05 Agosto 2025
"Na ausência de padres, criar uma Igreja de especialistas pastorais certamente não seria a solução. De fato, poderia enfraquecer a identidade do ministério ordenado, se faltassem as devidas distinções, e alimentar ainda mais um modelo binário dentro da Igreja: não o modelo clero/leigo, mas a dualidade entre uma "Igreja de especialistas", de um lado, e pessoas comuns, do outro. A mentalidade de delegação é o pior vírus do ministério leigo".
O artigo é de Andrea Toniolo, ex-reitor da Faculdade de Teologia do Triveneto, publicado por Settimana News, 02-08-2025.
A edição 1/2025 do boletim informativo do Centro Pattaro de Veneza, "Notas sobre Teologia", apresenta um ensaio de Andrea Toniolo, ex-reitor da Faculdade de Teologia do Triveneto. Diante da crise que a Igreja enfrenta no Ocidente, Toniolo vislumbra uma conversão da figura e do papel do padre, necessária à simultânea conversão sinodal da Igreja promovida pelo Papa Francisco. Trata-se de uma genuína mudança de mentalidade e prática que exige uma recalibração da ação pastoral e dos organismos participativos, a fim de permitir o exercício de uma corresponsabilidade verdadeira e diferenciada entre padres e leigos.
"Queira Deus que não faltem bons pastores em nossos dias; que Deus nos livre de sermos privados deles" (Santo Agostinho, Discurso sobre os Pastores). A oração do Bispo de Hipona é mais atual do que nunca: a preocupação generalizada em nossas terras diz respeito ao declínio drástico do número de ministros ordenados, o que tornará impossível garantir o estado atual da Igreja. A oração de Santo Agostinho, no entanto, não é apenas por pastores, mas por "bons" pastores. Ele não se preocupa com números, mas com qualidade. De qualquer forma, a situação inesperada de uma grave escassez de clero é preocupante não apenas hoje, mas também no futuro, com o risco de se tornar uma obsessão.
Esta situação exige um discernimento teológico cuidadoso, tendo em conta os sinais dos tempos: o que significa uma Igreja com poucos ou nenhum sacerdote? Podemos resignar-nos à ausência de pastores nas comunidades? Podemos vislumbrar um renascimento das vocações num futuro próximo? Que conceito de Igreja e de ministério pastoral devemos conceber neste novo contexto? A figura de um sacerdote diocesano, responsável exclusivamente por áreas pastorais ou por muitas paróquias, pode ainda ser um modelo de vida significativo?
Ninguém prevê o futuro, e a história nos ensina que as previsões sociológicas nem sempre estiveram corretas, mesmo que a demografia deixe pouca margem para dúvidas. Sem colocar dúvidas sobre o futuro, especialmente no campo das vocações (sempre houve momentos de crise e recuperação), é necessário um esforço para imaginar a Igreja do futuro. Não podemos prever o futuro próximo em detalhes, mas somos chamados a preparar o caminho para que a fé se mantenha viva e o Evangelho continue a ser proclamado.
Pelo menos três elementos devem ser considerados: o primeiro diz respeito à ideia de Igreja, o segundo à ideia de sacerdote e o terceiro à ideia de leigo. A reflexão a seguir entrelaça esses três fios.
Comecemos com a afirmação de que a Igreja Católica é impensável sem um ministério ordenado, sem alguém que possa presidir a Eucaristia e, ao mesmo tempo, uma comunidade, pois não pode haver Igreja sem a Eucaristia. Vindo de uma prática pastoral amplamente baseada na quantidade de Missas, isso não significa que simplesmente celebrar a Missa seja suficiente para construir uma comunidade. A pastoral tradicional se baseia nessa ilusão ou pretensão.
A Eucaristia, especialmente hoje, não é mais o ponto de partida, mas o ponto de chegada da fé. A Eucaristia não pode ser compreendida sem o estudo frequente da Bíblia, que prepara a mesa da Palavra, e a Eucaristia não pode ser compreendida sem uma comunidade que cultive relacionamentos, especialmente com os mais vulneráveis — relacionamentos que preparem a mesa do Corpo do Senhor, do pão partido, e tornem a Eucaristia "verdadeira". Se a afirmação teológica de que a Eucaristia faz a Igreja porque contém o DNA do cristianismo é válida, o adágio formulado ao contrário é especialmente verdadeiro hoje: a Igreja faz a Eucaristia, no sentido de que, sem uma comunidade de relacionamentos fundada na caridade, a Missa permanece um rito externo, distante da vida.
