23 Julho 2025
Organizações humanitárias, da Anistia Internacional à Save the Children, assinaram uma declaração conjunta pedindo um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza: "À medida que a fome se espalha, nossos colegas e aqueles a quem servimos estão morrendo. Não podemos ajudar."
A informação é de Chiara Sgreccia, publicada por La Repubblica, 23-07-2025.
Ontem fui ao extremo noroeste de Gaza, a Zikim, buscar farinha. A situação é catastrófica; houve um massacre e voltei sem farinha.
Ou: "Estamos chegando ao auge da fome. No momento, se tivermos sorte, só conseguimos fazer uma pequena refeição por dia, e ela nem é nutritiva. É só para dar algo às crianças. Os mercados estão quase vazios e os preços são exorbitantes. Vejo cada vez mais pessoas desmaiando nas ruas. Está se tornando uma ocorrência comum."
Children in Gaza welcomed their father with hugs and celebrations as he returned home carrying a desperately needed sack of flour amid the ongoing famine imposed by the Israeli occupation. pic.twitter.com/ciGsZAIyz5
— Quds News Network (@QudsNen) July 23, 2025
E novamente: "As crianças dizem aos pais que querem ir para o céu, porque pelo menos há comida lá."
Assim como estes, há dezenas de depoimentos de trabalhadores humanitários retidos em Gaza, que descrevem uma terra exausta pela fome e pelas bombas e uma população sem qualquer esperança de sobrevivência. Esses depoimentos foram reunidos por mais de cem organizações não governamentais que operam na Faixa de Gaza, mas agora incapazes de fornecer qualquer tipo de assistência.
"O sistema humanitário liderado pela ONU não falhou, apenas foi impedido de funcionar. As agências humanitárias têm capacidade e recursos para responder em larga escala. Mas, com o acesso negado, estamos sendo impedidos de chegar aos necessitados, incluindo nossas próprias equipes exaustas e famintas", diz a declaração conjunta assinada pela Anistia Internacional, DanChurchAid, Caritas e Save the Children, entre outras, com o objetivo de instar os governos a pararem de esperar por permissão e agirem agora.
"À medida que a fome em massa se espalha em Gaza, nossos colegas e aqueles a quem servimos estão morrendo. Estamos soando o alarme para permitir que a ajuda vital chegue até eles", diz a longa carta na qual as 113 ONGs apelam aos Estados para "exigirem um cessar-fogo imediato e permanente. Levantarem todas as restrições burocráticas e administrativas. Abrirem todas as passagens de fronteira. Garantirem o acesso a todos em Gaza. Rejeitarem modelos de distribuição controlados militarmente. Restaurarem uma resposta humanitária baseada em princípios, liderada pela ONU, e continuarem a financiar organizações humanitárias. Os Estados devem tomar medidas concretas para pôr fim ao cerco, como suspender a transferência de armas e munições". Porque — enfatizam os signatários — as condições atuais tornam as operações na Faixa insustentáveis, e matar civis de fome como método de guerra é crime.
The Israeli atrocities against innocent civilians, including systematic starvation of over two million Palestinians in Gaza, are making headlines across major UK dailies. pic.twitter.com/EK0JH9NHSw
— Quds News Network (@QudsNen) July 23, 2025
"Todas as manhãs, a mesma pergunta ecoa em Gaza: Vou comer hoje?", explica outro trabalhador humanitário. "Ontem, uma amiga me ligou chorando. O marido dela estava com fome extrema e decidiu ir a um dos postos de atendimento. Ele ficou fora por três dias, e ela não teve mais notícias dele desde então. Minha esposa e eu não podíamos fazer nada além de confortá-la. Mais tarde naquele dia, ela nos contou que ele finalmente havia voltado para casa. Ele havia sido preso e brutalmente espancado. Seu estado era ainda pior do que quando partiu. Graças a Deus, ele está vivo. Tudo isso só porque ele queria alimentar seus filhos", acrescenta outro trabalhador humanitário, descrevendo como, dois meses após o início das operações da Fundação Humanitária de Gaza, a situação ultrapassou os limites da dignidade humana.
Até 22 de julho, segundo dados da UNRWA, pelo menos 1.000 palestinos foram mortos enquanto buscavam ajuda alimentar, e centenas ficaram feridos. Vinte e uma crianças morreram de fome nas últimas 72 horas, segundo hospitais da Faixa de Gaza, enquanto "nos arredores de Gaza, em armazéns — e até mesmo dentro de Gaza — toneladas de alimentos, água potável, suprimentos médicos, itens de abrigo e combustível permanecem intocados, sem que as organizações humanitárias consigam acessá-los ou entregá-los".
In Gaza, one Palestinian has been killed by Israeli forces every 12 minutes in July - according to data compiled by UK charity Islamic Relief - with an average of 119 people killed daily, this month is the deadliest since January 2024.
— Al Jazeera English (@AJEnglish) July 22, 2025
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Como explicam as ONGs em um comunicado que soa um alarme que não pode passar despercebido, os médicos relatam taxas recordes de desnutrição aguda, especialmente entre crianças e idosos. Doenças, como diarreia aquosa aguda, estão se espalhando, os mercados estão vazios, o lixo está se acumulando e adultos estão desmaiando nas ruas devido à fome e à desidratação: "As restrições, os atrasos e o cerco total do governo israelense criaram caos, fome e morte. As distribuições em Gaza chegam em média a apenas 28 caminhões por dia, longe de ser suficiente para mais de dois milhões de pessoas, muitas das quais estão sem assistência há semanas."
Como apontam trabalhadores humanitários famintos, assim como toda a população da Faixa de Gaza, "Em 10 de julho, a União Europeia e Israel anunciaram medidas para aumentar a ajuda. Mas essas promessas de 'progresso' soam vazias quando nenhuma mudança real ocorre na prática". Para os palestinos presos em um ciclo de esperança e dor, a sobrevivência agora é uma miragem: os governos precisam agir; "eles podem e devem salvar vidas humanas antes que não haja mais ninguém para salvar".