25 Agosto 2025
A reunião realizada na última 6ª feira (22/8) pelo Secretariado da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), não trouxe avanços em relação ao impasse dos altos preços de hospedagem em Belém (PA) para a COP30. Por um lado, o governo federal reafirmou que todas as condições logísticas, inclusive de estadia e segurança, estão asseguradas para a capital paraense. Por outro, representantes de países pobres saíram frustrados com o que enxergaram como indisposição das autoridades brasileiras para reduzir os preços de hospedagem na cidade, ainda muito acima do normal.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 25-08-2025.
Segundo o secretário extraordinário para a COP30, Valter Correia, o governo brasileiro respondeu integralmente às 48 perguntas dos representantes diplomáticos dos países integrantes da UNFCCC. Sobre hospedagem, o tema mais crítico, ele reiterou que Belém possui uma oferta de 53 mil leitos, acima dos 50 mil estimados como necessários para a COP. O representante da Casa Civil também afirmou que novas hospedagens estão sendo incluídas na plataforma oficial, com mais de 2,6 mil quartos com diárias de até US$ 600.
Um levantamento do governo federal indica que 47 das 196 delegações, menos de 1/4 do total, já confirmaram hospedagem em Belém. Para ajudar a destravar novas reservas para os negociadores, o governo criou uma força-tarefa que entrará em contato com cada delegação. Ao mesmo tempo, o governo federal não se comprometeu com medidas para uma redução forçada dos preços de hospedagem, o que desagradou os representantes dos países em desenvolvimento ainda sem reservas para a COP30.
“Eles [negociadores] esperam que a gente traga uma solução milagrosa que vai resolver o problema e oferecer quartos individuais a US$ 100, de preferência muito próximo ou vizinho à Conferência”, afirmou Correia, citado por O Globo. O secretário fez um apelo às delegações para “sair um pouco da sua zona de conforto” para “dar uma contribuição melhor ou maior nesse aspecto de soluções”.
Em um tom incomum no ambiente diplomático, o negociador Juan Carlos Monterrey Gomez, do Panamá, criticou a resposta brasileira às demandas dos países pobres em relação à hospedagem em Belém. Em uma publicação de rede social, o diplomata classificou as condições oferecidas às delegações como “insanas e insultuosas” e lamentou que as reclamações “parecem entrar por um ouvido e sair pelo outro” da organização brasileira da COP. O representante panamenho também defendeu a mudança de sede da COP. g1 e UOL Ecoa repercutiram as críticas.
Outro ponto de contenda na conversa da última 6ª feira foi a ajuda financeira da ONU para participação dos países mais pobres. Enquanto o governo brasileiro defendeu um aumento dessa ajuda de custo por parte da ONU, a entidade sugeriu ao Brasil um subsídio governamental para reduzir os preços de hospedagem.
O auxílio diário dado pela ONU para cobrir acomodação, alimentação e transporte é de US$ 144 em Belém, um valor considerado baixo. A sugestão do Brasil, também defendida por nações africanas e em desenvolvimento, é a equiparação do repasse ao nível do que seria se a COP ocorresse em outra metrópole brasileira, como São Paulo ou Rio de Janeiro – o que elevaria o valor para US$ 250 por dia.
“O governo brasileiro já está arcando com custos significativos para a realização da COP, por isso não há como subsidiar delegações de países, inclusive de países que são mais ricos que o Brasil”, afirmou Miriam Belchior, secretária-executiva da Casa Civil, citada pelo Valor. “Acho que temos um desafio conjunto de conseguir outras fontes que possam eventualmente ajudar esses países, mas dissemos que o governo brasileiro não ia poder subsidiar a hospedagem”.
O impasse sobre hospedagem em Belém teve grande repercussão nas imprensas brasileira e internacional, com destaques para Agência Brasil, Capital Reset, Climate Home, CNN Brasil, Correio Braziliense, Estadão, Exame, Folha, g1, Metrópoles, Pará Terra Boa, Reuters, UOL e VEJA, entre outros.