Cultivar relacionamentos e ouvir a Palavra são as grandes e verdadeiras ofertas apresentadas ao altar, dando vida à celebração eucarística, que por sua vez se torna alimento e força. Construir comunidades capazes de se relacionar e ouvir exige a contribuição de todos, dada a diversidade das condições espirituais; não basta ter sacerdotes; é preciso valorizar os carismas de cada batizado e identificar ministérios com base nas necessidades pastorais. Esta é a primeira conversão à qual nossas comunidades cristãs são chamadas.
Tendo destacado isso, não podemos esquecer, contudo, que na Igreja Católica, o ministério ordenado só pode ser substituído pelo ministério ordenado; a estrutura sacramental da fé exige que recebamos a salvação por meio de ações e pessoas que representem sacramentalmente a ação de Cristo (a salvação não é mérito nosso, mas nos é dada). Presidir à Eucaristia é responsabilidade do presbítero ou bispo; não pode ser confiada a um leigo ou diácono. Mas como podemos garantir a realidade sacramental da Igreja e da fé com um pequeno número de padres, cada vez mais grisalhos e cansados? O declínio do clero levará ao colapso do papel do padre no ministério pastoral, tornando sua vida e ministério impossíveis.
Por isso, é preciso repensá-la superando a concentração clerical do cuidado pastoral e essencializando o ministério dos sacerdotes.
A segunda conversão diz respeito à ideia e ao papel do sacerdote. Basta recordar o debate do Vaticano II e a história pós-conciliar do ministério sacerdotal para compreender a dificuldade de se concentrar na figura do pastor-sacerdote na Igreja moderna. Este não é um problema teórico, mas prático: diz respeito à maneira como se exerce o ministério, ao estilo de vida, às relações com outros sacerdotes e leigos, e à maneira como se vive a experiência espiritual.
E não se trata de algum ajuste à condição existencial ou pastoral, mas da revisitação de alguns pilares do ministério ordenado, colocando em questão o imaginário, o valor simbólico e social construído em torno desta figura e, em particular, a configuração do “poder” do ministro ordenado.
O ministério específico dos sacerdotes — o da presidência — deve ser concebido e estruturado não como individual, mas como relacional, compartilhado, "sinodal", e a novidade reside na relação com outros sacerdotes e leigos. O Código de Direito Canônico reconhece a necessidade de partilha — em comparação com o Código de 1917, que não mencionava os leigos no cuidado das almas pelo pároco —, destacando a importância da colaboração dos leigos no cuidado pastoral (cânone 519). Os leigos colaboram no cuidado da paróquia: um pároco não governa mais sozinho; ele é responsável por toda a comunidade, mas não sozinho.
Nessa perspectiva, seria importante resgatar a dimensão sinodal e colegial da presidência, em vez da individual. O Código prevê a possibilidade de liderança in solidum com um moderador de uma unidade pastoral ou de múltiplas paróquias (cânon 517), mas não vejo muito sucesso nisso, pois a compreensão da liderança pastoral ainda é fortemente hierárquica e individualista. A compreensão sinodal da Igreja, constitutiva, como o magistério do Papa Francisco reiterou, deve levar a uma revisão jurídica e prática do exercício da autoridade clerical.
O texto final do Sínodo sobre a Sinodalidade (outubro de 2024) denuncia claramente o clericalismo, que nada mais é do que uma distorção do poder sacerdotal, uma patologia. O antídoto para esse flagelo é certamente a prática da sinodalidade, juntamente com o trabalho de formação espiritual, relacional, psicológica e teológica.
O poder é necessário para a missão da Igreja, mas o poder é entendido como a capacidade de amar, o poder do perdão e do serviço, a resistência ao mal, a força da não violência, a capacidade de manter viva a esperança, a capacidade de construir uma comunidade na fé e a coragem e a autoridade da profecia. Seguir a Cristo, o servo crucificado, não significa escolher a fraqueza, a pusilanimidade, a impotência ou a timidez.
Como tudo isso se traduz no estilo de um padre (ou melhor, de vários padres) chamados a presidir?
