28 Junho 2025
"Uma trajetória que, com uma escrita capaz de simplificar a complexidade dos temas abordados e com a evidência de dados e fatos, leva o leitor até o limiar do abismo em que o mundo corre o risco de afundar: guerras, genocídios, ecocídios, desigualdades, discriminações. O pessimismo gramsciano da razão. Sem perder a esperança, porém", escreve Luca Kocci, jornalista, em artigo publicado por Il Manifesto, 26-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
A salvação, se houver, virá de uma revolução não violenta capaz de construir uma aliança entre uma ciência livre, não subserviente aos poderes econômicos, e uma espiritualidade profunda, comum a todos os seres humanos e não enredada por poderes religiosos que nada têm a ver com o “divino”, seja qual for seu entendimento. Uma salvação que não é individual, mas planetária, que diz respeito a todos os seres vivos e à própria Terra, cuja existência é posta em risco por aquele que se autoproclamou homo sapiens e que, tão pouco sabiamente, transformou “a sagrada morada viva de nossos ancestrais em um depósito de matéria inerte a ser saqueado com base apenas em interesses humanos, ou melhor, apenas de alguns humanos, principalmente – pelo menos até agora – do sexo masculino, brancos, cristãos e ocidentais”.
Essa é a hipótese de A casa nel cosmo. Per una nuova alleanza tra spiritualità e scienza (Em casa no cosmos. Por uma nova aliança entre espiritualidade e ciência, em tradução livre, Gabrielli editori, pp. 157, euro 17), o mais recente livro de Claudia Fanti, jornalista e especialista em movimentos eclesiais e sociais latino-americanos e em ecoteologia, além de colaboradora deste jornal.
Trata-se de mais uma contribuição e uma nova peça para o mosaico composto da espiritualidade pós-teísta, corrente de pensamento filosófico-teológica que se desenvolveu nos últimos anos – estimulante por ser altamente inovadora e, ao mesmo tempo, criticamente discutida até mesmo por alguns expoentes do cristianismo progressista – e que propõe um ponto de virada em relação à compreensão tradicional do “Deus teísta, transcendente, onipotente, pronto a intervir, a socorrer, a julgar”, como escreve a autora.
Hipótese e não tese, porque o livro, construído sobre um rigoroso e profundo cotejo interdisciplinar com estudos de teólogos, filósofos e cientistas "puros" (físicos, astrônomos, biólogos etc.), em vez de fornecer respostas, apresenta problemas e suscita perguntas, questionamentos daqueles que tentam ir sempre mais além, como sugere Tramontana, poema de Eugenio Montale tomado em empréstimo pelo físico e astrofísico Maurizio Busso, que assina o posfácio, para indicar a inesgotabilidade da pesquisa: "sob o azul intenso / do céu, alguma ave marinha passa e segue; nunca para: porque todas as imagens carregam escrito: 'mais além'!".
O texto é desenvolvido por Fanti ao longo de 5C, cinco palavras carregadas de significado que começam todas com a terceira letra do alfabeto: casa, ou seja, planeta Terra, mas também, de forma mais geral, "todo o universo de cujo prodígio fazemos parte"; criatividade, "o nome da nossa sagrada história cósmica"; consciência, como possível fundamento da realidade; conhecimento, entendido não como certeza ou verdade a ser conquistada, mas como "companheiro inseparável do mistério"; por fim, conexão, isto é, a interdependência de tudo com tudo, tanto humano como não humano, que o teólogo estadunidense Matthew Fox — expulso da Ordem Dominicana em 1993 por injunção do então Cardeal Joseph Ratzinger, que considerava suas teses não ortodoxas — define como "lei moral do universo".
Uma trajetória que, com uma escrita capaz de simplificar a complexidade dos temas abordados e com a evidência de dados e fatos, leva o leitor até o limiar do abismo em que o mundo corre o risco de afundar: guerras, genocídios, ecocídios, desigualdades, discriminações. O pessimismo gramsciano da razão. Sem perder a esperança, porém. Não uma esperança ingênua, consoladora, baseada numa espera inerte. Mas uma esperança ativa, como a compreende o grande pedagogo da libertação, o brasileiro Paulo Freire, que a conecta ao verbo esperançar, que ele traduziu como "levantar-se", "construir", "resistir", "unir-se a outros para fazer as coisas de outra maneira". O otimismo da vontade. É a força que anima muitas lutas territoriais, locais, horizontais, espalhadas pelo planeta e que, com sua capacidade de resistir e criar, contribuem para jogar areia nas engrenagens do sistema global de morte. E que o espanhol Santiago Villamayor (estudioso do pós-teísmo, membro da comunidade de base de Almofuentes, de Zaragoza) traduz teologicamente como "internacional da esperança" a serviço da justiça universal.