23 Junho 2025
Cientistas enfatizam que a transição energética é fundamental para combater a crise climática e seus impactos, como a fome e as desigualdades.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 23-06-2025.
Mais de 250 cientistas de 27 países assinaram uma carta entregue na última 4a feira (18/6) ao embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, pedindo que o Brasil inclua a eliminação dos combustíveis fósseis na agenda da Conferência do Clima de novembro. O documento, endereçado ao presidente Lula, destacou as evidências científicas sobre a importância do abandono dos combustíveis fósseis no curto prazo para evitar um aquecimento global acima da meta de 1,5oC definida pelo Acordo de Paris.
“Esses impactos climáticos irão apagar décadas de progresso no desenvolvimento e tornarão mais difícil, senão impossível, reduzir as desigualdades, aliviar a pobreza e acabar com a fome. Acreditamos que compartilhamos esses objetivos com você”, afirmou o documento.
Os cientistas enfatizaram que a transição energética é fundamental para combater a crise climática e seus impactos, como fome e desigualdades. Eles pedem que Lula use seu prestígio internacional e a liderança da COP30 para priorizar a eliminação dos fósseis nas negociações de Belém.
“O Brasil já é um líder em energia renovável, com quase 90% de sua eletricidade produzida com fontes limpas. O país também possui uma vasta riqueza natural – florestas, rios, biodiversidade – que pode ajudar a ancorar uma mudança global rumo a um futuro mais justo e resiliente. Com sua liderança na COP30 e no BRICS, o Brasil tem a oportunidade de definir o que significa ser um líder climático no século XXI e juntar outros países nessa missão”, pontuaram os cientistas na carta.
O pesquisador brasileiro Paulo Artaxo destacou que a ciência é clara: é preciso ação forte contra as mudanças climáticas, começando pelo fim dos combustíveis fósseis. A carta busca apoiar Lula com embasamento científico para convencer outros líderes globais.
Já Bill Hare, cientista responsável pela entrega do documento, criticou as contradições do Brasil, como o leilão de petróleo na Foz do Amazonas. “O leilão brasileiro – apelidado de ‘do fim do mundo’- abriu a bacia amazônica para exploração de petróleo e gás. Esse desenvolvimento desastroso ocorre bem no meio de negociações climáticas cruciais da ONU em Bonn, das quais o Brasil participa como futuro presidente da COP”, disse.
((o)) eco publicou a carta na íntegra, em Inglês. Exame, Folha, Pará Terra Boa e Um Só Planeta, além de Inside Climate News e Economic Times, também repercutiram o documento.
A tentativa de incluir temas como financiamento climático e medidas unilaterais travou os primeiros dias da Conferência de Bonn, reacendendo o temor de um novo fracasso como o da COP29 em Baku, onde países em desenvolvimento saíram insatisfeitos com a proposta de financiamento. Liderados pela Bolívia, os grupos Like-Minded Developing Countries (LMDC) e G77+China pressionaram pela pauta, contrariando a recomendação do presidente da COP30, André Corrêa do Lago, que pediu foco em “ampliar ambição e implementação” e evitar temas polêmicos.
Após intensos debates, os assuntos não entraram na agenda oficial, mas serão discutidos ao longo do evento, com o financiamento climático seguindo para consultas até a COP30. Especialistas alertam que o impasse pode persistir em Belém, já que os países em desenvolvimento não aceitarão ser ignorados, enquanto a presidência brasileira busca evitar divisões para restaurar a confiança nas negociações climáticas. As informações são do Observatório do Clima.