24 Junho 2025
"Sua imersão em mundos digitais, Leão XIV parece nos dizer, corre o risco de levá-las – mais cedo ou mais tarde – a recorrer à IA também para se perguntarem qual é o sentido da existência ou para perguntar qual o conceito de bem e mal a ser privilegiado, o que obviamente justifica a preocupação generalizada".
O artigo é de Franco Garelli, sociólogo italiano, publicado por La Stampa de 23-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
No discurso proferido pelo Papa Prevost no simpósio de cientistas sobre IA que terminou ontem no Vaticano, é clara a referência à maneira como a Doutrina Social da Igreja se posiciona em relação ao uso da tecnologia. Sua intenção (também evidente na escolha do nome) é seguir os passos do Papa da Rerum Novarum, reafirmando assim a centralidade da questão social para todo o catolicismo e para o mundo inteiro, que ontem (entre os séculos XIX e XX) se referia aos temas do trabalho, da condição trabalhista, da solidariedade cristã, enquanto hoje diz respeito ao desafio lançado à humanidade pela Inteligência Artificial.
Não há sinal de obscurantismo nesses primeiros discursos de Leão XIV sobre as novas tecnologias, não há fechamentos para os desenvolvimentos da ciência e da pesquisa nesses campos. Contudo, o reconhecimento de que elas constituem um "potencial extraordinário para o bem da humanidade" ou de que já trazem benefícios hoje, por exemplo, no setor da saúde, é sempre equilibrado por advertências veementes sobre a necessidade de que não seja "uma mera acumulação de dados", de que a IA não seja identificada com "a autêntica sabedoria". Considerando-as, portanto, "ferramentas a serviço do homem", capazes de promover "autêntica igualdade".
Em suma, para a Igreja, os processos tecnológicos estão sempre "sob especial observação", pelo entusiasmo que criam e pelas possíveis distorções que desencadeiam. Um uso distorcido da ciência e da tecnologia pode alimentar uma nova ideia do humano, uma vontade de poder que rompe o antigo equilíbrio entre homem e tecnologia, onde o primeiro não é mais o senhor da situação. Daí o posicionamento da Igreja na primeira fila (junto com grupos de outras sensibilidades culturais) ao lembrar a todos para "continuar sendo humanos", não perder essa identidade única e preciosa.
Uma identidade ameaçada, por exemplo, pelo "novo capitalismo de vigilância", pelo receio fundado de que os traços de conhecimento disseminados na internet permitam que centros de poder oculto controlem e direcionem nossas escolhas e existências. A apreensão também se estende à digitalização acelerada, que além de produzir situações de trabalho cada vez mais abstratas e "desumanas", também apresenta – como sabemos – os casos de trabalhadores que são demitidos em decorrência de um algoritmo. A Igreja, no entanto, dirigiu seus juízos mais incisivos ao transumanismo, o movimento científico, cultural e tecnológico que – graças a possibilidades técnico-manipulativas cada vez mais sofisticadas – visa não apenas reduzir o sofrimento e melhorar as capacidades físicas e cognitivas humanas, mas também superar os atuais limites biológicos e modificar a condição humana. A preocupação em relação à IA certamente não atinge esses níveis, mas para a Igreja a cautela é imprescindível, assim como o estudo aprofundado.
Posições aprofundadas sobre o tema da IA são precisamente o que todos esperam agora do Papa Prevost, dada a relevância social que hoje se reconhece a esse fenômeno e considerando sua formação científico-matemática. Há rumores de que ele já nomeou grupos de especialistas para trabalhar em vista de sua primeira encíclica, que deverá ser dedicada a esse tema, talvez a ser revisada durante as "férias" de agosto no redescoberto Castel Gandolfo. Enquanto isso, seus discursos desses últimos dias contêm dois pontos que despertam a curiosidade pública sobre esses temas. O primeiro é a referência que ele fez à Inteligência Artificial "generativa" (identificada na pesquisa em saúde), que, portanto, evoca a ideia de que também existem outros tipos de IA, cujo aprofundamento torna a reflexão da Igreja mais exigente, entra no mérito de questões complexas, não se limita a enunciar princípios éticos básicos e, portanto, poderá esclarecer melhor tanto os fiéis quanto os homens de boa vontade que aguardam uma sua palavra sobre um tema tão decisivo e complexo. O segundo ponto diz respeito ao impacto do fenômeno nas novas gerações, também destacado pelo Papa. Sua imersão em mundos digitais, Leão XIV parece nos dizer, corre o risco de levá-las – mais cedo ou mais tarde – a recorrer à IA também para se perguntarem qual é o sentido da existência ou para perguntar qual o conceito de bem e mal a ser privilegiado, o que obviamente justifica a preocupação generalizada.