A estrutura sinodal da Igreja nos permite evitar dois extremos: pensar na Igreja como uma monarquia/oligarquia (o poder está nas mãos de um ou de poucos) ou como uma democracia (a maioria decide por voto). O poder na Igreja pertence somente a Cristo. A Igreja não é uma monarquia nem uma oligarquia, porque o poder não está nas mãos de um ou de poucos; o poder (o mencionado anteriormente) sempre pertence a Cristo; o ministério ordenado O representa sacramentalmente, na forma que Ele nos mostrou. A Igreja também não é uma democracia porque não é a maioria que decide a verdade da fé.
Expressar essa compreensão da Igreja — nem monárquica nem democrática, mas sinodal ("caminhando com") — no papel de presidência não é de forma alguma automático; as práticas pastorais frequentemente se encontram presas entre Cila e Caríbdis, entre o risco de poder concentrado e o risco de mera coordenação. O presidente de uma assembleia eucarística ou conselho pastoral não é simplesmente o coordenador dos fiéis ou aquele que fornece o resumo final, mas sim aquele com a responsabilidade (o poder) de promover a participação ativa de todos no discernimento pastoral. Concluo com uma consideração sobre dois aspectos importantes a serem promovidos ao pensar em uma Igreja com menos clero: o ministério leigo e a colaboração pastoral.
Os ministérios são como diferentes vocações para a evangelização, em três níveis: o do cristão, que participa da missão da Igreja em virtude do batismo; o dos ministérios instituídos e de fato, que inclui aqueles serviços na Igreja que gozam de certa estabilidade e reconhecimento; o do ministério ordenado, com a especificidade da presidência: o ministro ordenado preside a Eucaristia, no sentido de que preside e guia a comunidade; preside a vida de caridade da comunidade, reunindo os vários carismas presentes, promovendo a comunhão.
A valorização dos leigos e dos ministérios laicais depende não apenas da escassez de clérigos (esta é a causa contingente), mas da nova inculturação do Evangelho que, num contexto plural, exige uma pluralidade de vozes. Há muito trabalho de sensibilização a ser feito junto do presbitério, que muitas vezes se esforça para partilhar a responsabilidade pastoral e esquece que os batizados podem fazer muito, mesmo com base apenas no Código: podem administrar validamente o batismo, pregar, catequese, presidir liturgias da palavra e funerais, distribuir a comunhão, assistir a casamentos, expor o Santíssimo Sacramento à adoração, visitar os doentes, administrar os bens e muitas outras tarefas que estão nas mãos dos sacerdotes.
Permitam-me dar um exemplo simples. Muitos párocos estão agora encarregados de inúmeras paróquias com milhares de habitantes. Um padre encarregado de 10.000 fiéis realiza, em média, pelo menos 100 funerais por ano, o que significa que quase um terço do seu tempo anual é dedicado a isso. É um serviço importante e delicado, mas ele não poderá fazer muito mais. Não poderíamos considerar — como está acontecendo em alguns contextos, como a diocese de Bolzano-Bressanone — formar bons leigos para lidar com funerais, liberando parte do clero para se dedicar à formação de catequistas e educadores de jovens?
Se, no contexto italiano, nos empenhássemos mais na promoção de novos cargos ministeriais leigos, um rápido aumento de cargos ministeriais permanentes, devido à escassez de clérigos, acarretaria vários riscos que não devem ser ignorados. Primeiro, existe o risco de que, por urgência, sejam criados cargos com uma perspectiva puramente funcional, "técnica", negligenciando aptidão, preparação, motivação, competência e estilo.
Um segundo risco é a clericalização dos leigos, ou seja, o perigo de confiar aos fiéis leigos tarefas próprias do ministério ordenado (como liderar uma comunidade); o ministério ordenado, como já mencionado, só pode ser substituído pelo ministério ordenado; e, por outro lado, há o risco da "secularização da pastoral", ou seja, o perigo de relegar o sacerdote ao papel de administrador dos sacramentos e do culto, enquanto todas as outras atividades pastorais (anúncio, catequese, pastoral juvenil) seriam confiadas aos leigos.
Na ausência de padres, criar uma Igreja de especialistas pastorais certamente não seria a solução. De fato, poderia enfraquecer a identidade do ministério ordenado, se faltassem as devidas distinções, e alimentar ainda mais um modelo binário dentro da Igreja: não o modelo clero/leigo, mas a dualidade entre uma "Igreja de especialistas", de um lado, e pessoas comuns, do outro. A mentalidade de delegação é o pior vírus do ministério leigo.
