15 Agosto 2025
"O Holocausto tem sido há tempo um paradigma de valores, e as palavras em questão têm enorme peso político; os crimes cometidos por Israel levantam infinitas questões sobre o que tem sido universalmente ensinado sobre esses temas, principalmente em Israel", escreve Daniele Susini, historiador e educador, em artigo publicado por Domani, 12-08-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Duas palavras inflamam o espaço midiático e o debate na Itália, abalando e desafiando a consciência de muitos cidadãos: "genocídio" e "antissemitismo". Esses dois termos, por anos reservados a historiadores e juristas, são agora discutidos em todos os lugares, nas redes sociais quase como uma torcida de estádio; uma comunicação tóxica e improdutiva.
De um lado, há a acusação de genocídio dirigida contra os israelenses; pelo outro, a crítica de antissemitismo contra aqueles que se empenham na causa palestina. Não de hoje, os usos distorcidos do Holocausto envenenam o debate ao causar esse tipo de dano: há anos, Gaza vem sendo comparada a Auschwitz, os israelenses equiparados aos nazistas, a memória do Holocausto é usada fora de propósito. Este grito de "lobo, lobo!" levou a atrasos, confusão e análises distorcidas que foram facilmente exploradas pela retórica política.
Intelectuais respeitados como Grossman, Bartov e Anna Foa usam o termo genocídio; na minha opinião, ainda não podemos falar desse tipo de crime. Na minha experiência como historiador, hoje nos encontramos na mesma situação vivida nos guetos nazistas. Estamos naquele limbo, onde não se pode falar de genocídio, porque até dezembro de 1941 não havia nenhuma ordem da liderança do Reich, e não havia sido elaborado um plano geral de genocídio como o planejado em 20 de janeiro de 1942, durante a Conferência de Wannsee.
Até aquele momento, para os judeus orientais, havia guetos: lugares onde serem trancados, onde eram aplicadas regras extremamente rígidas, onde a comida era escassa, onde o atendimento médico era praticamente impossível, onde morrer por nada era a norma; um lugar "de essência genocida", mas não de genocídio.
Hoje, o interesse de Israel é afastar os palestinos, não os matar. Considerações terminológicas tornam-se secundárias diante da necessidade de intervenção, tanto com o Hamas exigindo a devolução dos reféns, quanto com o governo israelense instando-o a não confundir vingança com justiça.
O imperativo é salvar vidas inocentes
Quanto ao antissemitismo, parece que ninguém possa criticar Israel sem correr o risco de ser tachado desse gravíssimo crime. Esse debate também não começou em 7 de outubro, mas já em 2016, após a promulgação da definição operacional de antissemitismo produzida pela Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA), que foi imediatamente contestada por muitos especialistas.
Nada menos que sete dos onze casos propostos pelo documento da IHRA não dizem respeito a comportamento antissemita contra judeus como um todo, mas descrevem como antissemitismo qualquer pessoa que critique as políticas do Estado de Israel.
A Declaração de Jerusalém sobre Antissemitismo (JDA) se posicionou contra o documento, definindo o trabalho da IHRA como "uma fonte de confusão", "paralisante para a liberdade de expressão" e, como venho denunciando há tempo, "uma distração dos graves perigos do antissemitismo de direita". A declaração da IHRA foi utilizada como arma política por muitos atores, da diplomacia israelense até grupos conservadores. O governo israelense está fazendo o que governos de direita fazem para se defender das críticas: contra-acusa os adversários de serem "anti" seu país.
O Holocausto tem sido há tempo um paradigma de valores, e as palavras em questão têm enorme peso político; os crimes cometidos por Israel levantam infinitas questões sobre o que tem sido universalmente ensinado sobre esses temas, principalmente em Israel.
Sobre Israel, Anna Foa falou de suicídio, Didi-Huberman de "insulto supremo ao seu fundamento antropológico". Essas reflexões não podem ser evitadas; devem ser enfrentadas com franqueza e transparência. A Memória desses eventos, que influenciou as nossas leis, terá que adquirir uma nova roupagem, novas práticas, maior conscientização e, acima de tudo, renovados objetivos para continuar sendo crível para todos: hoje, estamos diante de um enorme fracasso.
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