas práticas. Os Estados deverão aplicá-la a partir de setembro de 2026. Se uma normativa é aprovada, é porque é preocupante.
O que você diria aos céticos da economia circular, aquelas pessoas que não querem reciclar ou que deixam abandonam os resíduos?
Para aqueles que abandonam o lixo, penso na utilidade das multas ou punições. A longo prazo, a solução está em mais informação e educação. Meu filho já tem disciplinas que falam sobre sustentabilidade, mas ainda há muito a ser feito. E muitos idosos são casos perdidos por inércia. Não estamos conscientes dos impactos.
No livro, vocês também falam sobre o impacto positivo de uma economia circular nas emissões, mas o ceticismo também parece estar aumentando em relação a este assunto.
Em 1992, havia grande incerteza se as causas estavam na ação humana, mas agora isso é bastante inquestionável em nível científico. Não sei se há mais negacionistas ou se agora são mais barulhentos. Diante disso, é positivo relacionar as ações que são boas para o meio ambiente com benefícios para os cidadãos. Por exemplo, no tema das energias renováveis, é necessário destacar que elas ajudam a reduzir as contas de luz. É verdade que há opções sustentáveis que são mais caras do que aquelas que não são, mas outras não, e há aquelas que são amortizadas em pouco tempo.
Considera ser possível chegar a 100% de economia circular, no sistema atual?
É complicado. São necessárias muitas mudanças. Mudar o sistema requer muito investimento. Na minha opinião, é mais viável política e socialmente fazer uma mudança gradual, porque com a via mais radical se corre o risco de aumentar a rejeição social. O que não é admissível é que a taxa de circularidade global seja de 7,2%, em 2023, sendo que era de 9,1%, em 2018. Caminhamos para trás. Na União Europeia, há 15 anos, era de 10,7%, e agora está em 11,5%, nem sequer um ponto a mais. E na Espanha, é ainda pior: chegou a ser de 10,4%, e estamos em 7,1%. Uma coisa é não chegarmos a 100% de economia circular, mas estamos em retrocesso e é necessário investigar o porquê.
Qual é, diante desse cenário, o principal desafio que a Humanidade enfrenta?
A mudança climática global. O desafio é tirar as pessoas da pobreza e dar a elas acesso à energia, e fazer isso com energias renováveis, porque temos um limite que não podemos ultrapassar: o 1,5 grau a mais de temperatura em comparação à era pré-industrial, e em 2024 já o superamos.
Você vê mais consciência ambiental do que há duas ou três décadas?
Há pesquisas que nos dizem que são temas que interessam mais pessoas. Melhorou, mas ainda há muito a ser feito. Não aumenta ao nível que é necessário.
Quais práticas ambientais você implementa diariamente?
Eu tento fazer o que posso. Agora, costumo ir a pé para o trabalho. Antes, eu ia de bicicleta, mas quebrou e consertá-la custa mais do que uma nova. É um absurdo. Também ligo o ar-condicionado na potência baixa em casa e dirijo devagar. Em geral, levo um estilo de vida pouco consumista e não é pior por isso. É até melhor.
Quem te inspirou a se dedicar à economia ambiental?
Tive a sorte de ter Alfredo Cadenas como professor na Universidade Autônoma de Madrid, um pioneiro nesses temas, e também de conhecer Félix Hernández, no CSIC.
Olhando para o futuro... há espaço para o otimismo?
Trinta anos atrás, Félix Hernández me dizia que o lado ruim era que a mudança climática não era visível, que os custos para detê-la eram de curto prazo e os benefícios de longo prazo, então, era preciso confiar nas previsões. Agora, já está associada a eventos extremos que todos nós vemos e isso é um banho de realidade. E vemos os plásticos no oceano. Isto deveria nos impulsionar a mudar.
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