14 Junho 2025
"Os tantos sírios que testemunham ainda tanto amor, carinho e paixão por ele, dizem-me que sobre isto é preciso ainda escavar. Por isso, continuo a seguir os rastros da sua história, que resume em si toda a indizível dor síria, objeto da 'indiferença' de tantos. Não se trata de não se resignar: a história de Paolo é a história do povo sírio, expulso por Assad e sequestrado pelo ISIS. Talvez saberemos a verdade quando o tormento sírio tiver fim", escreve Riccardo Cristiano, jornalista italiano, em artigo publicado por Settimana News, 01-01-2025.
Assassinato pelo ISIS ou vendido a Assad? Morto em 2013 ou seis anos depois? Enquanto circulam rumores sobre a possível localização do corpo do Padre Paolo Dall'Oglio, desaparecido na Síria em 29 de julho de doze anos atrás, Riccardo Cristiano organiza os elementos de um mistério que ainda não encontrou solução.
Batalhas ideológicas e indicações de pistas, mas também desorientações e, como sempre, o cheiro do dinheiro: esses são os ingredientes do emaranhado de falsidades que abundam na dolorosa e intrincada busca pela verdade sobre o Padre Paolo Dall'Oglio, e, portanto, sobre o que aconteceu em 29 de julho de 2013, quando seus rastros se perderam em Raqqa, na Síria.
Ninguém afirmou oficialmente que ele foi sequestrado pelo ISIS, como parece óbvio, mas os militantes islamistas esta ação nunca a reivindicaram. No entanto, o ISIS sabia bem como se promover com sequestros, e a captura de um “infiel” – como certamente teriam definido Padre Dall'Oglio – para eles podia ser uma macabra ocasião de projeção mundial. Mas não a usaram. É o primeiro fato que raramente se cita: acredito que o temiam, pela sua enorme popularidade, sobretudo entre os sírios de fé islâmica.
As imagens de sua chegada a Raqqa, naquele tempo a única cidade livre do regime e com um autogoverno democrático praticado pelos “comitês de coordenação local”, demonstram o entusiasmo de muitíssimos pela sua presença, além da nitidez da distância do ISIS, fechado no seu quartel-general, de onde em novembro atacaria e derrotaria os comitês e o Exército Livre Sírio. Também por isso tornou-se legítimo suspeitar que o tivessem matado, ou vendido, talvez ao regime de Bashar al-Assad com quem tinham torpes laços.
Em um livro publicado anos atrás na França, em língua árabe pela Brocar Press, Maabad al Hassun, que combateu contra o ISIS, escreveu que havia inclusive um funcionário dos serviços de Assad com um escritório todo seu no quartel-general do ISIS em Raqqa, aquele onde desapareceu Dall'Oglio. É uma afirmação sua, não mais verificável e que, de qualquer forma, não surpreende, se considerarmos que as grandes batalhas do ISIS foram contra os opositores de Assad, também em Raqqa, poucos meses depois do sequestro do Padre Paolo, quando o ISIS conseguiu se impor com a violência, fazendo dela sua capital.
Mas bem antes desses eventos, Dall'Oglio quis a todo custo se dirigir ao quartel-general do ISIS. O que o impulsionou não foi objeto de pesquisas; bastaram as palavras de circunstância com que ele mesmo havia explicado que queria falar com os chefes do ISIS para obter a libertação de alguns reféns. Era uma tese de fachada. A muitos amigos, entre os quais eu mesmo, Padre Paolo, com tons graves, havia escrito pouco antes de 29 de julho de 2013 que havia “aceitado” buscar um negociado com o ISIS. “Aceitado”... Sua tese de fachada convenceu, e logo se tornou importante entender o resultado de seu desaparecimento: o mataram? A tese de que tivesse permanecido vivo por muito tempo pareceu sempre menos plausível.
A dificílima e meritória busca da verdade, dos prováveis assassinos de Paolo, trouxe à tona pistas sobre as quais investigar: mas percebi um risco; simplificar. Os dois campos de investigação, ISIS e regime, não podem ser nitidamente separados. Porque o ISIS não é um fruto da Primavera, mas sim uma doença produzida contra ela por tantos horrores. Tratava-se então, no caso, de entender a lição de Dall'Oglio, que falou da “obscura cloaca” que envolvia ambientes poluídos como os do terrorismo: lá dentro se misturavam serviços desviados, tráficos de droga, de armas, interesses de potências estrangeiras, ao lado, obviamente, de pulsões facilitadas pela deriva desumana dos fatos e por ideologias doentias.
