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IA: quem tem as chaves da programação?

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28 Junho 2025

Tecnologia abre brechas para democratizar a linguagem dos códigos – o “latim da Era Digital”. Mas sem pensamento crítico e transparência algorítmica, o controle da sintaxe é vazio. E inovação continuará sob domínio das elites técnicas e do capital.

O artigo é de Cristian Arão, doutor em Filosofia (UFBA), pesquisador de pós-doutorado (PPGFIL/UnB) e membro do grupo Estratégia Latino-Americana de Inteligência Artificial, publicado por Estratégia Latino-Americana de Inteligência Artificial e reproduzido por Outras Palavras, 26-06-2025. 

Eis o artigo. 

Por algum tempo, ecoou com força um paralelo intrigante: as linguagens de programação seriam o novo latim. A analogia tinha certa sedução. Assim como o latim foi, durante séculos, a língua franca da erudição, da ciência, da religião e da diplomacia na Europa, transcendendo fronteiras nacionais, as linguagens de programação emergiam como o novo código universal. Python, Java, C++, independente da língua materna do programador, estas linguagens permitiam a comunicação com a máquina e a construção de um mundo digital que não conhece barreiras geográficas. Aprender a programar era proclamado como uma necessidade universal, tão crucial para o cidadão do século XXI quanto o latim fora para o estudioso medieval. Era a chave para entender e moldar a nova realidade tecnológica, uma habilidade essencial para decifrar e participar ativamente do futuro.

No entanto, o destino do latim clássico oferece outro espelho, menos glorioso e mais sombrio, para refletirmos sobre o presente das linguagens de programação: o risco da obsolescência, de se tornar uma “língua morta”.

O advento e a ascensão meteórica da inteligência artificial generativa (com modelos capazes de gerar código complexo a partir de instruções em linguagem natural) estão abalando os alicerces daquela visão utópica. Se antes programar era visto como uma alfabetização digital indispensável, hoje surge a pergunta perturbadora: por que aprender a “falar” fluentemente Python se uma IA pode traduzir meus pensamentos em português (ou inglês) diretamente em código funcional?

Assim como o latim deixou de ser a língua viva do dia a dia, da política e da criação literária original, cedendo lugar às línguas vernáculas (italiano, francês, espanhol, português etc.), as linguagens de programação tradicionais enfrentam o risco de se tornarem artefatos de um nível mais profundo, conhecidos e manipulados principalmente por especialistas ou pela própria IA, mas não necessariamente escritos ou lidos diretamente pela maioria dos “usuários” do poder computacional.

A ascensão do código como língua franca

A analogia entre linguagens de programação e o latim clássico não surgiu por acaso. Na última década, consolidou-se uma visão poderosa: assim como o latim unificou o mundo erudito medieval, sendo o idioma da ciência, da diplomacia e da teologia além das fronteiras políticas, os códigos tornaram-se as novas línguas francas da era digital. Esta comparação transcendia o aspecto técnico; refletia uma transformação civilizacional.

A premissa era clara e ambiciosa: programar deixava de ser habilidade restrita a engenheiros para tornar-se competência fundamental para a cidadania contemporânea. Iniciativas globais como a “Hora do Código” e a inclusão de programação em currículos escolares básicos (do Reino Unido ao Brasil) materializavam essa crença. Dominar a sintaxe de uma linguagem de código equiparava-se, na retórica educacional e empresarial, ao domínio do latim para o clérigo ou o acadêmico renascentista: uma chave indispensável para decifrar e participar ativamente do novo mundo.

A analogia entre a programação e o latim medieval fundamentava-se na percepção de sua universalidade transcendente. Os códigos, embora ancorados no inglês como língua franca, não possuem nacionalidade intrínseca. Tal como um tratado em latim circulava e era compreendido de Lisboa a Cracóvia, um algoritmo escrito em código pode ser executado em qualquer máquina, em qualquer país. Essa linguagem técnica suplanta barreiras linguísticas e culturais, gerando um espaço comunicativo globalizado.