Um segundo novo contexto que exige uma reformulação do ministério ordenado é o da colaboração pastoral entre múltiplas paróquias e entidades. Essa nova estrutura, que agora surge em toda a Europa, implica algumas mudanças na forma como concebemos o exercício do ministério ordenado e a relação entre padres e leigos. A nova estrutura pastoral muda efetivamente a identidade e o ministério do pároco: responsável por múltiplas comunidades, o pároco atua principalmente como coordenador de líderes e administrador dos sacramentos. A formação de um padre para múltiplas comunidades e para o cuidado pastoral cooperativo, e de múltiplos padres que lideram colegialmente uma unidade pastoral, representa o futuro de sua identidade e atividade.
Concluindo, somos chamados não apenas a planejar, mas também a mudar nossa mentalidade. O trabalho pastoral no contexto atual e futuro deve ser concebido mais no contexto da "prática representativa", dos sinais (e menos dos números), na consciência, ainda a ser adquirida, de que a Igreja não coincide mais com a sociedade: "E não deveria ser reconfortante apenas pensar assim? A ineficácia que tantos sacerdotes sentem em seu trabalho diário, as muitas decepções, frustrações e falta de perspectiva que agora vivenciam, são vistas sob uma luz diferente. A convicção de que somos chamados "unicamente" a "representar" as coisas que só Deus produz, a dar-lhes visibilidade e experiência, não soa como uma mensagem libertadora que, no verdadeiro sentido da palavra, alivia o ministério de seus fardos, colocando-os sobre o próprio Senhor?" (G. Greshake, Being Priests in This Time).
Considero este artigo, especialmente a segunda parte, altamente questionável. "O ministro ordenado preside a Eucaristia, na medida em que preside e guia a comunidade", afirma o autor. Essa equação errônea é claramente contrária ao Evangelho. Jesus — o Jesus histórico — prescreveu aos seus discípulos uma proibição absoluta de liderança: "Não sejam chamados mestres, porque um só é o vosso mestre, e todos vós sois irmãos. E a nenhum de vós na terra chameis pai, porque um só é o vosso Pai, aquele que está nos céus. E não sejam chamados guias, porque um só é o vosso guia, o Cristo" (Mt 23,8-9). Passagens como esta — e muitas outras poderiam ser acrescentadas — destroem pela raiz qualquer discurso hierárquico dentro da Igreja e qualquer pretensão de alguns de se sentirem ou serem "guias" de outros. Além disso, hoje, a ideia de um laicato relegado a uma posição subordinada em relação aos "líderes" é insustentável, também por razões culturais: na Itália, como em outros países, o acesso à universidade permitiu que uma grande parcela da população se libertasse da "tutela". Hoje, muitos leigos desfrutam de níveis de educação muito superiores aos dos padres. Não me parece que o autor do artigo leve em conta o que o sacerdócio realmente é no Novo Testamento.
Como G. Lorizio afirmou apropriadamente em uma entrevista televisiva que ouvi — mas ele certamente escreveu sobre isso — no Novo Testamento, "é a comunidade que é sacerdócio, é a comunidade que é sacerdotal". A comunidade é um corpo único; não há uma cabeça do sagrado, alguém que a administre e "guie" os outros (e como poderia guiar os outros?). O autor não parece ter refletido sobre o processo histórico de distanciamento das Igrejas do Evangelho: um processo pelo qual alguns se colocaram lentamente à frente da comunidade em nome do sagrado.
Essas coisas não fazem parte da mensagem do Evangelho. Em João 14, Jesus afirma que, se alguém o ama e guarda a sua palavra, o próprio Pai e Cristo virão a ele e farão morada nele. Quem guarda a sua palavra acolherá o próprio Pai em si mesmo. Esta é uma das passagens que explica e justifica a ideia neotestamentária do sacerdócio: todos são sacerdotais, não há casta mediadora (caso contrário, não haveria evangelho, que é precisamente a boa nova que inverte a lógica do mundo, mesmo na sua relação com Deus), porque Deus se fez próximo (Cristo e o próprio Pai) de todos. E é Cristo que se entrega na comunidade reunida que o celebra.
