26 Junho 2025
Guerra entre Israel e Irã confirma instabilidade extrema do mercado de petróleo e reforça urgência da segurança energética local e renovável.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 25-06-2025.
O mais novo conflito no Oriente Médio mostra que não é “só” o clima do planeta que precisa que os combustíveis fósseis sejam eliminados urgentemente e substituídos por fontes renováveis de energia. A soberania e a segurança energéticas dos países também dependem disso. Assim como as economias nacionais.
Analisemos os últimos dias. O mercado de petróleo global sofreu um baque com a guerra entre Israel e Irã, que contou com a participação dos Estados Unidos – estes dois últimos são grandes produtores mundiais da commodity. Referência mundial de preços, o barril do Brent disparou. Com a ameaça iraniana de fechar o Estreito de Ormuz, por onde passa volume significativo do petróleo produzido no mundo, analistas projetaram que o petróleo poderia chegar a US$ 130 – o dobro dos cerca de US$ 65 do Brent antes da guerra.
Com a escalada do preço do petróleo, os países começaram a fazer contas. O combustível fóssil ainda é a principal fonte energética do mundo, e a maior parte das nações ou não o produz, ou não dispõe de quantidade suficiente para garantir o abastecimento interno. Precisam importar óleo cru ou derivados e ficam sujeitos aos preços do mercado.
De um lado, a dependência preocupa governos quanto ao abastecimento energético. Ainda que nas últimas décadas o mundo tenha visto um aumento expressivo no número de fornecedores de petróleo e gás, o Irã não só é um dos maiores produtores do mundo como é capaz de “barrar” a produção de outros países no Estreito de Ormuz. Isso faz com que as nações tenham de acionar um plano B para receber esses combustíveis fósseis, caso haja algum sobressalto.
E o plano B custa mais caro, obviamente, com base na famigerada lei de oferta e demanda. Assim, por mais que os países consigam garantir petróleo e gás fóssil de outros fornecedores, terão de pagar mais em momentos de escassez. Como esses combustíveis fósseis são usados pelos setores de transportes e energia elétrica, o aumento de seus preços pressiona inicialmente os custos desses segmentos, mas cria um “efeito cascata” sobre outros setores – afinal, não há atividade econômica no planeta que não precise de transporte e de eletricidade. No final, essa conta bate nos consumidores. Uma dor no bolso na certa.
E o Brasil nessa história? O país é autossuficiente na produção de petróleo, mas não tem capacidade de refino suficiente para transformar esse óleo cru em gasolina, óleo diesel e gás de cozinha, por exemplo. Embora seja exportador líquido de petróleo, o Brasil tem de importar esses combustíveis. Assim, fica à mercê dessas flutuações do mercado mundial, como a causada pela guerra entre Israel e Irã.
O conflito entrou na pauta da reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) desta semana. Uma das propostas analisada – e aprovada – no encontro é o aumento da adição de etanol na gasolina, dos 27% atuais para 30%. O aumento do biocombustível no combustível fóssil reduziria os gastos com importação e, assim, evitaria uma pressão sobre os preços da gasolina no país.
O Brasil que criou o Proalcool nos anos 1970 justamente para sobreviver após as duas grandes crises do petróleo naquela época mostra, portanto, que tem alternativas renováveis e mais baratas para prescindir dos combustíveis fósseis. Isso vale também para o biodiesel, que é adicionado ao diesel fóssil.
No entanto, este mesmo país também está ávido por ampliar a exploração de combustíveis fósseis, inclusive em áreas de altíssima sensibilidade ambiental como a Foz do Amazonas e outras bacias da Margem Equatorial, mesmo já sendo exportador líquido de petróleo. E planeja investir em refinarias para diminuir sua dependência de derivados do petróleo, mesmo sabendo que essas plantas são caras, têm margem de lucro pequena e podem se tornar ativos encalhados em pouco tempo, já que o consumo desses derivados deve cair a partir de 2030, tanto aqui como no mundo, como projeta a Agência Internacional de Energia (IEA).
A insanidade não para aí. O mesmo Brasil que tem sua matriz elétrica 90% renovável e dispõe de vento e sol de sobra quer aumentar a quantidade de termelétricas a gás fóssil nessa matriz. Plantas que estarão vulneráveis à intermitência imprevisível dos preços dos combustíveis fósseis no mercado mundial.
Assim, o mais novo conflito mundial dá lições que valem não só para o Brasil, mas para todos os países. Se a urgência das mudanças climáticas não parece suficiente para convencer as nações de que precisamos acelerar a transição energética, que a soberania e a segurança energéticas, assim como as contas públicas e toda a população, sejam motivo suficiente para ampliarem o quanto antes a produção de energia localmente. E que essa energia seja renovável, blindada, portanto, da volatilidade de mercados globais de commodities como é o do petróleo e do gás fóssil.