Outro paralelo que pode ser feito entre a linguagem de programação e o latim é a ideia de que controlar a sintaxe equivalia a controlar o poder e o conhecimento. Quem dominava a programação detinha as chaves do reino digital – desde o desenvolvimento de aplicativos até a análise de big data. Este poder ecoa nitidamente o monopólio do saber exercido pelas elites medievais fluentes em latim. Idealisticamente, a “alfabetização para o código” prometia democratizar esse acesso outrora restrito.

Além disso, sustentava-se a crença de que a complexidade inerente ao mundo digital exigiria, permanentemente, um alto nível de abstração. Interagir criativamente com a tecnologia demandaria traduzir o pensamento humano em estruturas lógicas rigorosas – loops, condicionais, funções. As linguagens de programação, portanto, cumpririam um papel indispensável como mediadoras formais e especializadas, uma função análoga àquela desempenhada pelo latim na construção da complexa filosofia escolástica.

Esta visão atingiu seu ápice na década de 2010. “Aprender a programar é aprender a pensar” tornou-se um mantra. Grandes líderes tecnológicos e governos defendiam que a fluência em código seria tão crucial para o século XXI quanto a leitura e a escrita foram para os séculos anteriores. O paralelo com o latim não era apenas metafórico; era um projeto sociotecnológico: estabelecer as linguagens de programação como o novo alicerce universal do conhecimento e da ação no mundo digitalizado.

Este consenso, porém, estava prestes a enfrentar um terremoto tecnológico: o advento da IA generativa. A ascensão como língua franca global, tão rapidamente construída, começaria a ser desafiada por uma força que questionava sua própria necessidade universal.

A IA generativa e o espectro da “morte funcional”

O surgimento da IA generativa não é uma simples atualização tecnológica – é uma revolução que desestabiliza a própria necessidade humana de dominar linguagens de código. Ferramentas como GitHub Copilot, ChatGPT e Gemini convertem comandos em português, inglês ou espanhol diretamente em algoritmos funcionais, desafiando o dogma de que a sintaxe de programação seria uma alfabetização obrigatória do século XXI. Este salto reconfigura radicalmente a analogia histórica com o latim: se antes as linguagens de programação eram celebradas como “o novo latim” por sua universalidade, hoje enfrentam o risco de emular seu declínio confinada a círculos cada vez mais especializados.

A promessa da década passada, de que todos deveriam “aprender a codificar” como novo requisito de cidadania, desmorona ante a eficiência brutal dessas ferramentas. Por que memorizar estruturas complexas em Python se um prompt claro em linguagem natural gera soluções prontas? A mediação direta com a máquina, outrora essencial, torna-se opcional para milhões de usuários.

A ameaça aqui não é extinção, mas fossilização funcional. Assim como o latim sobrevive hoje em nichos como o direito canônico ou a nomenclatura científica, linguagens como C++ ou Rust migram para domínios de alta especialização: desenvolvimento de hardware, otimização de algoritmos de IA, ou manutenção de sistemas críticos. Tornam-se instrumentos de uma elite técnica – engenheiros que “conversam” diretamente com a arquitetura profunda das máquinas – enquanto a maioria interage com a tecnologia através do vernáculo natural processado pela IA.

Esta camada de abstração inteligente, porém, traz riscos profundos. A dependência de IA gera opacidade operacional: usuários aceitam soluções sem compreender sua lógica interna. Como observa o filósofo Luciano Floridi, a “escrita distante” (distant writing) aliena o criador de sua criação, esvaziando o significado profundo do ato de programar.

Os perigos são sistêmicos. A atrofia do pensamento crítico ameaça a inovação radical. Nasce aí um mundo onde poucos compreendem os sistemas que todos usam, ecoando a era medieval em que leigos dependiam de clérigos para traduzir textos latinos.

