A festa litúrgica de Maria Madalena, a primeira testemunha da Ressurreição, convida-nos a também fazer memória do papel das mulheres na igreja
No episódio de hoje, fazemos memória à figura de Maria de Magdala, que é narrada nos Evangelhos de Marcos, Mateus e João, explicitamente como testemunha ocular da crucificação e ressurreição de Jesus.
Após a elevação da celebração de Maria Madalena à festa litúrgica, celebramos hoje, 22 de julho, a primeira testemunha da Ressurreição. Ela foi líder, amiga e a grande Apóstola dos Apóstolos. Apontada como a mulher mais desprezada e mistificada da história cristã, as contradições do patriarcado fazem a história de Maria, que vem de Magdala em busca de libertação. Sua história se conecta à história de todas as mulheres.
As interpretações das escrituras sobre Madalena vão transformando a personagem e dificultando a compreensão plena do anúncio feito por ela. Para a teóloga Lilia Sebastiani, “não se pode falar apenas 'na' história de Maria Madalena porque são várias as histórias que se criam em torno da personagem bíblica, embora muitas delas sejam interpretações de quem não vai de fato na exegese do que está na escritura”.
Maria de Magdala não é nem prostituta, nem esposa de Jesus: ela foi a principal testemunha da Ressurreição e “uma líder feminina que entendeu a missão de Jesus melhor do que os discípulos homens. Como a Igreja, devemos honrá-la como ‘a Apóstola dos Apóstolos’”, defende Christine Schenke.
O Evangelho conta que as mulheres olhavam de longe, de cima do monte, para Jesus na cruz, e, contemplavam, embebidas pelo mistério. São as mulheres que não abandonam Jesus na cruz. E são essas mesmas mulheres que vão ao túmulo e testemunham a ressurreição. E que lá recebem a mensagem do anjo, que diz para que procurem Jesus na Galileia, entre os pobres, os enfermos e os esquecidos. É dada a elas a tarefa de anunciar que o messias está vivo. No entanto, essas mesmas mulheres, aproximadamente setenta, foram apagadas da história pela Igreja.
Embora durante séculos as interpretações acerca de Madalena tenham mudado e sido utilizadas para julgar o papel da mulher na Igreja, os registros são incontestáveis: Maria de Magdala é uma importante mulher líder e testemunha das primeiras igrejas cristãs”. E, “mesmo que nossa modernidade tenha a impressão de que ‘faltam mulheres’ no Novo Testamento, constatamos que Jesus dá a elas um lugar que não possuíam nos outros contextos religiosos”.
Para celebrar Maria Madalena, o IHU promove uma live nesta terça-feira, 22 de julho, às 16h, com transmissão ao vivo no site e no canal do IHU no YouTube. Assista aqui.
Em 03-06-2016, o Papa Francisco elevou a celebração de Maria Madalena a festa. “Lida à luz da tradição da Igreja, a introdução de uma mudança desse tipo na liturgia, especialmente quando apela ao testemunho dos Evangelhos, mesmo que aparentemente pareça ser algo pequeno, na realidade, tem um significado que não deve ser minimizado”, explicou uma nota do Mosteiro de Bose à época da mudança.
“A justa iniciativa do Papa Francisco de elevar Maria Madalena ao status de apóstola é uma leitura sensível e coerente do papel dessa personagem, registrado pelo Evangelho”, assinalou o padre José Cristiano Bento dos Santos, da Arquidiocese de Londrina. Segundo explica, “é uma atitude histórica de reconhecimento da figura de Madalena, não como prostituta, mas como parte integral e fundamental da comunidade dos discípulos de Jesus e protótipo de libertação para os coletivos femininos, que estão dentro e fora da Igreja Católica”.
Independente das interpretações que se possa fazer acerca de Madalena, se sobressai a importância da figura feminina, apesar dos obstáculos e tentativas de apagamento. Bergoglio, ao resgatar a memória dessa personagem bíblica, atualiza esse debate na sociedade e no clero. “O gesto do Papa parece ser uma maneira, talvez, de reconhecer o lugar surpreendente (para a época) que as mulheres ocupavam junto de Jesus, mas, sobretudo, um apelo a um maior reconhecimento delas na Igreja de hoje”. Nesse sentido, a força da presença dessa mulher, que atravessa as épocas e se mantém vívida.
Clique na imagem a seguir para ouvir na íntegra o episódio especial sobre Maria Madalena no IHUCast.