Avesso, não certamente um ingênuo que não havia entendido em qual covil de víboras havia se introduzido em 29 de julho de 2013, Padre Paolo poderia ter nos explicado tantos desdobramentos da obscura cloaca na qual havia entrado, sabendo muito mais, ao menos do que eu. Não o digo porque sempre o quis bem, como um irmão se olharmos para a certidão de nascimento, como um pai se olharmos para o que me fez entender. Mas porque ele mesmo me disse, ao telefone, pouco antes de partir para Raqqa, no final daquele tremendo mês de julho de 2013.
Ele se encontrava em seu mosteiro de Sulaymanya, no Curdistão iraquiano, ou seja, junto a esses curdos que já em 2012 o haviam ajudado a entrar clandestinamente na Síria de Assad, poucos meses depois que o regime o havia expulso acusando-o de toda infâmia. Realizava um trabalho precioso para a estação televisiva Orient TV, na qual confrontava expoentes de todas as almas sírias. As reportagens desse programa são, a meu ver, o seu verdadeiro testamento: o seu compromisso concreto, físico, pela reconciliação dos sírios, curdos e árabes, islamistas, laicos e pios, modernos e conservadores.
Naquele dia, Padre Paolo, falando-me ao telefone enquanto observava os montes do Curdistão iraquiano, disse-me que estava para explodir tudo. Era o verão de 2013: “A guerra envolverá novos sujeitos, as chamas se propagarão da Síria, chegarão ao Iraque, envolverão os curdos e, portanto, outros. Tudo vem abaixo”. Em junho de 2014, no ano seguinte, o ISIS conquistaria Mosul, expulsaria os cristãos, massacraria os yazidis. Eu não imaginava. Ele talvez sim, mas me impressionou muito o seu alarme, porque eu sabia que Padre Paolo nunca falava ao acaso.
Vários anos depois, soube que Mohammad al Haj Saleh, autoridade da família que o hospedou em Raqqa até o dia do sequestro, queria finalmente falar do país europeu onde havia encontrado refúgio, podendo finalmente contar sua verdade. Não hesitei um momento e o chamei. Mohammad al Haj Saleh me disse que acompanhou Padre Paolo ao quartel-general do ISIS na manhã de 29 de julho de 2013 e lhe perguntou por que ele deveria entrar e ser recebido: “Paolo, quem te faz fazer isso?”. Padre Paolo lhe disse seu segredo só depois de obter o juramento de que ele manteria silêncio: “Levo uma embaixada dos líderes do Curdistão iraquiano para os chefes do ISIS: não posso me furtar, por nenhum motivo no mundo”.
Ele havia entendido que era a última chance para evitar o desastre. Seus relacionamentos com os curdos eram conhecidos, eles o haviam ajudado a entrar clandestinamente na Síria poucos meses antes, e ele os defendia denunciando as ações do ISIS contra eles. Portanto, os relacionamentos, a confiança, existiam. E então, os líderes do Curdistão iraquiano, a quem mais poderiam confiar uma embaixada para seu pior inimigo? Aos turcos? Poderiam talvez confiar neles? Sempre me pareceu plausível que escolhessem Padre Paolo porque era o único confiável e também o único que, sem traí-los, arriscaria a vida pela paz. Portanto, não digo que Mohammad al Haj Saleh me disse toda a verdade: digo que não entendo por que ele teria que mentir. Seu relato sempre me pareceu plausível e importante.
Essas lembranças me fazem olhar com distanciamento para a suposta contenda, o ISIS o matou ou Assad o deteve? O ponto que assim escapa é que estamos falando do único homem que havia entendido, que tinha em seu coração a consciência do risco iminente para tantos, dos cristãos de Mosul aos yazidis, a tantos muçulmanos iluminados indisponíveis à escuridão doutrinária do ISIS. O discurso é, portanto, muito maior. O ISIS certamente desempenhou um papel nesta tragédia, talvez não o único, porém.