A “morte funcional” do código como língua franca é, portanto, uma metamorfose paradoxal. A programação não desaparece: torna-se infraestrutura invisível, sustentando a IA que a suplanta como interface humana. Seu destino espelha o do latim – não como língua morta, mas como saber sagrado guardado por poucos.

Assim como o declínio do latim levou a uma certa perda de acesso direto aos textos clássicos e ao pensamento da época (dependendo-se de traduções), a dependência da IA para gerar código pode levar a uma compreensão mais superficial de como as coisas realmente funcionam “sob o capô”. A capacidade de depurar profundamente, otimizar de forma criativa ou entender os princípios fundamentais da computação pode ficar restrita a um grupo menor.

Então, a programação é o novo latim?

Sim, no sentido de ascensão e declínio como “língua franca” obrigatória para interagir criativamente com a tecnologia. A IA generativa está se tornando o novo “vernáculo” digital, tornando a sintaxe das linguagens tradicionais menos acessível e necessária para as massas.

No entanto, assim como o latim sobrevive em nichos específicos (direito, biologia, liturgia) e como base etimológica das línguas modernas, as linguagens de programação permanecerão vitais como a fundação sobre a qual a IA opera e como ferramenta essencial para especialistas. Elas evoluirão, mas não desaparecerão.

Da mesma forma que o latim permaneceu nas universidades, na Igreja e na ciência por séculos, as linguagens de programação continuarão sendo essenciais para os engenheiros de software que desenvolvem, otimizam e mantêm os sistemas complexos e as próprias IAs. Elas são a “língua materna” da máquina.

O futuro provavelmente não verá as linguagens de programação como as conhecemos hoje serem faladas (escritas) por todos. Elas podem, de fato, seguir o caminho do latim: transformar-se de língua viva e universal em um alicerce poderoso, mas oculto, dominado por uma casta de especialistas e pelas próprias máquinas que ajudaram a criar, enquanto a humanidade interage com o mundo digital através de um vernáculo muito mais próximo da sua fala cotidiana. O novo latim digital não está morto, mas talvez esteja se tornando uma língua cada vez mais sagrada e técnica, falada principalmente nos altares da engenharia de software e nos circuitos das IAs.

A democratização paradoxal

Por outro lado, é precisamente por prescindir da escrita direta de códigos tradicionais que a Inteligência Artificial realizará o sonho da democratização do poder de programação. Este é um paradoxo central e fascinante da revolução em curso. A promessa utópica da década passada – de que todos deveriam aprender a codificar para participar plenamente da era digital – encontra sua realização, não na massificação do aprendizado de Python ou Java, mas na obsolescência da necessidade desse aprendizado para a maioria.

Assim como a queda do latim como língua franca democratizou o acesso ao conhecimento ao permitir que as pessoas lessem e escrevessem em sua língua materna, a IA generativa está realizando a promessa de democratização da programação justamente por prescindir das linguagens de código tradicionais e permitir que as pessoas “programem” em seu vernáculo natural.

A barreira fundamental à democratização nunca foi apenas a complexidade lógica do pensamento computacional, mas sim o formidável obstáculo da sintaxe das linguagens de programação. Dominar regras precisas, símbolos específicos, estruturas rígidas e lidar com erros de digitação ou semântica punitivos exigia um investimento de tempo e esforço significativo, criando um filtro que excluía muitos. A IA generativa, ao atuar como um tradutor instantâneo e altamente competente entre a linguagem natural humana e o código de máquina, remove essa barreira linguística específica. Ela desloca o requisito essencial: em vez de dominar a “gramática do computador” (a linguagem de programação), o usuário precisa dominar a clareza do pensamento e a capacidade de articular problemas e intenções em sua própria língua.

