02 Agosto 2025
"Acredito que barrar o debate sobre todos esses temas, que nós, teólogos e fiéis progressistas, consideramos imprescindíveis para a construção de uma Igreja em saída que comece a caminhar em uma direção diferente da tradição, significa colocar um obstáculo ao progresso", escreve José Melero Pérez, professor aposentado graduado em teologia pela Faculdade de Teologia de Barcelona e formado em Psicologia e Geografia e História pela Universidade de Barcelona, em artigo publicado por Religión Digital, 28-08-2025.
“No último editorial desta revista L’Agulla, falando do novo Papa Leão XIV, dizíamos que há uma série de questões pendentes na Igreja, especialmente no que diz respeito à estrutura ministerial (ordenação de homens casados como sacerdotes, ordenação das mulheres, etc.), e no que diz respeito a questões relacionadas ao sexo (contraceptivos, relações homossexuais, etc.), que para esse papa provavelmente serão mais difíceis de enfrentar do que aquelas de natureza social, e que caberá a todos nós, cristãos, continuar a promover. Porque, de fato, também nesses âmbitos há muito em jogo.
Pois bem, para que nós também possamos atender essa tarefa cristã de promoção, como redação de L’Agulla decidimos, há algumas semanas, enviar uma carta a todos os bispos catalães e também espanhóis sobre a questão que nos parece mais fácil de realizar: a ordenação de homens casados.
Aparentemente estava nos planos do Papa Francisco abrir essa porta para as comunidades amazônicas, como consequência do Sínodo que abordou sua situação e necessidades, mas a pressão dos conservadores acabou por refreá-lo. No entanto, esse passo deverá ser dado, não apenas na Amazônia, mas em toda a Igreja.
Precisamos romper a inércia se quisermos fazer crescer uma Igreja que não definhe no mundo em constante evolução como esse em que vivemos. E estamos convencidos de que essa mudança que pedimos poderia ser uma boa sacudida para nos abrirmos todos juntos para outras mudanças necessárias. Sabemos que há muitas pressões conservadoras por parte dos bispos e muito receio de que um passo adiante possa levar a uma ruptura. Mas, de fato, não fazer isso significaria continuar como estamos agora, na situação atual de afastamento de tantas pessoas, começando pelos jovens.
E não podemos adiar, porque quanto mais demorarmos, mais difícil tudo será e mais difícil será superar a situação atual.
Creio ser urgente que a hierarquia leve em consideração a ordenação de homens casados, dada a escassez de vocações sacerdotais, exclusivamente restritas a homens celibatários. Mas essa é uma questão que compete apenas ao Papa, não aos bispos. Além disso, a Igreja encontra-se profundamente arraigada na Tradição, da qual não consegue sair, apesar da pressão exercida pelas forças progressistas. A índole da Igreja é conservadora e até ultraconservadora. Uma Igreja radicada na Tradição é uma Igreja que não caminha ao ritmo marcado pelos sinais dos tempos ou do Evangelho.
A Tradição mantém a Igreja presa em inúmeras questões que não lhe permitem ser uma Igreja em saída, que a impedem de se renovar. O Papa Francisco já havia posto um freio à discussão do Sínodo de outubro de 2024 sobre questões que deveriam ter sido deixadas de lado, considerando-as intocáveis, irrevogáveis e indiscutíveis. Essas questões eram: o diaconato feminino e, naturalmente, o sacerdócio feminino, o celibato facultativo do clero e a pastoral LGBTI+.
A isso devem ser somados os temas que Francisco considerava imutáveis também no décimo dos dez mandamentos que havia se proposto a implementar. Ele o disse com estas palavras: "Não podemos continuar insistindo em questões relativas ao aborto, ao divórcio, ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, à eutanásia ou ao uso de contraceptivos".
Acredito que barrar o debate sobre todos esses temas, que nós, teólogos e fiéis progressistas, consideramos imprescindíveis para a construção de uma Igreja em saída que comece a caminhar em uma direção diferente da tradição, significa colocar um obstáculo ao progresso. Francisco veio nos dizer, e creio que Leão XIV pensa da mesma forma: "A Igreja mantém um casamento indissolúvel com a Tradição e não está disposta a se separar, por mais que insistam aqueles que gostariam de uma mudança de direção, pois isso eliminaria seus traços de identidade preservados por quase dois milênios".