01 Julho 2025
"O caminho trilhado pela Igreja, portanto, parece claro: não basta mais se limitar a denunciar injustiças ou formular apelos genéricos. O que é necessário é um firme empenho com a construção da paz com ações concretas, escolhas corajosas e um testemunho profético contra a cultura das armas, mesmo quando disfarçada de estratégia de segurança", escreve Paolo Rodari, jornalista, em artigo publicado por Il Manifesto, de 27-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Após doze anos e meio de pontificado de Francisco, marcado por um forte empenho nos temas da paz, do desarmamento e da justiça social, a eleição de Leão XIV, o segundo Papa do continente americano, despertou muitas expectativas e questionamentos. Muitos se perguntaram qual direção a Igreja tomaria diante de questões delicadas e urgentes como a paz mundial e a crescente corrida armamentista.
Mas o discurso de Leão XIV ontem no plenário da Roaco esclareceu muitas dessas incertezas, mostrando uma evidente continuidade nos conteúdos com seu antecessor, que o quis em Roma ao seu lado dois anos antes de sua morte, em abril passado. A clara rejeição do recurso à força como solução para os conflitos é central para ambos os pontífices, assim como a denúncia do rearmamento global como fracasso político e moral. O Papa reiterou que nenhuma arma, nem mesmo aquela apresentada como "defensiva", pode construir uma verdadeira paz, porque gera insegurança, alimenta a suspeitas e multiplica os riscos.
O Papa Francisco já havia sublinhado, com seu estilo empático e pastoral, o horror da guerra e a necessidade do desarmamento, convidando a comunidade internacional a trilhar o caminho da não violência ativa e da diplomacia. Ele o fez com gestos poderosos, como quando se ajoelhou para beijar os pés dos líderes sul-sudaneses em 2019 para implorar o fim do conflito civil, ou em seu histórico discurso em Hiroshima, onde declarou: "O uso da energia atômica para fins de guerra é, hoje mais do que nunca, um crime não apenas contra o homem e sua dignidade, mas contra qualquer possibilidade de futuro em nossa casa comum". Ele havia repetidamente denunciado o comércio de armas como "tráfico da morte" e pedido aos governos para "desmilitarizar os corações antes mesmo que as nações".
O novo Papa recebeu esse testemunho. Em seu discurso, condenou a prevalência da força sobre o direito internacional, destacando como a manipulação das emoções, frequentemente alimentada por fake news e propaganda, fomenta divisões e justifica políticas de poder. Acrescentou que "hoje se investe mais na guerra do que na paz", falando de uma "blasfêmia da segurança armada", e apelou por uma mudança radical dos modelos de defesa, que não pode mais se basear nas armas, mas sim na justiça e no diálogo entre os povos.
Sua denúncia tornou-se teológica e moral ao evocar figuras bíblicas como Herodes e Pilatos, símbolos da brutalidade e da indiferença, para descrever o cenário global. Uma poderosa escolha retórica que chama cada um à responsabilidade: não ser cúmplices do sistema que premia o poder e o acúmulo de armas em detrimento da paz e da vida humana.
Francisco também havia encarnado esse espírito de proximidade e concretude. Em 2013, poucos meses após sua eleição, foi a Lampedusa para denunciar a "globalização da indiferença" diante da tragédia dos migrantes. E em 2022, ao receber uma delegação de povos indígenas canadenses no Vaticano, pediu perdão pelo papel desempenhado pela Igreja nas escolas residenciais, lembrando que a paz se constrói restituindo dignidade e escuta os últimos, não com novas armas ou alianças militares.
O caminho trilhado pela Igreja, portanto, parece claro: não basta mais se limitar a denunciar injustiças ou formular apelos genéricos. O que é necessário é um firme empenho com a construção da paz com ações concretas, escolhas corajosas e um testemunho profético contra a cultura das armas, mesmo quando disfarçada de estratégia de segurança.
Em um mundo em que o arsenal militar continua a crescer, em que as guerras são justificadas com falsos pretextos e a indiferença se torna sistema, a voz da Igreja, hoje encarnada por Leão XIV, ressoa com força: o desarmamento não é uma opção, é uma necessidade moral, espiritual e política. Como disse Francisco: "Não se pode falar de paz enquanto se acumulam armas". E Leão retoma o legado com determinação, relançando um apelo radical e incômodo: o futuro será desarmado ou não existirá.