Essa mudança é radicalmente inclusiva. Pessoas com conhecimento de domínio profundo em áreas como medicina, direito, artes ou educação, mas sem formação técnica em programação, podem agora instruir a IA a construir ferramentas, analisar dados ou automatizar tarefas complexas específicas do seu campo, simplesmente descrevendo suas necessidades em português, inglês ou qualquer língua vernácula. A criatividade e a compreensão do problema tornam-se o ativo principal, não a memorização de comandos em. A IA, ao abstrair a camada sintática, permite que o valor do raciocínio lógico e da vontade criativa flua diretamente para a criação digital, sem exigir anos de estudo especializado em linguagens formais.

Portanto, a democratização prometida não acontece apesar da IA tornar o código tradicional menos necessário para as massas, mas exatamente por causa disso. Ao reduzir a necessidade de fluência em linguagens de programação para interagir criativamente e produtivamente com a máquina, a IA abre o poder da programação a um universo infinitamente maior de pessoas. O “novo latim” digital (as linguagens de código) não precisa ser falado por todos para que todos possam, através do vernáculo natural mediado pela IA, dar ordens, criar soluções e moldar o mundo digital. A IA realiza a democratização não ensinando latim a todos, mas tornando desnecessário que todos o falem para serem compreendidos pela máquina. A chave do reino digital deixa de ser o domínio de uma sintaxe arcana e passa a ser a capacidade de pensar com clareza e articular com precisão – habilidades humanas universais que a IA, paradoxalmente, vem amplificar e tornar operacionais em escala inédita.

Os limites da democratização no capitalismo

Se, por um lado, a IA generativa realiza a promessa de democratização ao traduzir o vernáculo natural em código – desmontando a barreira sintática que reservava o poder computacional a uma elite –, por outro, essa mesma “democratização” não garante uma explosão de criatividade ou autonomia. A tecnologia, sob a lógica capitalista, avança padronizando processos e centralizando controle.

A inteligência artificial generativa, ao permitir que não programadores criem sites, aplicativos ou conteúdos complexos com comandos simples, não liberta o indivíduo – transforma cada pessoa em um operário precarizado de seu próprio empreendimento existencial.

Assim como ferramentas de IA para criação de imagens e vídeos impõe a profissionais das mais diversas áreas a necessidade de adaptação e aprendizado autônomo para produzir seus próprios conteúdos visuais, a programação via linguagem natural exigirá que o professor, o psicólogo ou o pequeno comerciante assumam funções de designer, desenvolvedor e analista de dados, sem redução de suas responsabilidades originais. Não há alívio, apenas expansão das demandas laborais. Esta é a essência da cultura do homem-empresa neoliberal: a suposta autonomia dissolve-se na obrigação de ser arquiteto, operário e gestor da própria sobrevivência – tudo ao mesmo tempo, sem rede de proteção.

Paralelamente, os programadores profissionais enfrentarão uma contradição perversa. A aceleração produtiva trazida pela IA não se traduzirá em redução da jornada ou maior liberdade, mas em compressão do tempo socialmente necessário para o trabalho. Se antes um projeto demandava dez horas, a mesma tarefa agora é realizada em duas – e a resposta do capital não será “descanse”, mas “produza cinco vezes mais”. A produtividade aumentada pela tecnologia converte-se em meta inalcançável, vigilância algorítmica e burnout. O que poderia ser um caminho para o ócio criativo transforma-se em espiral de cobranças.

A “democratização” via IA universaliza não o poder, mas a servidão. Cada avanço técnico que prometia emancipação reforça, na prática, a lógica da autoexploração: mais funções acumuladas, menos tempo para o humano, mais lucro concentrado nas mãos das plataformas que controlam a infraestrutura da IA.

O verdadeiro legado dessa revolução digital não será a criatividade liberada, mas a normalização da exaustão como preço da inclusão, a menos que confrontemos as estruturas que transformam tecnologia em ferramenta de extração de valor.

