09 Agosto 2025
"Parece que ninguém explicou a Trump que submarinos equipados com mísseis intercontinentais podem lançar suas ogivas mesmo estando em Tonga, no meio do Pacífico: não há necessidade de aproximação. O fato é que a simples menção dessa possibilidade pelos dois líderes políticos à frente de seus respectivos países deveria deixar insones as nossas noites", escreve Fabrizio Tonello, professor de ciências da opinião pública da Universidade de Pádua, na Itália, em artigo publicado por Il Manifesto, 07-08-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em 9 de agosto de 1945 — quando se completarão oitenta anos — a era do uso das armas nucleares deveria ter terminado com o inútil bombardeio da cidade japonesa de Nagasaki. Até ontem, parecia que realmente seria assim, mas era uma ilusão. Nessas oito décadas, o mundo esteve perto de uma guerra nuclear uma dezena de vezes e, nos últimos três anos, o tabu parece ter sido cancelado. Estados Unidos, Rússia, Grã-Bretanha e França falam abertamente da possibilidade do uso de ogivas nucleares. No entanto, bastaria folhear o livro do historiador ucraniano Serhii Plokhy, "Nuclear Folly", para entender que a humanidade tem sido muito, muito afortunada desde 1945. O caso mais famoso em que nos vimos à beira da catástrofe foi, obviamente, a Crise dos Mísseis Cubanos de 1962: o submarino soviético B-59, que transportava um torpedo com ogiva nuclear, foi cercado em águas cubanas por contratorpedeiros estadunidenses lançando cargas de profundidade. O comandante, sem comunicação com Moscou, acreditou que a guerra havia começado e ordenou o lançamento do torpedo nuclear contra a frota estadunidense. Somente a recusa de seu vice, Vasily Arkhipov, impediu o ataque e suas consequências.
Durante a crise, houve vários momentos em que comandantes dos EUA e soviéticos agiram com base em procedimentos de crise pouco claros. Em outubro de 1962, os estadunidenses não sabiam exatamente quão amplos eram os poderes para o uso de armas nucleares táticas dos comandantes soviéticos em Cuba. Isso tornava plausível a possibilidade de que, na ausência de ordens superiores ou em caso de isolamento do seu comando supremo, pudessem prosseguir com a sua utilização.
Não só isso, durante a crise, os sistemas de radar dos EUA identificaram erroneamente ataques de mísseis soviéticos: por exemplo, houve um alarme falso causado por erro humano para um lançamento presumido contra a cidade de Tampa, na Flórida, em 28 de outubro de 1962. Na mesma época, o teste de um míssil estadunidense da Base Aérea de Vandenberg, realizado sem notificação ao Pentágono, correu o risco de ser confundido pelos soviéticos com o início de um verdadeiro ataque, provocando uma retaliação. Vinte e um anos depois, em 26 de setembro de 1983, os sistemas de radar soviéticos detectaram erroneamente o lançamento de mísseis nucleares dos EUA. A doutrina previa uma resposta automática, o que significaria uma guerra nuclear global. Foi somente graças à sabedoria de um coronel russo que reconheceu o erro no sistema de alerta que a catástrofe foi evitada.
É só isso? Não, crises recorrentes entre a Índia e o Paquistão, ambas potências nucleares, levaram os dois países à beira de uma guerra nuclear, especialmente durante a Guerra do distrito de Kargil, em 1999. A Caxemira continua sendo um foco de guerra sempre ativo: em 2015, o Paquistão ameaçou usar armas nucleares táticas em caso de penetração indiana em seu território. Em 2022, a Índia lançou acidentalmente um míssil supersônico em território paquistanês, levantando temores de que um incidente semelhante pudesse desencadear uma resposta nuclear. Neste ano, ataques a alvos civis e militares por ambos os países criaram um risco concreto de escalada.
Há alguns dias, Dmitry Medvedev, ex-presidente russo, evocou publicamente a possibilidade de um conflito nuclear entre Moscou e Washington, desencadeando uma discussão acalorada com Trump, que anunciou ter ordenado que dois submarinos nucleares estadunidenses se "aproximassem" das costas russas.
Parece que ninguém explicou a Trump que submarinos equipados com mísseis intercontinentais podem lançar suas ogivas mesmo estando em Tonga, no meio do Pacífico: não há necessidade de aproximação. O fato é que a simples menção dessa possibilidade pelos dois líderes políticos à frente de seus respectivos países deveria deixar insones as nossas noites.