Para aqueles que nada sabem sobre estes temas — e certamente não é culpa do povo de Deus, visto que durante séculos não foi sequer permitido discuti-los — recomendo sempre dois livros: um de Manlio Simonetti ("O Evangelho e a História") e outro de Romano Penna ("Secularidade e Sacerdócio"). A Eucaristia torna todos aqueles que se aproximam do Cálice consanguíneos e plenamente irmãos. No entanto, a partir mais ou menos do final do século II, iniciou-se um longo processo. Isso levou ao nascimento de uma hierarquia sacerdotal e de sistemas de poder baseados no sagrado. Criou-se, assim, uma profunda divisão dentro da Igreja entre o chamado "clero" e o restante, os "leigos": uma profunda cisão que o Concílio Vaticano II tentou remediar (mas não foi fácil e só foi parcialmente possível).
De fato, mudar mentalidades sobre essas questões leva tempo; requer vida, experiência, bem como um estudo rigoroso, livre de uma visão pré-fabricada que, habitualmente, acriticamente e anacronicamente, se projetou na antiguidade. No entanto, os crentes de hoje, como sempre, são chamados a isso também: uma mudança de mentalidade. O início do Evangelho de Marcos fala de "conversão", significando não atos de adoração, mas "metanoia", isto é, uma "mudança de mentalidade". Era escandaloso que um leigo, Jesus Galileu, anunciasse o Reino, se aproximasse dos marginalizados da sociedade e do Templo, questionasse os caminhos da salvação que até então eram considerados válidos, dizendo que, em vez disso, o próprio Pai se aproxima de todos.
PS: Naturalmente, prefiro deixar de lado um comentário sobre algumas passagens do artigo, como a que defende a "estrutura sacramental da fé": uma expressão, no mínimo, ambígua. Vale notar, no entanto, que este artigo, como muitos outros sobre o assunto, silencia sobre a questão da imposição do celibato na Igreja Latina. Isso me parece um silêncio grave. Jesus não impôs o celibato a ninguém; na verdade, escolheu discípulos entre pessoas casadas, como Pedro, e entre os solteiros. A Igreja antiga sempre teve pessoas casadas, mesmo entre os líderes comunitários: a evidência já está no Novo Testamento. Essa imposição, que surgiu muito mais tarde na Igreja Latina, foi amplamente ignorada até a era moderna: um fato que muitos preferem ignorar.
Além deste último ponto, é preciso dizer que hoje, num discurso científico e historicamente correto, a questão da imposição do celibato jamais deve ser ignorada, uma imposição injusta e que nada tem a ver com o sacerdócio. Infelizmente, porém, a confusão reina hoje em dia sobre essas questões. O erro histórico, ou melhor, a confusão, leva vantagem, pois se tornou terrivelmente penoso restabelecer a verdade e explicar como as coisas evoluíram. No entanto, a questão do celibato nunca deve ser omitida, mas sim explicada historicamente pelos historiadores.
O artigo defende uma mudança de mentalidade, mas não consegue transcender a divisão entre clero e leigos. Busca combater o clericalismo, preservando a identidade clericalista dos padres. A contribuição sugere alguns pontos positivos, mas não aborda as raízes doutrinárias e jurídicas que legitimam o clericalismo.
Concordo plenamente. Entre os muitos descuidos maciços visíveis no artigo, o mais óbvio me parece ser a pandemia, com a proliferação exótica de missas online e a consequente perda do senso de comunidade em muitos lugares. Naturalmente, o problema não reside no artigo ou no autor em questão. No entanto, diante de mais uma coletânea de bons votos, que mais uma vez serve para retratar mais uma Igreja ideal-típica, acho legítimo ficar um pouco perplexo: "A Eucaristia não é mais, especialmente hoje, o ponto de partida, mas o ponto de chegada da fé. A Eucaristia não pode ser compreendida sem o estudo frequente da Bíblia, que prepara a mesa da Palavra, e a Eucaristia não pode ser compreendida sem uma comunidade que nutra relacionamentos [...]." Quem sabe.
Sempre me surpreendi com esta lista/classificação de Paulo em 1 Coríntios 12:3. Deus designou alguns na igreja: primeiro apóstolos, segundo profetas, terceiro mestres; depois, milagres, depois dons de curar, ajudar, governar e falar em línguas.
Por que governar está em sétimo lugar na comunidade da primeira igreja de acordo com o pensamento de Deus?