18 Agosto 2025
Nassif apenas arranha no que de fato está por trás dessas ações “DE” Trump, mas, não chega em suas causas mais profundas. Quem faz isso e com maestria é o doutor em economia, professor aposentado da Unicamp, intelectual militante comunista, Plínio de Arruda Sampaio Jr.
A entrevista foi publicada no Canal Faixa Livre, no Youtube, 12-08-2025.
Leia, abaixo, a transcrição [automática] do trecho da entrevista (do corte de vídeo) de Plínio ao Canal Faixa Livre (14/8), e entenda porque os EUA, e não apenas o governo Trump ou simplesmente apenas Trump, estão decididos a mudar o regime político do Brasil, para adequá-lo à nova estratégia do imperialismo americano para a nossa região.
Nós estamos assistindo uma exaustão da globalização e essa exaustão da globalização tem no seu epicentro um declínio do império americano. Os americanos, agora, estão administrando a crise do capitalismo e o declínio do seu império, né? E eles para fazer isto, eles estão transformando a ordem econômica internacional, saindo do multilateralismo para uma espécie de um imperialismo unilateral.
Então, não tem mais lei. Agora vale o quê? A negociação direta bilateral. O que os americanos querem ver agora é o seguinte: qual é a força real, né? Ele vai testar a musculatura de países, um a um. E ele vai procurar reorganizar o mundo, contendo a China, né, e, socializando prejuízos com os aliados e submetendo os vassalos.
É este o contexto mais geral dentro do qual o Trump ataca o Brasil com o terrorismo tarifário. Eu acho que o que ele pretende, aqui, é uma mudança no grau de autonomia da sociedade brasileira, porque a este superimperialismo americano, na contrapartida, tem que existir uma soberania esvaziada da periferia.
Esta é a questão central que está posta aqui. No fundo, para fazer isto, ele tem que provocar uma mudança no Estado brasileiro. E para esta mudança passa por uma mudança política.
Acredito que este tarifaço vem dentro de uma política mais geral dos americanos de mudança do regime. Ele precisa ter um outro regime aqui no Brasil. Ele precisa completar o ataque à Constituição de 88. Completar como? Erradicando o que ainda sobrou de conquista democrática, republicana e soberana.
Portanto, é uma mudança de regime que está posta. Esta mudança é funcional para ele poder ter o Brasil como cavalo de Troia nos BRICS.
Logo, este não é um ataque superficial, não é um problema da loucura do Trump. Claro que o Trump é um tresloucado e que a família Bolsonaro, também é tresloucada. Mas, na verdade nós temos que entender os ventos fortes que convocam estes tresloucados para a política. E estes ventos fortes é uma mudança profunda no mundo e o Brasil vai sentir esta mudança aqui da sua periferia.
Fica muito claro que na verdade isto se materializa, Anderson, numa espécie de um segundo tempo do golpe, uma espécie de uma revanche do golpe. A sociedade brasileira está assistindo, agora, uma ação combinada do imperialismo com o Bolsonaro, do Estado americano, com setores importantes da burguesia brasileira.
Então, tem pressão externa, tem mobilização de rua, tem amotinamento dos parlamentares. Não são fatos isolados, são fatos no fundo articulados e coordenados. E eu acho, a minha suspeita é que o objetivo final é uma mudança de regime. Os americanos fazem isso, fazem isso com frequência. É para eles isto é absolutamente natural.”