Conclusão: Por uma democratização real na era da IA

A analogia histórica entre as linguagens de programação e o latim clássico revela um caminho surpreendente: ambas ascenderam como línguas francas do poder e do conhecimento em suas eras, prometendo acesso universal, e ambas enfrentam uma transformação radical diante do surgimento de mediações mais acessíveis. A inteligência artificial generativa, ao traduzir o pensamento expresso em linguagem natural em código executável, realiza uma forma peculiar de democratização. Ela desmonta a formidável barreira sintática que reservava o poder da programação a uma elite técnica, permitindo potencialmente que qualquer pessoa com clareza de raciocínio e domínio de seu vernáculo participe da criação digital. Esta é a promessa sedutora: a chave do reino digital deixaria de ser o domínio de linguagens arcanas para ser a capacidade humana universal de pensar e articular problemas.

Contudo, essa “democratização” ocorre sob a lógica implacável do capitalismo tardio, que tende a cooptar avanços técnicos para aprofundar a extração de valor e a precarização da vida. A promessa de autonomia transforma-se frequentemente na exigência perversa de multifuncionalidade exaustiva, onde o indivíduo torna-se operário de seu próprio empreendimento existencial, acumulando funções sem alívio. Enquanto isso, o poder real e o lucro concentram-se nas mãos das plataformas que controlam a infraestrutura da IA. A universalização do acesso não se traduz, assim, em emancipação coletiva, mas na normalização da servidão digital e da exaustão como moeda de inclusão.

É imediato, é urgente e imperativo lutar por iniciativas que promovam uma democratização verdadeira da programação e da inteligência artificial. Isto exige ir além da mera conveniência oferecida pelas ferramentas de IA generativa. É fundamental combater a opacidade dos sistemas, exigindo transparência nos algoritmos e nos conjuntos de dados de treinamento, e promover modelos abertos (open-source) que evitem a concentração monopolística do poder computacional. Paralelamente, uma educação crítica em IA e computação deve ser priorizada, não focada na sintaxe, mas sim em capacitar as pessoas a compreender e usar a IA como ferramenta para fomentar a criatividade e impulsionar projetos inovadores.

Só assim o potencial emancipatório contido na tradução do vernáculo natural em código poderá superar a lógica predatória que transforma avanços técnicos em novas formas de exploração e alienação. A verdadeira democratização não está na mera substituição do código por comandos em linguagem natural, mas na garantia de que o poder de moldar a tecnologia seja acompanhado pelo entendimento e pelo controle coletivo sobre seus mecanismos e fins.

Leia mais

  • IA, ferramenta da ultradireita? Artigo de Cristian Arão
  • As três funções da linguagem digital e suas consequências. Artigo de Luciano Floridi
  • No começo e no “fim” era o verbo: as implicações da IA na condição humana. Entrevista especial com Lucia Santaella
  • Antropomorfização da Inteligência Artificial: ainda distante da realidade. Entrevista especial com Anderson Röhe
  • ChatGPT, tecnologia e programadores. E o bicho-papão da automação
  • Os próximos desafios da IA ​​generativa - fronteiras éticas. Artigo de Paolo Benanti
  • ChatGPT ou a escatologia das máquinas. Artigo de Yuk Hui
  • Como a IA e o Google ameaçam devastar a web
  • Código aberto e inteligência artificial. Artigo de Manuel Castells
  • DeepSeek e a Transformação da Inteligência Artificial. Artigo de Lucia Santaella, Fabiana Raulino e Kalynka Cruz
  • Inteligência artificial: substituição, hibridização… progresso?
  • “A IA é desenvolvida em sociedades que desvalorizam os pobres”. Entrevista especial com Levi Checketts
  • No pântano cultural. Artigo de Eugênio Bucci
  • Inteligência artificial: um desafio sério. Artigo de Giuseppe Savagnone
  • “As novas tecnologias potencializam o sentido destrutivo e agressivo do capitalismo”. Entrevista com Ricardo Antunes
  • Por uma governança da IA inclusiva, multicamadas e participativa. Artigo de Paola Cantarini

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