07 Agosto 2025
Da lama jogada no presidente do Fed, Powell, à demissão do chefe do departamento de estatísticas do Departamento do Trabalho, as palavras da Casa Branca estão alarmando analistas em todo o mundo.
A reportagem é de Cenzio Di Zanni, publicada por La Repubblica, 06-08-2025.
A questão é uma só: confiança. E Donald Trump está fazendo tudo o que pode para minar a confiança dos investidores na confiabilidade dos indicadores econômicos americanos. Na tempestade de tarifas que assola governos e mercados em todo o mundo, o risco de esses dados se tornarem inúteis preocupa economistas em todos os lugares. Pelo menos, de acordo com o alerta do Financial Times.
O mais recente golpe da Casa Branca disparou o alarme entre os analistas: a demissão de Erika McEntarfer, comissária do Bureau of Labor Statistics, o escritório de estatísticas do Departamento do Trabalho. Essa decisão repentina ocorreu poucas horas depois de o relatório de emprego de julho apresentar um panorama das contratações, que quase estagnaram neste verão, com uma forte revisão para baixo do crescimento do emprego em maio e junho.
No megafone da CNBC, o comandante-em-chefe alardeou que esses números foram "completamente manipulados" e que a agência havia se tornado "altamente politizada". Ele não apresentou a mínima evidência. Segundo economistas entrevistados pelo jornal City, uma medida tão inédita é como uma mina minando a confiança dos investidores em uma instituição que compila relatórios sobre empregos e inflação. Uma bússola para avaliar trilhões de dólares em ativos.
"A confiança nas instituições é a razão pela qual os Estados Unidos têm sido um destino para investimentos estrangeiros. Uma dessas instituições é a agência estatística do país", disse Michael Feroli, economista-chefe do JPMorgan para os EUA, ao Financial Times.
O banco de Wall Street explica aos seus clientes que a expulsão de McEntarfer "apresenta riscos para a condução da política monetária, a estabilidade financeira e as perspectivas econômicas".
Os investidores estão cada vez mais preocupados com a capacidade das instituições americanas de resistir à pressão contínua do governo Trump. O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, que assumiu o comando do banco central dos EUA a mando de Trump entre 2017 e 2018, sabe bem disso. A lua de mel deles terminou quando "Jay" Powell permaneceu no poder com a chegada do democrata Joe Biden ao Salão Oval. E a crise se agravou. Até que a montanha de lama caiu sobre o chefe do Fed quando o magnata retornou a Washington e adotou a doutrina tarifária adorada pelo mundo Maga.
"Jay" Powell está na mira da Casa Branca por um motivo: ele não quer atender às exigências de Trump por cortes nas taxas de juros. O banqueiro central mantém sua posição porque — argumenta ele — as próprias tarifas impostas pelo governo estão criando um clima de incerteza e potencialmente desencadeando uma nova espiral inflacionária. "O mandato do Fed é o pleno emprego e a estabilidade de preços. Seria difícil saber se estamos no caminho certo sem dados melhores", esclarece Feroli. Enquanto isso, os ativos de refúgio, que oferecem uma alternativa aos Estados Unidos, estão subindo, com os preços do ouro tendo, há poucas horas, experimentado seu melhor dia em dois meses.
Voltemos ao caso McEntarfer. Para a economista-chefe do banco holandês ING, Marieke Blom, a polêmica mais recente é "mais uma maneira de erodir gradualmente a força institucional dos Estados Unidos". "Há o risco de que isso impacte as estatísticas, então como devemos interpretá-las daqui para frente? Recuperar a confiança", argumenta ela, "será mais difícil do que perdê-la". Ralph Schlosstein, presidente emérito do Evercore, um banco de investimento com sede em Nova York, acredita que "a precisão e a integridade dos dados econômicos dos EUA são cruciais para garantir que a política monetária e fiscal responda adequadamente ao que está realmente acontecendo na economia real". E, portanto: "Qualquer tentativa de politizar esses dados minará a confiança tanto nas estatísticas econômicas divulgadas quanto na política monetária e fiscal dos EUA".
Amar Reganti, ex-funcionário do Tesouro e agora estrategista de títulos da Hartford Funds, argumenta que a demissão de McEntarfer representa um "risco estrutural de longo prazo para o mercado de títulos dos EUA". Em sua opinião, isso se aplica tanto aos títulos protegidos contra a inflação, que são indexados ao Índice de Preços ao Consumidor (IPC) fornecido pelos escritórios de McEntarfer, quanto ao mercado mais amplo de títulos do Tesouro, de US$ 29 trilhões. Reganti argumenta que isso depende "da transparência e da qualidade dos dados dos EUA".
Em suma, os economistas entrevistados pelo jornal financeiro britânico acreditam que há uma mistura explosiva se formando nos mercados dos EUA, pronta para causar um estrondo.