Ao longo do tempo, no lado do ISIS, justamente o mais investigado, surgiram relatos de expoentes da organização que teriam visto sua eliminação. Me interessaram todos, mas me impressionou um relato muito bem construído, sobretudo psicologicamente: teria sido um rapazinho a matar o Padre Paolo, imediatamente, por uma discussão. Deixado sozinho com este jovem, Padre Paolo não lhe teria obedecido, dizendo conhecer o Alcorão melhor que ele: daí a reação, o disparo, a morte. Um filme perfeito: qualquer um que tivesse encontrado uma vez o Padre Paolo o teria reconhecido neste relato. “É ele!” Eu não creio que esses grupos funcionem assim e não creio que Paolo fosse um ingênuo. Sabia com quem tinha a ver, não era Alice no País das Maravilhas.
Depois, o jornal libanês do Hezbollah, Al Akhbar, fez vazar outra tese: supunha que agentes dos serviços italianos teriam até mesmo encontrado Paolo em pessoa, no deserto, por horas. O que se queria fazer entender? Que se pedia um resgate, talvez para dificultar uma possível entesa. Tudo isso me voltou à mente quando o mesmo jornalista, sempre no Al Akhbar, em 2019, nos tempos da batalha final contra o ISIS, a de Baghouz, no Eufrates na fronteira com o Iraque, escreveu que Dall'Oglio estava prestes a ser libertado em uma troca de reféns: libertação sua e de outros dois ocidentais em troca do salvo-conduto para alguns figurões do ISIS. Ao escrever isso, pretendia-se fazer a troca fracassar? Não sei.
Pessoas qualificadas me disseram para não acreditar que Paolo estivesse vivo. Talvez tenham razão, mas permanecem os desvios, as mentiras, as calúnias. A encruzilhada voltou, assim, à do início: morto pelo ISIS ou prisioneiro de Assad? A notícia de que em 2019 ele estava em Baghouz convenceu poucos. Assim, voltaram os relatos de sua morte, por parte de um emir ou de um rapaz.
Por outro lado, porém, registrei indicações muito circunstanciais, que atestam, com base no conteúdo de um banco de dados acuradíssimo, como o do VDC (Violations Documentation Center), o trânsito de Paolo nas prisões de Assad, com data de sua entrada em um presídio de segurança máxima.
Era um banco de dados com centenas de milhares de registros, que não está mais disponível online, depois da abertura das prisões sírias: a página com seu nome tinha este endereço: bit.ly/2McWMb3. Hoje posso dizer que fui ajudado a encontrá-la por um importante magistrado estrangeiro empenhado na reconstrução dos crimes de guerra. Vi a data em que, segundo esse banco de dados, Padre Paolo entrou em um presídio dos Assad. Não a recordo mais, mas era de meses posteriores à sua desaparição. E isso tem um grande valor. Indicaria uma possível “cooperação”. Uma cessão?
Não pendo para uma tese. Mas também não separo os dois campos com nitidez, muito pelo contrário. Digo que não se deve perder de vista a história verdadeira, a da escolha do Padre Paolo. Considero não plausível que esteja vivo, mas não excluo totalmente, infelizmente, que ainda em 2019 pudesse ser usado como refém, ou moeda de troca.
O verdadeiro ponto para refletir, para se orientar, permanece para mim o dos motivos que o levaram a ir ao inimigo: a declaração de Mohammad al Haj Saleh não nos diz o nome de quem o matou, mas nos diz outra coisa: um dos motivos pelos quais Paolo – segundo o que ele afirma que o próprio Dall'Oglio lhe disse – foi ao ISIS. Podem ter existido outros, sei que se fala de outras intenções suas. De qualquer forma, um observador muito atento me disse que seu próprio retorno clandestino à Síria, pela segunda vez, era para o regime de Assad um desafio intolerável. Acredito que também isso possa ter influído em seu destino. É preciso entender.
As vozes sobre o Padre Paolo nos últimos anos parecem ter diminuído. Mas em 2019 os Estados Unidos ofereceram 5 milhões de dólares como recompensa para quem fornecesse notícias certas sobre o destino de cinco religiosos desaparecidos na Síria, entre os quais, além de dois bispos, figura também Dall'Oglio.
Aqui poderíamos encontrar uma dobra através da qual olhar para o que aconteceu nos dias passados. Como é sabido, os curdos ainda hoje, com o apoio dos americanos que, porém, tendem a sair de cena, controlam os campos e os prisioneiros, comuns e de excelência, do ISIS. De todo este trabalho enorme, que diz respeito a milhares de pessoas e alguns “pezzi grossi”, sabe-se muito pouco. Mas esta é a realidade.
Agora aconteceu que aquele que parece ser um amigo de um ex-emir do ISIS, que se encontra sob o controle dos curdos, escreveu nas redes sociais que os curdos teriam encontrado em Raqqa uma fossa com alguns corpos e um cadáver pertencia a um homem muito alto. Os curdos teriam enviado ao local uma sua equipe, que teria identificado o local e efetuado as coletas. Acredito que, divulgando essas “informações”, ele tenha relatado o que seus interlocutores lhe terão transmitido: “O tal emir do ISIS falou, revelou aos curdos o lugar da sepultura do Padre Paolo e eles mandaram de Qamishli (capital da região autônoma dos curdos sírios – ndr) uma equipe ao lugar indicado”.
Ele difundiu a notícia vários dias antes que se tornasse de domínio público através das declarações do bispo armênio-católico de Qamishli, monsenhor Antranig Ayvazian, que a avalizou.
Os curdos, porém, não confirmaram. Fontes confiáveis, aqueles que realizam as pesquisas dos desaparecidos e das fossas comuns na Síria, desmentiram. Quem diz ter dado aos curdos a indicação, a “dica”, não poderia estar interessado em tentar de alguma forma alcançar a recompensa? Não tenho certezas, digo apenas que se deveria investigar, entender, perguntar, verificar e alargar o discurso. Porque a verdade sobre Paolo pode também ser arriscada. O seu corpo tem evidentemente um valor, sagrado, como a sua história.
Trata-se de saber se ele morreu e onde está eventualmente o seu corpo, mas também quem são os verdadeiros responsáveis pela sua morte e os seus motivos. Eu não acredito no altercado. Se estava levando uma embaixada dos curdos, o ISIS poderia ter pensado que, matando-o, faria entender que a oferta era recusada, sem que houvesse uma testemunha deste recusa. E outras suas possíveis pesquisas? Também isso poderia ter influenciado. Resta o fato de que provavelmente um homem se moveu, por pedido, para evitar o pior.
“Conter o mal!”: era nisto que o Padre Paolo pensava enquanto ia para Raqqa? Ele, por todos definido irruente, pensava em conter, parar, salvar o salvável? Sobre este fundo está a minha convicção: o seu foi um verdadeiro martírio e a ideia de que tenha ido pedir para libertar uma ou duas pessoas queridas não me basta: por que teriam de o escutar? Aos meus olhos havia um esforço enorme na sua ação, para aquele contenimento do mal em nome do qual poderia ter-se oferecido mensageiro, depois de ter invocado o direito dos sírios a defenderem-se de quem os queria exterminar.
A agência Reuters, na noite de 29 de julho de 2013, dando a primeira notícia do seu desaparecimento, citou Abdel Razzaq Shlas, expoente de primeiro plano na Raqqa de então, para quem as denúncias de Dall'Oglio de massacres de curdos em Tel el Abiad tinham enfurecido os líderes do ISIS. Eu não considero que a de Mohammad al Haj Saleh seja toda a verdade, mas também não creio que seja uma mentira: talvez houvesse também algo mais na sua cabeça, nos seus pensamentos, e deveria ser apurado falando com as testemunhas antes que desapareçam.
Os tantos sírios que testemunham ainda tanto amor, carinho e paixão por ele, dizem-me que sobre isto é preciso ainda escavar. Por isso, continuo a seguir os rastros da sua história, que resume em si toda a indizível dor síria, objeto da “indiferença” de tantos. Não se trata de não se resignar: a história de Paolo é a história do povo sírio, expulso por Assad e sequestrado pelo ISIS. Talvez saberemos a verdade quando o tormento sírio tiver fim.